“Ele nos fez a caridade da sua fé”
No dia 21 de fevereiro, junto com o jornal "Corriere della Sera", foi distribuído um vídeo sobre o fundador de CL pelos dez anos da sua morte. Aqui, a entrevista completa com Ferruccio de Bortoli, o diretor do jornal de Milão“Este é um importante aniversário. Passados dez anos da morte, acredito que seja justo repensar a contribuição que Dom Giussani deu a todos. Junto com a Rizzoli somos os editores da sua biografia, um livro notável que eu gostei muito. Talvez pudesse ser um pouco mais sintético, mas tem a grande vantagem de fazer refletir”. Quem fala é Ferruccio de Bortoli, 61 anos, diretor do jornal italiano Corriere della Sera, na ocasião em que apresentou Vita di don Giussani, a biografia escrita por Alberto Savorana. Agora ele deu um passo a mais: no dia 22 de fevereiro, junto com o jornal foi distribuído um DVD sobre o fundador de CL.
São 57 minutos de imagens e palavras retiradas de entrevistas na televisão, encontros públicos, trechos de cartas. Uma ocasião para conhecê-lo, para mostrá-lo também para aqueles que nunca o viram pessoalmente. E para entender melhor o que ele nos deixou. Bortoli lembra: “Há dez anos, no seu funeral, fiquei tocado pela homilia do então Cardeal Ratzinger. Fazia entender bem como a herança de Giussani ia muito além do âmbito de CL. Mas eu, que nasci em Milão, sempre me interroguei sobre qual fosse a raiz do seu fascínio e da sua experiência”.
O que mais o marcou?
A capacidade de Giussani maravilhar os seus interlocutores. Ele tem uma atitude que abala também os que estão distantes. Com o passar do tempo, a sua é uma experiência de catequese fora do seminário. No sentido que ele exerceu a sua missão como sacerdote movendo os “outros”: levou-os a enfrentar as próprias responsabilidades a raciocinar.
O senhor disse que “nos levou a pensar com a nossa cabeça” mas “reclinada sobre o ombro do amigo ou do mestre que está ao nosso lado...”.
É verdade: provocou emoções e sentimentos também em pessoas que depois fizeram outros caminhos. Movendo as consciências, formou personalidades. Em um certo sentido, chegou até a abraçar e desafiar as rebeliões: eu creio que em CL exista uma forte carga revolucionária, além de evangélica. Mas, tudo isso sem nunca doar a sensação de querer fazer proselitismo. No entanto, acho que ainda deve ser plenamente avaliado o valor leigo da sua herança.
Qual é ela, para o senhor?
Ele nos mostrou o verdadeiro significado da palavra “comunidade”. Para ele esta palavra tem um força universal irresistível. Algo que a nossa sociedade perdeu. O seu chamado ao fato de que como católico você é parte de uma comunidade ajuda a buscar e formar um bem comum, é um fato ao qual, todos devemos olhar. Encontro muita sintonia entre Evangelli Gaudium do Papa Francisco com a sua ideia de que um crente também é de algum modo um bom cidadão. A fé não deve ser algo individual, privado: é expressa na comunidade, na Igreja, mas tem valor para toda a comunidade.
Mas isso, não é o que mundo secular sempre reprendeu nele? A ideia de que a fé, justamente, julgue tudo e seja por si mesma um fenômeno também social e civil, foi rotulado como fundamentalismo...
Veja bem, eu disse isso também em público: houve um momento histórico no qual muitos leigos pensavam que a Igreja deveria ser reduzida a um papel minoritário e marginal. Dom Giussani se rebelou contra isso. Ele não queria uma Igreja como “peça central” da sociedade civil. Deveria ser motor da comunidade, acelerador dos sentimentos, catalisador de uma ideia de bem comum que deveria ser cultivada. Ele também foi defensor da virtude cívica, contra uma derivação niilista e individualista tomada pela nossa sociedade. Eu critiquei algumas tomadas de posição de CL, provavelmente não penso como ele sobre certos temas éticos, mas acho que o mundo leigo precisa reavaliá-lo.
Certa vez ouvi o senhor dizer que Dom Giussani “acendeu um farol em uma sociedade de paixões tristes”. Em que sentido?
Nós não acreditamos mais em nada. A cidadania se apagou, há uma falsa vontade de se participar. Mas quando olho para CL, mesmo se às vezes não aprecio as modalidades de expressão ou certas ligações políticas, vejo uma forte vibração emotiva, uma vontade de entender, de aproximar-se do próximo entendido como um bem. É uma coisa rara.
Por quê? Ele explica tudo com o seu carisma?
Pensando bem, “carisma” e “caridade”, tem a mesma raiz. Creio que Dom Giussani tenha nos feito a caridade da sua fé. De uma espinha dorsal a uma realidade que é languida, secularizada, apagada. Ele a reacendeu. Mesmo à custa de usar às vezes, tons fortes, de dar alguns socos no estômago das pessoas.
E hoje? Que contribuição continua a nos dar?
Talvez, paradoxalmente, isso é mais visto entre aqueles que o encontraram menos, que às vezes se opuseram a ele. Agora percebem que nos deixou algo que vai além do seu papel ou das suas ideias. É uma modalidade de estar no mundo, o modo de viver e de pensar que dá uma sacudida, agita uma sociedade que tende a se apagar.
O senhor o encontrou pessoalmente?
Algumas vezes. E como sabe, publicamos alguns de seus artigos. Infelizmente nunca foi um encontro privado, mas creio que sejam afortunados aqueles que tiveram um mestre assim. Com os olhos acesos, que não te dão trégua, que te fazem descobrir caminhos que você nunca imaginou.