Oriente Médio. «Quanta luz faz uma pequena chama»
Uma história tumultuada, ainda hoje, entre opressões e perseguições. Mas que não esconde sinais de paz, diálogo e esperança, enquanto a vizinha Terra Santa arde. O cardeal caldeu Sako relata a presença cristã no Curdistão e no IraqueO conflito na Terra Santa trouxe de volta os holofotes para a cada vez mais escassa presença dos cristãos no Oriente Médio. Forçados a abandonar suas terras por causa de discriminação, guerras e terrorismo, são poucos os que escolhem permanecer. No entanto, há quem fique. E não ficam por falta de alternativas, mas «por amor». Isso é relatado pelo Cardeal Raphael Louis Sako, Patriarca da Igreja Caldeia. Ele próprio, que nestes meses está sofrendo uma perseguição infamante no Iraque (em julho passado o Chefe de Estado, Abdul Latif Rashid, revogou o decreto histórico que reconhecia o Cardeal como líder da Igreja iraquiana e administrador dos bens eclesiásticos), decidiu mudar-se de Bagdá para Erbil, no Curdistão iraquiano, para permanecer perto dos cerca de meio milhão de cristãos que ainda moram no país.
«Na dificuldade, a nossa Igreja é viva, dinâmica, onde a participação na missa e a fidelidade à eucaristia são comoventes. E os cristãos, aqui, vivem um grande serviço de caridade para com todos, incluindo os muçulmanos. Com este amor, aguardamos o Natal, que para nós será uma celebração sóbria, essencial, sem triunfalismos, porque a situação em que vivemos assim o impõe. Mas no centro estará sempre o Menino Jesus». O cardeal fala de si mesmo, não evita questões pessoais. E assim, quando lhe perguntamos o que deseja para este Advento, não se recusa. «Peço a Jesus para viver, antes de tudo, uma espera fundada na esperança. O Advento é um caminho, um tempo que usarei para orar a este Menino. Seu nascimento é um presente para todos, mas a cada ano eu devo redescobri-Lo, ouvi-Lo novamente, amá-Lo novamente. A oração é condição necessária para a esperança: se eu espero, vivo um dinamismo interior que me faz perguntar, me faz ajoelhar».
Ele também vai rezar pelas comunidades confiadas a ele, num país onde a situação econômica é frágil e onde os ataques contra cristãos são diários: desde a exclusão do trabalho até a apropriação de suas propriedades, e a mudança demográfica sistemática de suas cidades na Planície de Nínive (a área historicamente habitada pelas comunidades cristãs). O massacre na catedral de Nossa Senhora em Bagdá em 2010, quatro anos depois da chegada do Isis, com o assassinato e o êxodo de centenas de milhares de cristãos. Depois, a instabilidade política, as brigadas pró-iranianas que discriminam os não muçulmanos, o terrível incêndio em Qaraqosh que há apenas dois meses matou mais de cem cristãos durante um casamento e, finalmente, o recrudescimento das tensões entre israelenses e palestinos com repercussões em toda a região.
«Entendo muitas famílias cristãs que decidem deixar o Iraque e o Oriente Médio para buscar um futuro melhor para si e seus filhos. Mas olho com esperança para a tenacidade com que muitos outros permaneceram, lembro-me das palavras do Papa que veio ao Iraque para nos lembrar que somos todos irmãos. Hoje sofremos, mas temos uma vocação aqui. Não nascemos por acaso no Iraque, na Síria, no Líbano ou na Terra Santa: somos chamados a ser missionários com o nosso Batismo. Este foi um ponto central do Sínodo que acabou de passar: todo batizado deve viver plenamente sua fé para transmiti-la ao mundo. Nós, cristãos do Oriente Médio, com nossa presença, testemunhamos a todos uma fraternidade. Nossas pequenas comunidades cristãs são o sal da terra: somos infinitamente pequenos, somos como velas. Mas se há escuridão, quanta luz pode fazer até uma pequena chama! Isso é possível por meio de coisas muito concretas: foi estabelecido, por exemplo, um comitê de diálogo entre cristãos, xiitas, sunitas, yazidis no Iraque, e em toda a região do Oriente Médio, as comunidades cristãs estão envolvidas na educação, na cultura, na caridade para viver na fidelidade, na paz, no perdão. Nossa fé é uma fé fecunda. Nossa tarefa é preparar o terreno para o futuro, para os homens de amanhã. Porque as guerras acabarão, a paz virá e será necessário homens e mulheres livres para reconstruir».
Por isso, o recente Sínodo para o Cardeal foi «um momento de grande graça», tanto que numa de suas últimas homilias ele se viu desejando ao mundo muçulmano que possa viver um confronto igualmente aberto e apaixonado. «Espero que os muçulmanos também possam experimentar uma verdadeira sinodalidade para descobrir a beleza de sua fé. Acho que eles precisam se confrontar mais com os problemas da modernidade, enfrentar temas desconfortáveis como a exegese ou a interpretação do Alcorão. As autoridades religiosas muçulmanas devem fazer algo, pois há uma mentalidade fechada e rígida. Se não se oferece algo interessante, onde um jovem vai buscar?»
Para viver uma unidade e tentar sair das guerras que periodicamente devastam os países do Oriente Médio, para o Cardeal não existe outra via senão «uma conversão do coração profunda e radical. E é preciso ter a coragem de se abrir também para quem é diferente. Da unidade nasce uma fecundidade que depois contagia a política, a sociedade. Isso vale também entre nós cristãos, que às vezes nos perdemos em nossas escaramuças. Atenção, quando falo de unidade não quero dizer uniformidade: é bonito ter liturgias diferentes, línguas diferentes, tradições diferentes, mas no centro não devemos esquecer que está Cristo. Cristo – nos ensina o Natal – é o que o mundo espera».