A maior dor dos jovens
O mal-estar dos jovens, sua inquietude, as dificuldades que vivem quando entram no mundo “adulto”. Costumamos achar que são frágeis, incapazes de sacrifício e esforço. E se o problema for todo o bem que carregam no coração?Cada vez com mais frequência, fico refletindo sobre o mal-estar dos jovens. Não tanto sobre a sua vastidão e dramaticidade ou sobre as inúmeras formas de manifestação que ele assume, mas sim sobre sua possível origem e seu significado.
Fomos levados a pensar – e boa parte da psicologia leva para isso – que o mal-estar e o medo de viver aparecem no jovem por causa de suas muitas fragilidades e das inumeráveis dificuldades que ele encontra ao entrar no mundo “adulto”, na realidade. Enfim, a causa do problema dos jovens é sua própria pessoa e os obstáculos espalhados em seu caminho. Ou seja, o mal, o negativo, a fadiga, o sacrifício.
Cada vez mais penso que, pelo contrário, a causa do problema são o bem e o belo que há nele, dos quais seu coração é feito, e também a grandeza, a imensidão que ele enxerga na realidade. Desde que o mundo é mundo, o jovem nunca pensa demais em seus limites, nem tampouco nos obstáculos que se interpõem a ele. O jovem – em certo sentido – é o poderoso e também o todo-poderoso por excelência.
Por essa razão, pode ser sensato pensar que a verdadeira questão com a qual ele se enfrenta é realmente o bem. Ou seja, o mar de expectativa, desejo e amor que ele sente e gostaria de ter para si. Benedetta – uma das nossas garotas de “O imprevisto” – exclamou um dia: «Como fui tola até agora, sempre pensei e disse que era uma garota vazia, que dentro de mim havia um grande vazio. Mas sempre estive cheia de mil e uma coisas, desejos, projetos, sonhos… No entanto, o vazio existe, mas não está dentro de mim, está fora de mim!»
Apenas – e este é o grande drama da situação atual – inúmeros jovens pensam e acreditam que não merecem o desejo de vida que existe dentro deles, que não são dignos dele, que nunca poderão realizar o que anseiam.
Além do grande bem que ele sente e vê dentro de si, o jovem descobre e vê que também na realidade existe a possibilidade de uma grandeza infinita, mas ele acha e acredita que isso nunca será, nunca poderá ser para ele… no fundo, acha que não existe, que não é verdade… Que não dura, que não cabe a ele e não o aguarda.
O jovem pensa de si mesmo e da realidade de forma tão limitada, desanimadora e decepcionante porque ele não sabe – não foi educado, não lhe foi ensinado – esperar, admitir, imaginar, conceber algo mais, algo além, uma surpresa, um imprevisto, um presente, um chamado. O drama mais agudo, mais intenso da juventude atual – e também de muitos “adultos” – é que eles não são capazes de esperar por uma novidade.
O coração dos jovens não está aberto, não está disposto a olhar, a deixar entrar tudo o que vive na realidade, a profundidade, a altura da vida. Não sabem ver, não sabem olhar. Não estão disponíveis para uma grande surpresa. É um coração fechado e surdo.
Então, é necessário pensar que o caminho a seguir é aquele que pode levar a uma abertura. É uma questão de conhecimento se a vida do jovem é tão miserável, pequena, mesquinha, pobre, inútil, como ele pensa de si mesmo.
Compreende-se então que a maior dor não é o mal, mas sim o bem, é o amor. Se não há amor, se não o conhecem, se não o encontram, se ele não os chama, certamente ocorrem grandes problemas e, por fim, o jovem fica irritado, torna-se agressivo e violento. Eles são assim, duros, maus… Porque têm medo.
De quê? Do seu coração e da vida, da imensidão da vida, da realidade. Estão cheios de dúvidas… Não sobre as suas capacidades, mas em relação à positividade da vida, do Ser.
Em última análise, têm medo de não serem dignos de Deus, de não merecerem a Deus. A maior dor é não saber amar.
*Educador e fundador da comunidade “O imprevisto”, de Pésaro