Giovanni Paccosi, a ordenação episcopal
«Responder a esse Amor infinito que me tira do nada, instante após instante. Assim é a vida». As palavras do novo bispo da diocese de San Miniato no final da celebração na catedral de Florença«Deus me chamou do nada. Entre bilhões de seres possíveis, Ele me escolheu e me chamou. Minha vida é constituída por esse chamado. Minha vida continua porque Ele continua a me chamar, impedindo-me de recair no silêncio do nada do qual fui tirado. Minha vida é uma Voz que me chama, a poderosa Voz d’Aquele a quem se deve tudo o que existe; minha vida é resposta a essa Voz que chama». (L. Giussani, Porta la speranza, Gênova: Marietti 1820, 1997, p. 164)
Aos dezesseis anos, as palavras de Dom Giussani foram as primeiras que começaram a esclarecer o emaranhado de desejos, queixas e expectativas com que eu olhava minha vida de adolescente. Responder a esse Amor infinito me tira do nada, instante após instante. Assim é a vida. Desde então (se passaram 47 anos…) a batalha, o drama, consiste em ser fiel a essa descoberta, tentando responder a Sua presença, que sempre me surpreende, como me surpreende agora com este novo chamado.
O que prevalece em mim é a gratidão pela misericórdia com que Deus me olha, Ele que conhece toda a minha miséria e apesar disso me ama. Sinal desse amor em minha vida é a imensa quantidade de testemunhas e amigos que não posso enumerar sem esquecer alguns deles.
Quero agradecer a todos os presentes, irmãos bispos, sacerdotes, diáconos, autoridades civis e militares, e a todos vocês, amigos e familiares que estão aqui.
Mais especificamente, quero agradecer a meus pais e a toda a família que nasceu deles e que é para mim testemunho da fé, com meus irmãos, cunhados e sobrinhos. Também aos amigos que – desde aqueles dezesseis anos – compartilharam comigo a aventura da fé, dos quais só cito Andrea Bellandi, que me acompanha até no chamado a ser bispo, e Paolo Bargigia, que sempre foi o mais astuto de todos nós e já está no céu. Obrigado aos papas que conheci e que tanto amei, e agora ao Papa Francisco, que é para mim todos os dias um exemplo de seguimento radical a Jesus. Obrigado aos bispos, a todos vocês que me impuseram as mãos, com os quais se estabeleceu um vínculo especial para sempre. Quero recordar especialmente o Cardeal Benelli, de quem nunca pararia de falar e por isso melhor nem começo; o Cardeal Piovanelli, que me ordenou e me enviou de missão; Dom Gualtiero, ou seja, o Cardeal Bassetti, que nunca foi meu bispo, mas que foi para nós e para mim um pai, e continua sendo; ao Cardeal Antonelli, também aqui presente, que sempre me manteve próximo como um pai, mesmo estando eu, durante todo o seu episcopado, no Peru, onde quis me visitar e onde meu deu a companhia de Dom Paolo. Do Cardeal Betori, meu querido Dom Giuseppe, não direi nada, basta o que ele disse na homilia, onde descreveu o pastor que vi nele e que me chamou amigo. Que graça foi ter tido vocês ao meu lado! Vocês me acompanharam nas etapas de minha juventude e de meu sacerdócio.
Conheci e tive diante de mim muitos santos, sacerdotes e leigos, alguns estão a caminho dos altares. Entre eles recordo em primeiro lugar Dom Giussani: sem seu carisma, eu e milhares de jovens em todo o mundo não teríamos descoberto Jesus como presença viva a quem dar tudo; Giorgio La Pira, que me conhecia pelo nome; Divo Barsotti, que me queria especialmente bem e que uma vez (eu já posso contar isso) me disse que algum dia eu seria bispo: eu esperava que ele não fosse profeta… Enzo Piccinini, Andrea Aziani e tantos outros que não cito porque são esses “santos da porta ao lado” que talvez não chegarão aos altares (alguns talvez sim), mas cuja santidade é evidente para mim.
Mas recordo três deles. Uma mulher em cadeira de rodas que não podia falar e que eu costumava visitar em Scandicci, na primeira paróquia onde eu era vice-pároco, e que tenho certeza de que ela via Nossa Senhora e oferecia sua própria vida pela Igreja. Uma velha doente, acamada durante anos em Lima, que me dizia que os dias eram muito curtos e não dava tempo para ela rezar por todos. Finalmente, também em Lima, outra mulher que vivia em um barraco de papelão, ela tinha um tumor e me perguntava se sua oração era correta. Ela rezava assim: «Agradeço-te, Senhor, porque me amas tanto, porque me dás tudo, o sol, a água, a vida». Não recordo o nome de nenhuma das três, mas Jesus sabe o nome delas.
Não quero alongar muito estas palavras e só digo que espero não ser demasiado indigno da tarefa que o Papa Francisco me confia. Já amo o povo da diocese de San Miniato, tão numeroso aqui hoje, e farei tudo o que puder para acolher, acompanhar e guiar a comunidade diocesana e esta gente desta parte da Toscana tão bonita e trabalhadora. Tive grandes predecessores (Dom Fausto e Dom Andrea, que estão aqui) que pavimentaram meu caminho. Ajudem-me a seguir o caminho para que todos possam encontrar em Jesus o caminho de sua vida, a qual, como eu disse no início, quando se entende o que é a vocação, se torna uma grande aventura.
Permitam-me concluir com duas palavras que gostaria de dirigir aos muitos amigos do Peru e de tantas partes da América Latina que acompanham esta celebração pela internet.
Queridos amigos, obrigado! Sua companhia na fé, seu testemunho cheio de alegria e de esperança me ajudam dia após dia a viver com a consciência de que o dom de Cristo é para todos e que o ímpeto para que todo o mundo o encontre vence as distâncias e as diferenças. Caminhamos juntos.
Que Deus os abençoe.
Giovanni Paccosi
Florença, 5 de fevereiro de 2023