Ning Long e o “Spirto Gentil” de Dom Giussani
Um concerto no Conservatório de Milão pelo centenário do fundador do CL. Entre os protagonistas, um tenor chinês para interpretar uma das peças preferidas do padre italianoNing Long tem 26 anos, vem da China e estuda no Conservatório de Milão. Ele conhecia Donizetti, porém jamais se imaginaria cantando Spirto gentil diante de mil espectadores na Sala Verdi, em uma homenagem musical a Dom Giussani. Isso lhe foi proposto por sua professora, Anna Maria Paganini, a qual organizou um concerto com vários colegas e amigos de quatro centros culturais para assinalar o centenário do nascimento do “Gius”.
«Eu gostava muito dele, devido a sua bela voz e sua gentileza», afirmou Anna Maria. «Quando surgiu a ideia de interpretar aquela peça, pensei nele porque é uma ária que se adapta muito bem ao seu tipo de voz. Ele imediatamente disse que sim, e nos encontramos um dia para ensaiar e eu expliquei a ele o tipo de concerto (um pouco anômalo) no qual o havia envolvido. Então lhe contei quem era Giussani e, acima de tudo, o que ele representa para mim, pessoal e musicalmente, mas também o que é a Igreja, quem é Jesus e como ele valoriza a pessoa. Com alguém da cultura chinesa nada é garantido, e não sei se me expressei bem ou se ele entendeu, mas tenho certeza de que compreendeu que esse homem foi e continua sendo importante para mim, que eu compartilho essa experiência com muitas outras pessoas e que nos concebemos juntos. Durante o ensaio, pedi-lhe que tentasse cantar imitando o máximo possível Tito Schipa (o tenor de quem falava Giussani ao evocar estar peça) no fraseado, nos portamentos e na cadência. Hoje os cantores fazem outras escolhas estilísticas e ele tinha ouvido essas interpretações mais modernas. Para mim era importante que ele imitasse o máximo possível o canto que tinha tocado Giussani naquela execução. Fiquei impressionado com a sua disponibilidade em enfrentar essa dificuldade para ele também conseguir se identificar».
No início da noite, na Sala Verdi do Conservatório, depois da saudação do presidente Raffaello Vignali, Pe. Franco Berti apresentou o concerto como «um sinal de esperança, uma beleza regeneradora». E recordou as palavras de Giussani: «Não há melhor expressão dos sentimentos humanos do que a música».
Ning Long foi o primeiro a subir ao palco para se colocar no lugar de Tito Schipa, o famoso tenor que, cantando aquela ária do quarto ato de A favorita de Donizetti – «Spirto gentil, ne’ sogni miei, brillasti un dì ma ti perdei…» –, provocou no jovem seminarista de Venegono «um calafrio, a saudade do instante em que a existência de Deus se torna uma evidência carregada de sentido».
Em seguida, outras peças favoritas de Dom Giussani foram interpretadas: músicas de Beethoven, Schubert, Brahms, acompanhadas de seus comentários, recitadas por Onorato Grassi e interpretadas por Anna Maria Paganini, Emanuela Piemonti, Alessio Bidoli e Giacomo Grava, que participaram com entusiasmo e gratuidade plenos. Por fim, o coro de Comunhão e Libertação – regido por Pippo Molino, que lecionou no Conservatório durante três anos, e Giovanni Godio – cantou alguns Responsórios de Semana Santa de Tomás Luís de Victoria e o Alma Redemptoris Mater de Pierluigi da Palestrina. A capacidade de aprofundamento da música por parte dos intérpretes – identificando-se com o que expressavam os comentários de Giussani – valorizou o que acabou por ser o próprio gesto de um povo.
Ao final do concerto, Ning Long recebeu de presente a edição chinesa de O senso religioso, que está lendo com grande interesse para descobrir de onde nasce a humanidade que vibrou naquela noite.
Assim foi como um jovem tenor chinês começou a vislumbrar tudo o que pode nascer do coração de um homem que se deixa ferir pelo poder e pela beleza da música.
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