Dom Luigi Giussani (Sergio Assandri / Arquivo da Fraternidade de CL)

«O cristianismo como acontecimento hoje»

No 19º aniversário da sua morte, a versão integral do texto inédito que será publicado na Passos de março: as anotações de uma conferência de Dom Luigi Giussani em 1992

Moderador. Dom Giussani vai falar esta noite sobre o tema: “O cristianismo como acontecimento hoje”, que é a genialidade segundo a qual a experiência que ele gerou e viveu, na Igreja e para a Igreja hoje, tocou a todos nós. Depois haverá espaço para algumas perguntas.

Luigi Giussani. Objetivamente, acho que o significado do tema (“O cristianismo como acontecimento hoje”) é ditado pelo fato de que hoje a palavra “cristianismo” é mais facilmente identificada com uma série de valores morais ou com uma pregação dos valores morais, com uma preocupação de valores morais. Não estou dizendo, porém, que o cristianismo não se interesse por valores morais, digo simplesmente que o cristianismo absolutamente não coincide com a pregação de valores morais. Se assistimos à Missa do domingo passado, a belíssima parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18,9-14) surpreendeu-nos mais uma vez: surpreende-nos sempre, no fim, quando diz que o publicano saiu do templo perdoado, “justificado”, em ordem, em paz, enquanto o fariseu, que se vangloriara de todas as coisas boas que fizera – e não dizia mentiras, Cristo não disse: “O fariseu disse mentiras”, de forma alguma –, saiu condenado. Não é imediatamente necessário elucidar o porquê último desta oposição; pode ser que venha como conclusão de outros pensamentos. Mas quero dizer que o importante, para alguém que deve falar de cristianismo, pensar no cristianismo ou viver o cristianismo, o principal é exatamente isto: o centro do nosso interesse ou da nossa vida não pode consistir apenas em valores morais que, com nossa força de vontade, consigamos traduzir em ato. O cristianismo é um fato, um acontecimento, um fato objetivo: ainda que ninguém mais acreditasse, não poderia ser eliminado. Não há raciocínio que resista: “Contra factum non valet illatio”, contra um fato é inútil, não é possível opor um raciocínio a um fato, a força de um raciocínio a um fato…