Viena. «Diante de Deus, para entregar também o medo»
Os disparos a poucos metros de casa, as notícias na TV, as mensagens dos paroquianos. E o cardeal, desde o início, rezando na capela. «De onde pode vir a esperança?» Um relato da Áustria de um padre da Fraternidade São CarlosPe. Matteo, pe. Marcus, pe. Giovanni e pe. Christoph são missionários da Fraternidade São Carlos Borromeu e moram em Viena. A paróquia deles, dedicada a Maria Anunciada, está a poucos minutos da zona dos atentados de segunda-feira, dia 2/11. Quando as primeiras notícias dos tiroteios foram lançadas na mídia, os quatro estavam em casa: «Segunda-feira à noite é o momento em que ficamos juntos e confrontamos muitas coisas», conta Pe. Matteo Dall’Agata. Eles passaram as primeiras horas vidrados na TV e respondendo às muitas mensagens de amigos e paroquianos preocupados. Alguns terroristas ainda estão soltos, há mortos, feridos, e o clima de segurança que antes permeava a sociedade austríaca parece estar desfeito.
«Apesar da pandemia, sentíamo-nos relativamente seguros. Mas o que aconteceu naquela noite nos roubou mais uma vez qualquer certeza desse tipo. E, ao mesmo tempo, fez com que nos déssemos conta da nossa fragilidade. Uma fragilidade que sempre temos, mas que hoje, mais do que nunca, sentimos que temos de levar a sério. A pergunta que nos fizemos, que eu me fiz segunda à noite, foi: de onde realmente vem a minha esperança?» Pe. Matteo também conta que, logo depois, ouviram na TV as palavras do Cardeal Schonborn, arcebispo de Viena: «A primeira coisa que ele fez foi ir até a capela para rezar. Pôs-se na frente de Deus com confiança, pois há um Pai a quem pode entregar até o medo. Há alguém a quem podemos dizer que estamos assustados e que podemos olhar, para não ficarmos só atônitos diante do horror. Assim, nós também rezamos juntos na manhã seguinte e nos pusemos a olhar para aquilo que na nossa experiência nos dá confiança e esperança».
As palavras do cardeal a que se refere o padre são claras: «Hoje temos medo, mas não devemos responder ao ódio cego com mais ódio. Não podemos sequer cair na tentação de nos fecharmos em casa amedrontados. Embora agora tenhamos de manter distância por causa da pandemia, não devemos manter distância entre os nossos corações. Enquanto o calor na nossa sociedade for mais forte do que a frieza do ódio, não podemos desencorajar-nos».
Também por isso, contam ainda os padres da São Carlos, na manhã de terça-feira cada um deles voltou a realizar as tarefas de sempre: uns na escola (três deles são professores), outros acompanhando a Pastoral Universitária e alguns jovens imigrantes. «Amanhã à noite, com os amigos do Movimento, vamos nos encontrar para a Escola de Comunidade», acrescenta Pe. Matteo. Na pauta estarão os fatos de segunda. «E duas perguntas: de onde vem a nossa esperança e o que é a liberdade para nós?» Na semana passada, fizeram uma assembleia: «Agora é o momento de verificar se todas as coisas que nos dissemos acerca da esperança e do que resiste nas dificuldades são verdadeiras inclusive neste momento tão duro». A dificuldade e o medo podem estar presentes: «Mas saber que estamos nas mãos de um Pai bom nos mantém vivos e nos permite ainda hoje ir ao trabalho e ficar em contato com todos: a certeza que vivemos é maior do que os nossos medos».