As tentações e a originalidade de Cristo
A mensagem de Marco Montrasi (Bracco), responsável do Movimento Comunhão e Libertação no Brasil, por ocasião do NatalCaros amigos,
Gostaria de partilhar algumas reflexões sobre o convite que nos fez o Papa Francisco durante a Audiência de 15 de outubro. Naquilo que ele nos disse, como nos foi dito em várias ocasiões, ainda há algo para aprofundar e descobrir, decisivo para nós.
O Papa nos disse que temos uma coisa tão preciosa, que agora é como se tivesse sido devolvida a nós para ser descoberta. E foi o que aconteceu na Praça de São Pedro. É como se o Papa tivesse dito: «Vocês ainda têm que descobrir muito do Movimento. Não fiquem parados no que acham que já sabem». E mais: «Essa coisa é para toda a Igreja, não só para vocês».
Então, esta é uma ocasião para conquistar mais aquilo que eu já encontrei. Recentemente me marcou um nosso novo amigo quando, em nosso encontro, perguntou: «Qual é o núcleo, qual é o centro, qual é a originalidade do carisma de Dom Giussani?» Foi uma grande ocasião, para todos nós que estávamos ali, para nos fazermos essa mesma pergunta, pois não é óbvio que depois de tanto tempo isso seja claro em nós, seja vivo, seja parte da nossa “carteira de identidade”. E o Papa nos lembrou: «O cristianismo é um encontro, é um acontecimento, uma história de amor». Se o cristianismo não é um acontecimento, é um conjunto de regras, de dogmas, aos quais precisamos nos adaptar. Dom Giussani falou de cristianismo para nós como de um acontecimento. É isso que foi reconhecido na história da Igreja, levado para ser comunicado como um caminho dentro da história da Igreja. Essa é a originalidade.
Isso foi o que nos aconteceu. Mas dentro das provocações da vida, como vimos nestes tempos dramáticos, nós podemos ter estudado todos os programas dos políticos e governantes (recentes e futuros), ser os maiores especialistas políticos, mas quando alguém nos pergunta: «Qual é a sua originalidade, de onde você vem?», talvez possamos não saber a resposta, ou pelo menos não tê-la clara como temos todas as argumentações das nossas convicções ou orientações políticas. Podemos gastar tempo com tantas batalhas e perder a origem daquilo que pode ser uma resposta que o mundo inteiro está querendo encontrar. O Papa nos devolveu tudo isso como um convite a segui-lo, como a dizer: «Olhem, vocês têm de me ajudar com o carisma de vocês, com o que lhes aconteceu. Vocês podem ajudar neste momento histórico. Me ajudar!»
Estamos vivendo um clima social muito tenso, em todos os níveis e no mundo inteiro. O Papa disse: Isso «me assusta». Quantas vezes vemos que o outro incomoda, atrapalha, é quase necessário evitá-lo ou censurá-lo para poder viver: o marido, a esposa, o companheiro incomodam; e para você viver tem de eliminá-lo. Se Cristo não se torna para nós um acontecimento, sempre novo, a convivência humana se torna muito difícil, senão impossível.
Numa recente entrevista, o Papa disse uma coisa que me marcou muito: «É interessante buscar as raízes do que é católico nas escolhas que Jesus fez. Jesus tinha quatro possibilidades: ou ser fariseu, ou ser saduceu, ou ser essênio, ou ser zelota. Esses eram os quatro partidos, as quatro opções naquele momento. E Jesus não era fariseu, nem saduceu, nem essênio, nem zelota. Ele era algo diferente. E se olharmos para os desvios na história da Igreja, podemos ver que eles estão sempre do lado dos fariseus, dos saduceus, dos essênios ou dos zelotas. Jesus foi além de tudo isso ao propor as bem-aventuranças, que também são algo diferente» (Entrevista aos representantes do grupo America Media, dos jesuítas estadunidenses, 22 de novembro de 2022).
O judaísmo também tinha várias correntes. Havia os fariseus, que eram os que pensavam que para poder se salvar seguindo a lei de Moisés deviam seguir à risca mais de 500 leis; os zelotas eram aqueles que pelo “zelo” em seguir a própria religião e defendê-la chegaram até a empunhar as armas partindo da religião; havia os saduceus, que viam que ter o poder político e econômico podia ser o meio para contribuir com a difusão do judaísmo; os essênios eram aqueles que achavam melhor se retirar, quase como eremitas, pois queriam custodiar, eram os eleitos que deviam custodiar – separando-se do mundo “impuro” – a verdade que lhes fora transmitida. Naquela época, era isso que se vivia.
E Jesus podia entrar no mundo e tomar uma dessas posições. Mas o que ele fez? Ele colocou uma outra coisa, ele fez o cristianismo. Como? Encontrando João e André, encontrando Zaqueu, a Samaritana.
Começou a mudar a história assim. E o Papa diz que as tentações da Igreja são sempre esses quatro caminhos. As nossas tentações são virar um zelota, ou um fariseu, ou um essênio ou um saduceu. Hoje nós temos essas tentações e podemos perder a originalidade de Cristo, a originalidade do catolicismo e a originalidade do carisma do Movimento. Que o nascimento de Jesus nos faça escolher o que Ele fez na história.
Desejo um Feliz Natal para todos!
Bracco