John Waters

A batalha pela razão humana

Artigo de John Waters sobre a intervenção de Javier Prades no Meeting 2012, "O homem é relacionamento com o infinito"
John Waters

É emocionante ver um homem profundamente envolvido em uma luta contra as forças da cultura, determinado a decifrar e resolver e superar os paradoxos do autoconhecimento, os limites da linguagem e as superestruturas da razão convencional. Ver esta luta em ação, não em uma torre de marfim ou como uma tentativa de dar um novo passo no jogo do pensamento intelectual, mas como um esforço apaixonado para ver o real e encontrar palavras novas, concretas e contemporâneas para descrevê-lo é profundamente comovente. E é isso que eu senti ao assistir e ouvir o meu amigo Javier Prades Lopez sobre o tema do Meeting 2012 “O homem é relacionamento com o infinito”.
Nós não lutamos apenas por nossas vidas, mas por uma vida verdadeira, pela possibilidade de uma vida que seja mais do que uma existência atormentada e vazia. Não só para nós, também para nossos filhos, os filhos dos nossos amigos, nossos pais, nossos irmãos e irmãs.
Durante a intervenção de Prades, pensei muito em minha mãe, em seu leito, na Irlanda, fraca e confusa após ser afetada por uma doença há um mês. Ele não tocou nesse assunto e, na verdade, ela teria dificuldade em entender o que ele disse. Mas o que vi foi um homem que lutou pela vida de minha mãe, pela certeza do que ela precisa agora, para renovar e fortalecer o ar que respiraramos agora. Pensei na minha filha, no caminho para casa após o Meeting, que volta a uma cultura que suga a vida de seus pulmões, substituindo a inocência pelo cinismo e pela dúvida.
Prades é um soldado que luta por todos nós, que tem como alvo a estupidez de nossa cultura, apresentada como sofisticada, mas que nos ameaça sufocar. A arma de Prades é a razão, uma razão que não é separada do mundo que ele descreve e critica, mas íntima com ele, que fala a sua língua, como um homem fala com outro. Ele vê a banalidade no coração da capacidade coletiva de aprender, mas vê também sinais de uma tentativa de regeneração no trabalho de músicos e escultores. Ele denuncia, sim, mas também anuncia. Perdemos o desejo de contar grandes histórias, diz ele, mas não o desejo dessas histórias, nem sua necessidade. A tragédia da nossa situação é que, talvez, em nossas tentativas de contornar a pobreza da nossa cultura, reduzimos nossas próprias perguntas e assim nos fechamos.
Prades cita escultor espanhol Eduardo Chillida: "O horizonte é a pátria de todos os homens". Esse horizonte é expresso em uma palavra: conhecemos a Cristo.
A prova disso é evidente: temos o desejo de justiça, de verdade, de significado, a nostalgia que sentimos de algo que não encontramos na realidade cotidiana, uma angústia que nunca se aplaca. Estes são os componentes do motor da locomotiva humana que nos empurra em direção ao Mistério.
Temos também o testemunho dos Apóstolos que colocaram os olhos no Mistério que se fez carne e nos deixou documentos que podemos avaliar confrontando com nossa experiência, nossos desejos, nossa própria vida. Ouvir Prades, senti inveja daqueles homens que olhavam a cada dia para o Infinito e para o qual, como resultado, tudo se colocava em sua verdadeira perspectiva. Pensei na luz e na escuridão da sua jornada com ele, culminando com o dia em que Cristo ressuscitado, o "estranho", se juntou às fileiras de desconsoladas e desesperadas, permitindo que respirassem novamente. Naquele momento, o ponto de fuga tornou-se o fato mais fundamental, passando de um enigma para a afirmação definitiva do glorioso destino do homem. Cristo vem a nós do outro lado do mar, primeiro como um ponto no horizonte, então, como um homem em um barco que sobe para abraçar-nos, a novidade última que desejamos ardentemente, que mais esperamos.
E quando seguimos os conselhos e instruções do recém-chegado, somos transformados de uma forma que corresponde muito mais plenamente do que imaginávamos possível pelo desejo que nos fez seguir adiante. Começamos a conhecer o infinito como misericórdia no presente e nos reconhecemos como criaturas, como uma promessa de vida eterna, não por pura esperança, mas a partir de um conhecimento.
Prades ilustra seu caso com cuidado. Parece que houve um tempo em que esses conceitos eram mais fáceis, mas agora, preso em uma lógica gerada a partir de si, o homem é cada vez mais problemático, reduzindo a promessa final para algo como um poema de consolação. Talvez temendo uma decepção, nós nos preparamos para o pior e comemos a nos contentar com esse programa, eventualmente definido como uma perspectiva mais "realista" do que aquela que dá mais conforto.
De pé ou sentados em seus próprios corpos, os homens olham sua natureza e, amaldiçoados pela lógica da objetividade, decidem excluir os aspectos mais sensacionais de si mesmos para acertar contas com a realidade. No passado, o homem podia se enganar de direção para elevar a alma além do corpo, mas agora faz o contrário, negando a existência da alma pelo fato de que os especialistas não sabem como encontrá-la.
Mas o que faz o homem para que seja capaz de entender-se? Onde encontrar a objetividade desejada? Se o "eu" humano foi capaz de eliminar a si mesmo, então como poder entender o que permanece depois e como poderia afirmar que entende algo? Partindo da premissa de que o homem de hoje é apenas o que está sobre a terra, partindo do materialismo postulado pelos cientistas, o estudo da realidade pelo homem torna-se um olho estéril sobre um objeto, um olhar que ignora a si mesmo. A partir desta base, perdemos não só conhecimento, mas também a ética, porque sobre o que poderia fundar-se a dignidade irredutível do homem? Uma explicação puramente material não poderia representar o enigma humano. O homem sabe disso, mas tende a negá-lo e por isso silencia suas perguntas.
Estes pensamentos me foram presenteados por Javier Prades com uma clareza que não me recordo ter tido antes. Estas não estão necessariamente suas palavras exatas, mas são as palavras que nasceram em mim, estimuladas pela forma como ele explicou seu pensamento e sua paixão, fruto de muita reflexão e afeto. O que ele me disse não é tanto o que consegui entender, mas o que já conhecia e havia deixado sepultado, reduzido à palavras e lógicas estranhas.
Tudo começa e termina no coração. O que levo não foi apenas as coisas ditas por Prades, mas a certeza de que as palavras reavivaram meu coração. E aí vem o paradoxo final, tácito, mas claro: a partindo de sua materialidade, o homem não pode dar-se um significado, conforto nem a certeza, mas sua jornada para a verdade começa em algo que está debaixo de suas vestes: o coração.