Eleições 2018: a nota dos Bispos da Lombardia
O documento preparado pela Conferência Episcopal da Lombardia,às vésperas da votação italiana: «Algumas indicações pastorais, para encorajá-los à serenidade e à responsabilidade»Enquanto prossegue a intensa campanha eleitoral que culminará com as eleições administrativas regionais e políticas nacionais, a Conferência Episcopal Lombarda considera oportuno oferecer aos próprios fiéis algumas indicações pastorais, para encorajá-los à serenidade e à responsabilidade no caminho de preparação para esse importante compromisso.
1. A premissa fundamental é que os cristãos, como todos os cidadãos italianos, querem reafirmar a necessidade de uma boa política. As comunidades cristãs devem ser não apenas voz que exige e critica, mas principalmente lugar de formação para acompanhar as pessoas à maturidade e, portanto, também à capacidade e à paixão por um empenho político coerente e generoso.
Perante a tentação muito difundida do abstencionismo e do desinteresse, é necessário e urgente que a obra educativa das comunidades cristãs solicite todos à presença e à participação ativa e responsável nesses compromissos eleitorais: sobretudo por meio da expressão consciente do próprio voto; mais aprofundadamente auspiciando o empenho ativo de um número cada vez maior de fiéis leigos no âmbito político, e mais geralmente praticando uma participação na vida política que não se limite ao momento das eleições, mas acompanhe a vida diária das instituições, usando os instrumentos da informação, da vigilância e das advertências.
A ninguém pode escapar a importância do exercício do direito-dever do voto: com ele se concorre, com efeito, a determinar a direção política do próprio Estado e da nossa Região. Quem não vai votar não é alguém que se abstém do voto; é, isto sim, alguém que decide serem os outros a decidir por ele.
2. Esperamos que o confronto entre as partes seja o mais possível sereno e não gritado, baseado em programas bem articulados, sinceros e reais nas promessas. Deve-se cuidar das condições para que os eleitores possam fazer deliberadamente a escolha que julgam mais válida. Quem quer que seja chamado a governar terá a tarefa de reforçar as condições para uma vida comum que regenere a confiança e os vínculos entre as pessoas. Somente sob essas condições é que se poderão enfrentar as questões urgentes que vão permitir reacender uma estação de renascimento depois de uma crise que deixou bem evidentes entre nós tantos sinais de declínio, tanto na Itália como na nossa Região da Lombardia.
Esse clima de confiança será realizável se trabalharmos juntos para salvaguardar da erosão do individualismo os nexos fundamentais que sustentam a nossa vida comum:
- a família, e em particular a sua capacidade de doar-nos o futuro através dos novos nascimentos;
- os jovens, desenvolvendo projetos para o seu futuro, principalmente o trabalhista: somente desta forma os jovens poderão sentir-se parte ativa e motor da renovação social que todos auspiciamos;
- as muitas formas de pobreza que perigam já não nos envolverem nem sequer emotivamente, de tão visíveis e difundidas nos nossos territórios urbanos;
- os vínculos sociais, promovendo processos de acolhimento e integração que evitem descarregar nos imigrantes estrangeiros e nos refugiados a insatisfação pelos problemas que não sabemos resolver;
- a regulamentação das finanças, para que fique a serviço de uma justa economia e de todos os homens;
- o diálogo e o apoio aos empreendedores, para que tutelem e criem novos empregos, favorecendo uma retomada mais promissora.
Também pedimos à política e aos políticos atenção às grandes questões que o progresso da ciência põe em nossas mãos, como objeto de um discernimento necessário: as questões éticas relevantes da vida, da morte, da dignidade e da sacralidade da pessoa.
3. Pedimos atenção a fim de que a presença dos católicos nas diversas partes em competição não se repercuta em termos de dilaceração dentro do corpo vivo das comunidades: a Igreja não levanta bandeiras de modo direto a favor de nenhuma parte política. Isto significa que todos – em particular os que se propõem como candidatos – se guardem da tentação de apresentar-se como os únicos e mais corretos intérpretes da Doutrina Social da Igreja e dos valores afirmados por ela. Cumpre educar-se em maior medida quer para o compartilhamento dos mesmos princípios inspirados na reta razão e no Evangelho, quer no respeito da inevitável diversidade de resultados do discernimento e da consequente pluralidade de escolhas. Sobre cada uma dessas escolhas – desde que sejam coerentes com os princípios derivados da mesma inspiração cristã – o juízo há de ser formulado a partir das razões adotadas em seu favor, da sua plausibilidade e eficácia, e do respeito ao sistema democrático que elas expressam e promovem.
4. Para evitar toda e qualquer possível instrumentalização e para defender zelosamente a liberdade da Igreja diante de todos, as paróquias, os institutos religiosos, as escolas católicas, as associações e os movimentos eclesiais, durante o período eleitoral, não coloquem as sedes e as estruturas à disposição das iniciativas de partidos individuais ou de formações políticas. Deve-se cuidar para evitar que as iniciativas ordinárias pastorais sejam instrumentalizadas para fins eleitorais. Para tal finalidade, durante este período, é prudente que as iniciativas de formação, reflexão e oração, pensadas propriamente a fim de nos preparar para os compromissos eleitorais e para aumentar a nossa consciência crítica acerca da política, não envolvam pessoas já empenhadas no nível social e político.
Pede-se aos presbíteros a abstenção de qualquer forma de participação direta na vida político-partidária e nas iniciativas eleitorais. Pela mesma razão, fiéis leigos que presidem ou ocupam cargos de destaque em organismos eclesiais, caso pretendam concorrer nas eleições e assumir um papel político de destaque, abdiquem de seus cargos de responsabilidade eclesial.
Os bispos da Conferência Episcopal Lombarda
Caravaggio, 18 de janeiro de 2018