O ouro de Nápoles
Um apartamento no bairro Forcella, para jovens em situações especiais. Depois a ajuda às famílias, o reforço escolar... E as variadas necessidades que se encontram por toda parte nos becos. A vida num convento que é “um dom” para toda a cidadeBonny, Sachinta, Rosa, Antonio, Matteo, Gaetano e outras crianças (com mais de 6 anos) vêm todos os dias à “Casa Luisa”, um apartamento lindo, organizado, no bairro Forcella, no coração da Nápoles antiga (a da Camorra...). Comem, fazem as tarefas, riem, brincam, ficam juntas até a noite. Em casa não há ninguém para cuidar delas. Têm situações familiares difíceis, às vezes dramáticas, mas aqui a vida é, para elas, um abraço forte, que as faz florescer.
O abraço está no olhar de irmã Pi (seu nome é Pina), irmã Luisa, irmã Lavinia e as outras cinco irmãs de Caridade da Assunção, uma congregação que nasceu dentro da experiência do Movimento Comunhão e Libertação. Percebemos isso logo que entramos em contato com as crianças, com as irmãs, com as educadoras. Há algo que vem antes da ordem, da limpeza, da simpatia. Que não depende da bravura ou eficiência dessas mulheres. Existe Alguém que, aqui, é carne e osso e dá sentido a cada gesto, a cada palavra. Talvez seja por isso que um sentimento toma conta do nosso coração: essa caridade é um dom para mim. E isso é só uma antecipação.
O convento no beco Paparelle, praticamente no limite entre Forcella e Spaccanapoli, nasceu na sacristia e nos anexos da igreja de São Camilo de Lellis, que os camilianos, em 1991, colocaram à disposição das irmãs para começarem a sua obra. É um contínuo movimento de subir e descer escadas e percorrer estreitos corredores.
Pina conta: “Cheguei em 1990. E no início, para mim, nascida e crescida em Lecco, não foi nada fácil. Numa semana me roubaram três vezes. Em 91 começamos o reforço escolar. Em 98 assinamos um acordo com o Prefeito e pudemos contratar educadoras. Hoje são quase setenta crianças – dos níveis fundamental e médio. Há de tudo: do filho da prostituta ao de uma família regular. Não queremos criar um gueto”.
E a Casa Luisa, como surgiu? “Em 2006 uma senhora nos fez uma doação em dinheiro para dar vida a uma obra educativa para crianças em dificuldade. No início, achávamos que não tínhamos a força necessária. E, ao contrário, aos poucos recebemos sinais inequívocos. Depois de alguns meses, a fundação Oliver Twist, que procurava em Nápoles uma associação para abrir uma casa de acolhimento, faz contato conosco. Os fundos existiam, mas faltavam os locais. Começamos a procurar nas proximidades, porque os queríamos perto do convento. E numa manhã a placa “vende-se” aparece num prédio a vinte metros... a Casa Luisa foi inaugurada em 2008”.
E as crianças, como é que elas chegam a vocês? “Em geral, são os serviços sociais que nos indicam. Alguns começaram no centro de verão com as crianças do reforço escolar, quando nós nos transferimos para o mar. De manhã até a noite”.
“Pina, você está feliz aqui?”. “Eu me apaixonei por Nápoles por causa do dom da vocação. Porque Jesus me quer aqui, nesse lugar, nessas condições. Do contrário...”. Ela me apresenta Tonia, mãe de Rosa, a menina com síndrome de down que encontramos na Casa Luisa e que praticamente vive com as irmãs desde que era pequena, pois a mãe precisava trabalhar. De manhã ajuda irmã Luisa a fazer as compras e a preparar o almoço para as crianças. “Eu conheci as irmãs através da minha filha mais velha, Lia, no reforço escolar. Tomaram conta da Rosa e de mim. Nunca me deixaram. Quando precisei, vieram aqui até de noite, interromperam suas férias. Elas têm o dom de olhar o bem que cada pessoa carrega dentro de si. Através delas, compreendi por que Rosa nasceu: foi para encontrá-las. Hoje a minha vida, sem essa filha, não valeria nada. Você se lembra, Pina,quando fizemos Tonia. Para um pouco e depois recomeça: “A relação entre mim e Pina é o de mãe e filha. Ela é minha mãe. Há alguns anos faço Escola de Comunidade com elas. A vida fica mais simples se a gente a compreende”.
Irmã Giovanna coordena os meninos do reforço escolar. Primeiro o jogo e, depois, os deveres. A ajuda dos educadores e dos assistentes sociais é importante. Não só para as crianças. Alessandra trabalha com as irmãs há dez anos: “Não troco por nada; este posto é meu. Nunca ficamos sozinhos. É diferente a relação que se instaura com as crianças, aprendemos a aceitá-las como elas são e a desilusão não é mais fundamental”.
Cada uma das irmãs conta coisas da própria história. Para todas, com acentos diversos, por estradas às vezes inesperadas, o encontro com Dom Giussani e com o Movimento foi o despertar da própria vocação: a total dedicação a Deus. Que doa a cada uma um amor impensável. Como fizeram o voto de virgindade, as presenteia com o fato de serem mães daqueles que Deus confia a elas. Como Emilia: “Todas as manhãs visito uma família. Desperto a mãe, os filhos e levo as crianças à escola. Com irmã Lavinia, há alguns anos, procuramos levar a paz ao seio de uma família dividida por muitos problemas. Quando a filha mais velha ficou grávida, ela veio até mim, não sabia o que fazer. Eu a acompanhei quando foi fazer a primeira ecografia. Choramos juntas”.
Giovanna, além do reforço escolar, acompanha os Cavalieri (a proposta de uma experiência cristã para os jovens do ensino médio). “Para alguns adultos do Movimento, essa foi a ocasião para um renascimento. Através dos filhos, reconstruíram o encontro. O laço com as crianças continua mesmo depois que se tornam adultos. Nós os ajudamos a escolher a escola. Às vezes, depois de anos, vêm nos encontrar.
Uma frase de Dom Giussani escrita na parede da Casa Luisa representa com fidelidade a vida das irmãs. “A essencialidade da vossa origem está na unidade profunda entre missão e vida religiosa. E a missão é que o coração vá ao encontro das necessidades dos outros, porque também eles vivem com Ele, como com alguém que se ama”.