As mostras do Meeting. Vacinados contra a dúvida
A audácia do maravilhamento, entre as perguntas de Giussani e uma expedição a oito mil metros. As quatro exposições do Meeting e as formas de vê-las, pessoalmente e à distância, em versão digitalO inesperado modela o rosto de quem o vê, perante o improviso o rosto se ilumina com a surpresa. «Mas normalmente, quem se maravilha? Precisaríamos viver sempre como sobreviventes, para saborear todas as coisas com gratidão.» O vídeo da mostra “Viver o real” é feito de imagens e palavras que são como «uma revisão sobre a existência das coisas». O espetáculo da natureza, do homem, da luz – em uma palavra, da criação, com a qual perdemos a confiança.
O vídeo, que pode ser visto no site do Meeting, é o coração da exposição presente no Palacongressi, que todo dia é aprofundada com conversas virtuais (os webinários que você pode agendar on-line para todas as mostras) e que é um percurso pelas páginas do 10º capítulo d’O senso religioso de Dom Giussani e d’O despertar do humano de Julián Carrón, entre citações literárias de Chesterton, Ungaretti e Gozzano, trechos de filmes, fotos e imagens artísticas, como a abóbora de bolinhas Yayoi Kusama.
A mostra nasceu do desejo de entender mais o título do Meeting – a frase de Abraham Heschel – e o contexto de onde foi tirada: O senso religioso. «Mas logo veio a explosão da pandemia», diz Luna, jovem muçulmana, que a preparou junto com outros jovens e hoje é voluntária do Meeting para as visitas guiadas. Mais que explicar, ela faz perguntas e provocações aos visitantes, compartilhando com eles o que viveu nos últimos meses, quando «seguíamos em frente distraídos, e o vírus nos tirou da obviedade. A realidade voltou aos holofotes». Depois citou um versículo do Alcorão, em que «Deus diz ao homem: eu poderia não ter-te feito, mas te fiz». No percurso dos painéis, tudo – desde o céu até a própria respiração – é oferecido como um gigantesco “podia não existir, mas existe”. «Só desse espanto é que renascem as perguntas da razão.» Por que é que existe tudo isso que existe? Por quê? De onde vem? E eu? Quem sou eu? Para onde vou?
«O 10º capítulo d’O senso religioso não fala de uma imaginação. Nós chegamos a pensar que Giussani – quando explica como se despertam as perguntas últimas – seja um poeta. Não!», disse Carrón no webinário dedicado à mostra, no primeiro dia do Meeting. «Ele fala de uma experiência real, que acontece. Como nos conta, por exemplo, quem acorda de um coma... Mas um olhar verdadeiro para o real não é uma experiência que se dá de uma vez por todas. Não é mecânica. Um segundo depois posso recair na obviedade e fico diante de uma opção: para onde olho?» Recebendo muitas perguntas dos muitos seguidores do Meeting na Itália e no exterior, ele inverte a questão: «Todas estas coisas sobre o maravilhamento nós já sabemos! Mas quando nos aconteceu? Quando foi a última vez que nos surpreendemos assim? A possibilidade dada a nós é que se torne familiar também para nós a forma com que Giussani se surpreende: não como lógica, não como cultura, mas como experiência de vida». E retomou a necessidade de um caminho: «Não basta o momento do milagre. De que precisamos? De uma presença cotidiana, familiar. É o que Deus faz conosco. O que Ele nos deu para ajudar-nos a nos maravilharmos? Fez-se carne, dando-nos uma companhia de homens capazes desse maravilhamento: ao segui-los, com o tempo, com paciência, torna-se nosso o jeito deles de olhar».
O Meeting propõe outra mostra presencial, sobre a Basílica de Belém: “Bethlehem reborn. As maravilhas da Natividade”. Segundo a curadora, Mariella Carlotti, é mesmo um desafio à ruptura da nossa relação com a realidade, pois é dedicada «ao lugar “da realidade” por excelência: o lugar onde Deus se fez realidade humana». Um lugar restituído em sua excepcionalidade por um restauro epocal (o primeiro integral em sete séculos), iniciado em 2013 e concluído em 6 de dezembro passado. No percurso – que transcorre paralelamente entre a exposição no Palacongressi e os conteúdos virtuais – o foco não é o restauro, mas a Basílica, que agora podemos ver como nenhum vivente jamais pôde ver: o relato do monumento mais antigo da cristandade se abre entre história, política, arte, mas também pela voz dos peregrinos, da experiência de devoção nos séculos.
Foi a Unesco quem desejou essa mostra, que com efeito irá para Paris, mas nasceu em Rímini por uma história de amizade que levou ao Meeting de 2016 a exposição sobre os trabalhos de restauro. A mostra deste ano foi curada por Carlotti, junto com o diretor de cinema Tommaso Santi, com o arqueólogo Alessandro Fichera e com Taisir Masrieh Hasbun, cenógrafo, editor e oficial de cultura na Embaixada Palestina junto à Santa Sé. «Trabalhamos por quatro meses sem nunca nos vermos pessoalmente, por causa da pandemia. Achávamos que era impossível a mostra nascer, mas superamos dificuldades que nos pareciam insuperáveis. E é o que desejo que acontece para o nosso país.»
«Quando você chega ao pico com alguém, fica apegado a esse alguém por toda a vida.» O pico é o do monte K2, ao qual é dedicada a mostra “Estamos no topo!” (só em versão digital), que conta a expedição de 2014 e foi organizada por dois de seus protagonistas: Michele Cucchi e Adostino da Polenza. Uma escalada de dois meses por quase nove mil metros, na conquista do segundo pico mais alto do mundo depois do Everest. «O momento mais íntimo? Penso que foi quando ele apareceu!», diz Cucchi. «Puro respeito! De pequenos homens que se deixam acolher numa enorme bacia glacial ante a sua majestade!» Ele aceitou participar por causa do valor que essa expedição teve para o povo paquistanês, que homenageava o imenso empreendimento de sessenta anos antes: era 31 de julho de 1954 quando Achille Compagnoni e Lino Lacedecelli conquistaram, pela primeira vez no mundo, aquela que levou o nome de “montanha dos italianos”. Foi do encontro de alguns amigos do Meeting com Cucchi e Da Polenza que nasceu a ideia de descrever o desafio que a montanha lança ao homem: «Não é só subir, mas também olhar para o outro, e levá-lo consigo». Áudios, vídeos extraordinários e webinários com os protagonistas e os curadores dão a possibilidade de reviver as dificuldades e a paixão nascidas da atração que os impeliu a chegar ao topo, dispostos a tudo.
O eco dessa atração ressoa nas palavras de Konrad Lorenz, fundador da etologia moderna, naquilo que é uma espécie de moto da última mostra do Meeting: “Sermos vivos”, com curadoria de Euresis e Camlus (apenas digital). Lorenz escreve: «A verdade não é apenas bela, mas é cheia de mistério e não precisamos ceder ao misticismo para vivermos maravilhosas aventuras. Toda pessoa que se alegra ao ver a criação viva e sua beleza está vacinada contra a dúvida de que nada possa ter algum sentido». A mostra é dividida em quatro espaços virtuais e quatro vídeo-entrevistas que, mostrando os enormes desenvolvimentos das ciências biológicas das últimas décadas, escancaram o olhar sobre a natureza profunda de cada ser vivo, que é “relação com outro diferente”, e sobre a extraordinária complexidade e criatividade da vida que permeia o nosso planeta. Códigos, sinais, acrobacias químicas, dependência do mundo, dinâmicas evolutivas, DNA, leis imutáveis e imprevisibilidades... A mostra é a descoberta da lógica surpreendente que, como explica um dos curadores, o professor de Bioquímica Giorgio Dieci, «une a todos os seres vivos: da bactéria unicelular a todas as espécies animais e vegetais que povoam as águas e a terra, até o homem. Até cada um de nós».
#MeetingdeRímini