Quem são os novos mártires? Quem são aqueles que ainda hoje são perseguidos e mortos por sua fé em Cristo? Não se trata de números, nunca foi, embora – como o Papa Francisco lembrou há alguns dias, quando anunciou ter instituído no Dicastério para as Causas dos Santos a Comissão dos Novos Mártires – Testemunhas da Fé, em vista do Jubileu de 2025 –, «os mártires são mais numerosos em nosso tempo do que nos primeiros séculos: são bispos, padres, consagrados e consagradas, leigos e famílias, que nos diferentes países do mundo, com o dom de suas vidas, ofereceram o supremo testemunho de caridade». Daqui vem a ideia do pontífice de tentar reunir todas as suas histórias, seguindo a via já traçada por Bento XVI e São João Paulo II. Este último, de fato, na carta Tertio millennio adveniente, havia enfatizado que é necessário fazer tudo para que a herança dos «soldados desconhecidos da grande causa de Deus» não se perca. É o que Francisco chamou várias vezes de “ecumenismo do sangue”.

Algumas de suas vidas são conhecidas, outras menos. Muitos lembrarão do assassinato do jesuíta Frans van der Lugt na Síria, em Homs, em abril de 2014. Padre Frans, de origem holandesa, vivia no país do Oriente Médio desde 1966 e, quando a guerra começou, recusou-se a deixar as pessoas de sua comunidade. Ele era o último padre remanescente em Homs e, numa carta aos seus superiores, poucos meses antes de ser morto, escreveu: «Aqui, dezenas de milhares de cristãos foram reduzidos a apenas 66. Como posso deixá-los sozinhos? O povo sírio me deu tanto, tudo o que tinham. E se agora as pessoas estão sofrendo, eu quero compartilhar a dor delas».

E como esquecer a imagem dos 21 cristãos coptas ortodoxos ajoelhados, vestindo macacões laranjas usados pelo ISIS para prisioneiros, executados sumariamente nas costas da Líbia em 15 de fevereiro de 2015 pelos terroristas? Neste ano, o sacrifício deles também foi reconhecido pela Igreja Católica, que os incluiu no Martirológio Romano como um sinal de comunhão espiritual com a Igreja Copta Ortodoxa, liderada por Sua Santidade Tawadros II, o Papa de Alexandria.

Há nomes que nos trazem à mente outras histórias semelhantes, como a da Irmã Maria De Coppi, religiosa comboniana morta num ataque terrorista em Moçambique em 2020, ou a do padre Jacques Hamel, pároco da cidade francesa de Rouen, degolado no altar de sua igreja enquanto celebrava a Missa. A mesma coisa aconteceu com o padre Olivier Maire, morto em 2021 por um ruandês que, meses antes, já havia incendiado a catedral de Nantes. E o que dizer dos muitos religiosos e religiosas mortos no México, Nigéria, Haiti, por se oporem aos narcotraficantes, milicianos ou grupos armados? Entre eles estava também a Irmã Luisa Dell’Orto, assassinada em 25 de junho de 2022 em Porto Príncipe, capital da ilha caribenha. Por vinte anos, ela trabalhou no Haiti num centro, o Kay Chal (Casa São Carlos), onde acolhia os órfãos e os mais pobres da cidade.

A lista é interminável, abrange todos os continentes e não se limita apenas a pessoas consagradas. Na verdade, milhares de cristãos, incluindo muitos jovens, foram mortos por ódio à sua fé. Muitos deles são desconhecidos. Um dos últimos acontecimentos ocorreu no final de junho. Em Uganda, um grupo de homens armados entrou nos dormitórios de uma escola em Mpwonde durante a noite e, após pedir que os presentes de fé muçulmana se retirassem, massacraram com machados crianças cristãs com idades entre 12 e 17 anos. O relato é cruel: após a violência, eles trancaram as portas dos dormitórios e atearam fogo em tudo. Trinta e sete meninos e meninas e quatro adultos, incluindo o diretor da escola que correu para ajudar os alunos, morreram. Não foi possível identificar os corpos, pois estavam completamente carbonizados. Quem eram esses jovens, suas famílias e suas vidas? O que significava para eles serem cristãos e cantar louvores juntos todas as noites (como testemunhou uma das sobreviventes), compartilhando os dias de estudo com outros estudantes muçulmanos? O que será que pensaram enquanto estavam sendo mortos?

Uma pergunta que também vale para Maryam, que em 2015, em Mosul, viu o marido e os filhos morrerem por se oporem aos milicianos do Estado Islâmico, e que vale para Basharat Masih, um cristão paquistanês viúvo e pai, assassinado em março passado por vingança: ele lutou para trazer de volta sua filha de doze anos, Hoorab, sequestrada em dezembro por um comerciante que a converteu à força ao Islã para poder casar-se com ela. Gostaríamos de poder contar e dar um rosto também aos milhares de cristãos mortos nos últimos anos no Quênia, Moçambique, Burkina Faso, Nigéria, Somália, Iraque, Síria, Irã, Colômbia, México, Índia, Sri Lanka… A lista é longa e dolorosa.

O martírio dos cristãos, no entanto, não é apenas obra de fanáticos terroristas; muitas vezes, são os governos dos países onde a comunidade cristã é uma pequena minoria que os perseguem. Basta pensar na Coreia do Norte, onde a ditadura considera as religiões uma distorção do sistema: quem é pego com uma Bíblia ou símbolos religiosos arrisca a pena de morte ou ser internado em campos de prisioneiros (segundo os últimos dados da Open Doors, há pelo menos 70 mil cristãos detidos sem julgamento no país), onde estupros, trabalhos forçados e execuções sumárias são a norma. Não é melhor no Afeganistão, onde a comunidade cristã vive na clandestinidade por medo do regime talibã, ou na China, onde a liberdade religiosa é uma miragem.

Muitas vezes, esses estados perseguem não apenas os cristãos, mas também outras minorias religiosas, como no caso dos uigures confinados nos campos de trabalho ilegais chineses de Xinjiang ou em Mianmar, que mata e força ao exílio os muçulmanos rohingya, vítimas de uma verdadeira limpeza étnica. Nos últimos anos, o Papa Francisco quis estar próximo de todos eles com suas quase sessenta viagens – do Iraque à África, passando pela Turquia, Armênia, Bangladesh, Cuba, Sri Lanka, Filipinas e Mianmar, entre outros – e agora com a escolha desta Comissão. Porque o ecumenismo, como ele lembrou várias vezes em suas viagens, não é mera diplomacia ou estratégia, mas um caminho de conversão pedido a todos. Um caminho que também passa pela redescoberta da unidade entre as diferentes igrejas, olhando para os mártires de ontem e de hoje, como Francisco lembrou em 2014: «Em alguns países, matam os cristãos porque eles carregam uma cruz ou têm uma Bíblia, e antes de matá-los, não perguntam se são anglicanos, luteranos, católicos ou ortodoxos. Estamos unidos numa única ferida».