Um coração comovido muda a História
No Meeting de Rímini, uma mulher armênia começa a chorar diante das imagens de um antigo mosteiro cristão restaurado pelo emir de Sharjah. Seu vídeo chega aos Emirados e algo impensável começa a acontecerHá gestos de uma potência inaudita que podem mudar o curso da História. Como o discreto choro de uma desconhecida, um rosto no meio da multidão do Meeting de Rímini, o evento cultural ocorrido no final de agosto na Itália, enquanto ela ouvia um encontro para o qual uma amiga a havia convidado. Mas vamos por partes.
Há um ano, a organização do Meeting de Rímini foi convidada para a maior feira do livro do mundo, a Feira Internacional do Livro de Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos. Até aqui, poderia parecer mais uma anedota. Mas foi o começo de algo grande. Se o centro político dos Emirados está em Abu Dhabi e o centro econômico em Dubai, Sharjah representa a capital cultural destes sete pequenos, mas importantíssimos reinos muçulmanos. Quando o presidente do Meeting, Bernhard Scholz, viajou para a cidade com Wael Farouq e outros amigos no ano passado, surgiu uma relação cheia de estima com Ahmed bin Rakkad Al Ameri, presidente da Sharjah Book Authority (SBA), e com vários representantes desta imponente entidade. A tal ponto que Al Ameri viajou para a Itália a fim de participar do Meeting de 2023.
Impressionado com as palavras do Cardeal Zuppi, com a curiosidade da multidão de jovens que percorria os pavilhões, ele, que organiza a maior feira do mundo, declarou-se cheio de gratidão ao participar do encontro intitulado “Amizade entre culturas, culturas que cuidam da amizade”. Quando foi perguntado sobre como se cultiva o diálogo intercultural na Feira Internacional do Livro, Al Ameri explicou que eles prestam muita atenção ao cuidado da memória histórica e artística. O emir de Sharjah, historiador de formação, dedicou financiamento, por exemplo, à reconstrução do antigo mosteiro de Haghartsin, na Armênia, que se encontrava parcialmente destruído. «Para ele, aquela igreja era um patrimônio cultural muito valioso e por isso quis restaurá-la e torná-la acessível, pois a estrada estava em ruínas», conta Wael Farouq.
«Entre o público, enquanto correm as imagens do mosteiro armênio, uma mulher começa a chorar. Ela é da Armênia e estava no Meeting convidada casualmente por uma amiga. O mosteiro que via na tela era “o seu”. Ao término do encontro, ainda entre lágrimas, ela se aproximou timidamente para agradecer». Al Ameri ficou impactado diante da comoção da mulher. Alguém a grava em vídeo e as imagens chegam até o emir de Sharjah, o Sultão III bin Muhammad al-Qasimi. «Trabalho como professora na Universidade de Yerevan e no verão acompanho como guia turística os visitantes deste mosteiro. Conto a todos quem e por que foi restaurado. Ver hoje no Meeting essas imagens me comoveu e quero agradecer pessoalmente a quem permitiu tudo isso, em nome do meu povo». Por sua vez, a milhares de quilômetros de distância, o emir fica tão comovido diante do choro de uma mulher cristã desconhecida que coloca sobre a mesa de seus colaboradores a construção de mais igrejas em Sharjah.
«Este emir é um historiador, um intelectual que publicou mais de 50 livros e, entre outras coisas, financiou a restauração da biblioteca mais antiga da Itália, em Bolonha – explica Farouq –. É um homem profundamente apaixonado pela história e quando vê algo belo desmoronando faz tudo o que pode para salvá-lo. Ele fez isso no mundo islâmico, mas também começou a fazê-lo no mundo ocidental por amor à história e à beleza. É um homem que sabe se comover e por isso não foi insensível ao choro e à gratidão sincera desta mulher armênia. Naquela mesma noite disse à sua família que tinha intenção de trabalhar para construir novas igrejas em Sharjah». Um pequeno grande milagre.