Noite de cantos no Punt BCN

Punt BCN. Um lugar onde viver

Entrevista com Luis Bou, diretor do Punt Barcelona, que em 2022 retomou sua atividade presencial partindo de uma citação de Cesare Pavese: «É bonito viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante». Que ousadia!

Após dois anos de pausa devido à pandemia, o fórum anual Punt Barcelona retomou sua caminhada no espaço de feiras Cocheras de Sants, nos dias 20 a 22 de maio, com mesas redondas que abrangeram diferentes âmbitos sociais: o mundo empresarial, a educação, a arte, a fé… «Viver é começar, sempre, a cada instante» foi sua carta de apresentação, que colocou em evidência a necessidade de continuar a viver a vida, bem como de revelar o espírito com que qualquer cidadão gostaria de acordar todas as manhãs.

Qual foi o horizonte da edição de este ano?
A edição deste ano possivelmente foi muito influenciada por ser o “retorno” do Punt depois de dois anos de pausa. Os primeiros a recomeçar fomos nós, os primeiros a exigir que voltássemos a viver com ousadia, propondo outra vez o Punt em Barcelona, partindo do que somos: apenas um grupo de amigos. O ponto de partida deste ano foi fixado na origem, foi ao ponto de nascimento das coisas. Possivelmente a pandemia deixou terra arrasada em nós, mas em companhia é possível recomeçar. Neste sentido nos provocou o diálogo entre o filósofo Josep Maria Esquirol e o teólogo Javier Prades no Encuentro Madrid: «O mistério do nascimento é mais forte do que o mistério da morte. Esta pequena desproporção alimenta a esperança». Esta possibilidade nos interpelou.

O programa ofereceu um leque diversificado de possibilidades, o que os visitantes puderam encontrar este ano?
Principalmente, e em primeiro lugar, um ponto de encontro, encontro sincero e honesto. Pode parecer redundante tornar a apontar esse aspecto, mas o Punt não seria um espaço de diálogo real e concreto se sua atividade consistisse em uma série de conferências fechadas, por relevantes que fossem seus palestrantes. A abertura deste evento começou nas mesas redondas, pensadas para serem sempre um diálogo entre palestrantes e, em última análise, com o público assistente, e chegou até à vontade que a pessoa pôde ter de convidar amigos e estar lá, mesmo se não fosse a nenhum ato, só para que pudessem tomar algo e vissem a vida que foi criada na área de refeições, com as famílias, os voluntários, os palestrantes… Creio que isto foi o primeiro e fundamental, um lugar de vida em comum, de construção em comum, que desse espaço a ler a frase de Pavese («É bonito viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante», que ousadia!) com esperança para cada um.

Estamos vivendo um tempo cheio de perplexidade: o peremptório é volátil, as certezas da Europa ocidental caíram; a guerra este ano entrou em nossas vidas. Que desafios interpretou Punt BCN como próprios?
Nossos desafios foram os mesmos de cada pessoa que pôde passar por aqui estes dias: os que temos na convivência na cidade comum e os que tem cada um em seu caminho pessoal. É certo que neste amplo panorama identificamos algumas preocupações mais urgentes, mais próximas do coração, e delas saíram alguns dos atos do programa. Esteve presente, evidentemente, o rastro de sofrimento que a pandemia de Covid-19 deixou. Este sofrimento, que chega a todos, pode ser olhado de algum modo, podem outras pessoas me mostrar como o olharam para que eu entenda algo mais? Trata-se apenas de virar a página ou desviar o olhar do sofrimento? A mesa redonda sobre a pandemia foi preparada por especialistas na doença (médicos e doentes), assim eles falaram conosco a partir de sua experiência mais próxima.
Por outra parte, veio o escritor e poeta Daniele Mencarelli para uma mesa redonda sobre educação, ajudando-nos a olhar para os jovens de hoje com mais verdade do que às vezes nós conseguimos como adultos, pais ou professores. Em todos se percebe o embate do confinamento, que fez aflorar algumas fragilidades que começávamos a vislumbrar antes, mas que agora enchem nossas salas de aula. Para ter algo de luz sobre isto não pedimos ajuda a alguém que com sua técnica ou sua experiência como professor nos pudesse orientar, mas a Mencarelli, que nos parece mais capaz do que nós para olhar as feridas que estão surgindo entre os nossos jovens.
Por último, para não me alongar, a preocupação com a política (em um encontro sobre Hannah Arendt), com o desenvolvimento e uso das novas tecnologias, e com o trabalho também encontraram seu lugar no programa do Punt.

O Punt Barcelona começou com um encontro sobre a Igreja hoje, o desafio moral e pastoral de uma Igreja em pleno século XXI, e encerrou com o testemunho eclesial de uma «inquietude divina». O arco abarcou desde o apelo do presente e olhou, finalmente, para o passado, para as raízes de um carisma. Dar uma olhada no passado para descobrir o agora?
Exatamente. Enzo Piccinini é testemunha de um carisma. Luigi Giussani nos ensinou um modo de olhar, de viver, e isto ficou impresso em Piccinini que, por sua vez, com seu próprio modo de ser, transmitiu este carisma àqueles que o seguiam. Nós, a comunidade de CL de Barcelona, precisamos de testemunhas de seguimento radical ao carisma, a Cristo, que transfiguram a vida inteira. Como transmite o próprio Piccinini, não há nada mais anticristão do que aquele que busca ter a vida ordenada (no sentido de cômoda, controlada). Poderíamos cair facilmente na tentação de querermos colocar as coisas “em seu lugar” após a pandemia, em vez de acolher as circunstâncias como o rosto de Deus que nos é apresentado na vida, como o ouvimos dizer. E isto só é possível viver no presente, no agora e graças à companhia.