A verdade nos torna livres

Artigo publicado no editorial do diário de Tarento (Itália) "La Gazzetta del Mezzogiorno" do dia 29 de maio de 2012
Dom Filippo Santoro

"Nihil sub sole novi", não há nada novo sob o sol (Ecl. 1,10) diz, não sem sarcasmo, a Sagrada Escritura. À luz desta sábia Palavra, gostaria de observar as perturbadoras notícias sobre os assuntos dos chamados corvos do Vaticano. Embora sejam acontecimentos desagradáveis que certamente causam dor à Igreja e ao Papa Bento XVI, é necessário descrevê-los sem generalizações que falsamente estigmatizam uma corrupção desenfreada estendida a toda a Igreja. Querem pintar o Santo Padre como um velho que não controla poderes ocultos. Realmente é grotesco o circo midiático que até recentemente descrevia Bento XVI como o tanque cardeal Ratzinger, elevado com segurança ao trono papal e que agora, ao invés, serve como um avô cansado, que às vezes é triste e, por vezes, toma decisões batendo o punho.

Mas onde está a verdade? Em cada comunidade de homens, como a Igreja, há divisões, facções e dificuldades de todo tipo. Mas isso não pode ignorar o tesouro que esta comunidade de homens, que é a Igreja, contém em si e que vem de um Outro presente nela até o fim dos tempos. Os erros devem ser reconhecidos e corrigidos e, depois, tornam-nos mais humildes, mais atentos para não cair, e, sobretudo, mais confiantes na única Presença que salva.

A comunidade apostólica nunca fez segredo da ferida profunda causada pela traição de Judas. A insistência de Jesus em sua oração sacerdotal no capítulo 17 de João implorando com insistência a unidade para os seus amigos, é sintomática do desafio que acompanhará sempre a Igreja, ou seja, aquela de permanecer una, conservando o vínculo indispensável da paz. É lógico que o sucessor de Pedro, que é o guardião da unidade da Igreja, seja o ponto de incidência de tantas forças que querem reduzir a Igreja a um dos muitos jogos de poder deste mundo e a uma das peças do círculo da mídia.

Como bispo, não me sinto à mercê das ondas, sinto que o braço de Pedro mantém o leme em linha reta: o testemunho e o magistério de Bento XVI estão longe de serem incertos. Não há nenhuma palavra do Papa que não tenha como ponto de referência o Cristo rocha, o Cristo Mestre, o Cristo vida para todos. No mundo, o Evangelho, mesmo entre diversas dificuldades, continua a florescer em uma perene nova primavera. Por isso somos gratos e profundamente unidos em torno do Vigário de Cristo.

Nós não desanimamos e não perdemos a confiança; confiamos na justiça de Deus, esperando que também aquela dos homens faça o seu curso. Ao invés, peçamos por quem neste momento é causa de escândalo, porque, no Evangelho, o Senhor certamente não usa de palavras doces para com estes irmãos. Não devemos nos deixar levar por este turbilhão de notícias que assume todos os dias, não sem malícia de quem relata os fatos e reconstruções, os tons de uma investigação mesquinha que, além da devida atenção aos fatos, muitas vezes tende a ampliar os escândalos como se tudo estivesse à mercê das ondas. Não estamos à mercê das ondas, apesar de entristecidos por uma certa lógica do espetáculo que atinge também internamente a Igreja, - isso deve ser justamente julgado -, ao violar a privacidade e a discrição necessárias de quem se refere ao Santo Padre como suprema instância de juízo. E também sobre a questão do poder, o Senhor quando previu a traição de Judas, disse: "Eis que a mão daquele que me trai está comigo à mesa... Eu, porém, estou entre vocês como aquele que serve" (Lc 22, 21). E o Papa Bento XVI, que queria se aposentar após um longo serviço prestado à Igreja, aceitou ser um humilde servo da vinha do Senhor.

Por isso, ressalto, finalmente, dois aspectos importantes. O primeiro é que a traição de Judas no Cenáculo não pode obscurecer a vontade de Jesus de doar-se a nós na cruz, no pão e na ressurreição. De fato, o dom parece assumir a maturação perfeita, o seu pleno cumprimento, somente no momento em que o Senhor se permite entregar, trair. O amor é mais forte do que a traição e a desconfiança. A segunda é que não devemos ter medo do que vemos na imprensa porque temos como critério a verdade que sempre se afirma para além do jogo da mídia e como o Senhor diz: "a verdade vos libertará" (Jo 8, 32).

Dom Filippo Santoro
Arcebispo de Tarento