Imigrantes chegam em Lampedusa.

“Eram uma notícia no jornal da tv. Depois entraram em nossa casa...”

No final da situação de emergência, a busca de uma vida normal. Graças à ajuda da Igreja siciliana. E daqueles que, tocados, iniciam uma ação caritativa com os jovens refugiados
Anna Minghetti

“O´scià”. Minha vida. Assim nos saudamos em Lampedusa, no sul da Itália, porque o outro é alguém muito querido. Também quando alguém chega como estrangeiro e depois parte e dá continuidade à sua viagem para longe da ilha. Desse modo o papa Francisco saudou os imigrantes, quando escolheu a porta da Europa como meta da sua primeira viagem apostólica: “A Igreja está perto de vocês na busca por uma vida mais digna para vocês e para as suas famílias. A vocês, o´scià”.
Depois do desembarque, começa para os refugiados a busca de uma nova vida, cheia de dúvidas, mas acompanhada por aqueles que os acolhem, depois de terminada a situação de emergência, quando deixam Lampedusa e são levados para outros centros de acolhimento. Ou para os campos de refugiados, como o de Priolo Gargallo, a poucos quilômetros de Siracusa.
“Procuram uma vida próxima à nossa”, conta Enrico Jansiti, enquanto caminha até o campo para preparar a ação caritativa que começará dentro de poucos dias com outros amigos da comunidade de CL de Siracusa e com a ajuda do Centro cultural Kolbe e da Avsi.
“Também para nós, antes deste verão, os imigrantes coincidiam com as notícias da televisão. Estavam distantes, para quem vive em Milão ou em Bolzano”. Até que começaram a chegar barcos diretamente nesta região. Os imigrantes que não eram registrados pelas autoridades – porque se lançaram ao mar antes de chegar à margem ou porque o barco não tinha sido interceptado – começaram a frequentar a mesa para os pobres da paróquia San Tommaso, no Panteão de Siracusa. “Para o almoço, não eram mais os 40 de sempre, mas 170, 180 todos os dias. Então, com alguns amigos, comecei a ajudar o pároco, pe. Paolo Manciagli, em dois turnos”. Foi assim que conheceram os refugiados, “porque vieram nos chamar dentro de nossa casa”.
No início de setembro, terminou a emergência na paróquia, porque os imigrantes retomaram a sua viagem. “Mas nós tínhamos tido um encontro com eles. E queríamos continuar a dar uma mão”, diz Enrico. Assim, junto com o pe. Carlo D´Antoni, que trabalha com os imigrantes na diocese, conheceram o campo de refugiados de Priolo. Eram cerca de 150 jovens, uma centena dos quais menores de idade, vindos da Eritreia, Somália, Egito e Síria. Alguns deles partiram de suas casas em janeiro de 2012. “Quando a gente os ouve falar, percebe que não fazia a menor ideia do drama que viviam”.
Para suprir a necessidade de roupas e comida já havia uma grande mobilização na cidade, “mas depois eles ficavam o dia todo sem fazer nada”. São jovens que ficaram sem família, ou cuja família, não podendo emigrar, decidiu mandá-los sozinhos. Nesse caso, vêm de ambientes sociais médios ou altos e têm uma boa formação, mas num país estrangeiros tudo isso se perde. “Assim, a partir do desejo de lhes fazer companhia, mesmo só jogando bola, nasceu a possibilidade de realizar atividades educativas”, continua Enrico. “Um curso de italiano que lhes forneça um atestado, antes de cursos de garçom, arrumadeira ou outra coisa qualquer”.
Enrico fala admirado. “Jamais havia imaginado estar falando disso. No entanto, a realidade me dá a oportunidade de me envolver. De descobrir que cada um deles tem um rosto diferente. E eu desejo dar uma resposta a esse rosto concreto”.
Vêm à mente as palavras do arcebispo de Palermo, cardeal Paolo Romeo, alguns dias após o naufrágio de 3 de outubro: “Para mostrar a Sua paternidade, o Senhor se serve do nosso coração, que se comove diante dos outros, da nossa capacidade de nos deixarmos interpelar pelas necessidades dos irmãos”.