O padre Vito e Enrico Petrillo com o sacerdote Giuseppe Cassina em Fuenlabrada

«Nascemos e jamais morreremos»

«Basta esperarmos, basta mendigarmos a este Deus que pode tornar luminosa até a circunstância mais incompreensível». A santidade ao alcance das mãos na história de Chiara Corbella
Beatriz Mel e Javier Mercadé

Em novembro passado, convidamos Enrico Petrillo, marido da serva de Deus Chiara Corbella, e o padre Vito D’Amato, frade franciscano e diretor espiritual deste jovem casal italiano, para passar alguns dias na Espanha.

Nos últimos anos, por diferentes razões, havia chegado a nossas mãos o livro Nascemos e jamais morreremos (Cultor de Livros, 2017), que conta a história da vida extraordinária de Chiara Corbella, esposa e mãe de família – falecida em Roma em 2012, na idade de 28 anos – que atualmente está em processo de beatificação. Desde o início, nós e muitos amigos ficamos profundamente impressionados com a provocadora história de santidade desta mulher de nosso tempo, que perdeu seus dois primeiros filhos poucos minutos após nascerem e que, posteriormente, morreu de câncer quando seu terceiro filho tinha apenas um ano. O livro é um testemunho excepcional da profunda entrega a Cristo e da plenitude de vida que viveu este casal nas circunstâncias que eles tiveram que enfrentar.

A atratividade de sua vida nos levou a entrar em contato com Enrico há mais de um ano e meio, para convidá-lo a vir ao nosso país e compartilhar alguns dias conosco, e nos testemunhar como é possível viver esta alegria nas diferentes situações da vida. Deste modo, na quinta-feira, 14 de novembro, Enrico e o padre Vito estiveram na paróquia de Sant Vicenç de Sarrià (Barcelona) e, no sábado, 16 de novembro, na paróquia San Juan Bautista de Fuenlabrada (Madri), com o objetivo de dar a conhecer sua história aos nossos familiares, amigos e colegas de trabalho. Tanto em Barcelona como em Madri, fomos surpreendidos pelo afluxo massivo de pessoas – muitas delas desconhecidas – que tinham conhecido a história de Chiara e não quiseram perder esta oportunidade. No total, cerca de mil e quinhentas pessoas puderam assistir aos diversos testemunhos que deram.



Os dois encontros começaram com uma breve apresentação da história desse casal, juntamente com um vídeo no qual a mesma jovem mãe, poucas semanas antes de sua morte, conta como Deus havia levado plenitude a sua vida de uma maneira inesperada.

Após a projeção do vídeo, Enrico e o padre Vito, as duas pessoas mais próximas da jovem esposa, insistiram em que a vida de Chiara fala de um caminho de santidade que é pertinente e possível para todos nós hoje. De fato, ouvindo-os, podia-se perceber como está arraigada em nós a ideia da santidade como caminho de perfeição ética; como se se tratasse de uma mera graça reservada para uns poucos e afastada em tempo e espaço de nossa vida cotidiana. Entretanto, neles se vislumbrava que a santidade nada mais é que viver o relacionamento com Deus em cada instante.

Essa novidade sobre a concepção de santo se fez evidente no relato de seu namoro, também com a alusão aos numerosos momentos de crises no relacionamento, períodos de dúvida e incompreensão que enfrentaram diante da dor e do sofrimento que ambos tiveram que viver juntos, ante a morte de seus filhos e a doença de Chiara. Essa experiência muito humana deixou claro que a santidade não é incompatível com as perguntas, as dificuldades ou inclusive o pecado, sempre que se vivam no horizonte do relacionamento com Deus. De fato, bastava observar como Enrico e o padre Vito apreciaram cada uma das coisas que fizeram esses dias em Barcelona e Madri: comer e beber, brincar... Neles, todo gesto é transpassado por essa santidade cotidiana.



No entanto, poderia ser acolhida a ideia de que se trata de uma história bonita, que a consciência de Chiara e Enrico é desejável, mas que no fundo essa forma de viver não é possível para nós, que as situações difíceis ou dolorosas que temos em nossas vidas nos impedem de viver assim. Porém, o padre Vito insistiu na importância de mudar nossos mas por um sim, posto que a vida se transforma quando se dá espaço para Deus agir nela: não na de outras pessoas, mas na nossa própria vida tal e como esta nos é apresentada. Basta esperarmos, basta mendigarmos a este Deus que pode tornar luminosa até a circunstância mais incompreensível para nós.

Que melhor forma de começar o Advento poderíamos esperar?