(Foto: Unsplash/Priscilla du Preez)

O Papa: «Eutanásia, fracasso do amor»

Mensagem de Francisco aos participantes do primeiro simpósio internacional inter-religioso sobre cuidados paliativos, que ocorreu no Canadá: «Ajudar os doentes e moribundos a perceber que não estão isolados ou sozinhos, que sua vida não é um peso»
Papa Francisco

Ofereço cordiais saudações e os melhores votos a todos os participantes do primeiro Simpósio Internacional Inter-religioso sobre Cuidados Paliativos, patrocinado conjuntamente pela Pontifícia Academia para a Vida e pela Conferência Canadense de Bispos Católicos, e agradeço aos respectivos presidentes, Arcebispo Vincenzo Paglia e Bispo William McGrattan. Sou igualmente grato aos palestrantes do Simpósio e a todos os que trabalharam para tornar este encontro possível.

O tema que vós escolhestes, Rumo a uma narrativa de esperança, é tão oportuno quanto necessário. Hoje em dia, ao testemunhar os trágicos efeitos da guerra, violência e injustiça de várias formas, é muito fácil sucumbir à tristeza e até ao desespero. No entanto, como membros da família humana e especialmente como crentes, somos chamados a acompanhar, com amor e compaixão, aqueles que lutam e têm dificuldade em encontrar razões para ter esperança (cf. 1Pd 3,15). De fato, a esperança é o que nos dá força diante das questões levantadas pelos desafios, dificuldades e ansiedades da vida.

Isso é ainda mais verdadeiro ao enfrentar uma doença grave ou o fim da vida. Todos os que experimentam as incertezas tão frequentemente provocadas pela doença e pela morte precisam do testemunho de esperança fornecido por quem cuida deles e permanece ao seu lado. Nesse sentido, os cuidados paliativos, ao buscar aliviar o fardo da dor tanto quanto possível, são acima de tudo um sinal concreto de proximidade e solidariedade com nossos irmãos e irmãs que estão sofrendo. Ao mesmo tempo, esse tipo de cuidado pode ajudar os pacientes e seus entes queridos a aceitar a vulnerabilidade, fragilidade e finitude que marcam a vida humana neste mundo.

Aqui, gostaria de destacar que os cuidados paliativos autênticos são radicalmente diferentes da eutanásia, que nunca é uma fonte de esperança ou preocupação genuína pelos doentes e moribundos. Pelo contrário, é um fracasso do amor, um reflexo de uma “cultura do descarte” na qual “as pessoas já não são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar” (Fratelli tutti, 18). De fato, a eutanásia é frequentemente apresentada falsamente como uma forma de compaixão. No entanto, “compaixão”, uma palavra que significa “sofrer com”, não envolve o fim intencional de uma vida, e sim a disposição de dividir os pesos daqueles que enfrentam os estágios finais de nossa peregrinação terrena. Os cuidados paliativos, portanto, são uma forma genuína de compaixão, pois respondem ao sofrimento, seja físico, emocional, psicológico ou espiritual, afirmando a dignidade fundamental e inviolável de cada pessoa, especialmente dos moribundos, e ajudando-os a aceitar o momento inevitável da passagem desta vida para a vida eterna.

Nesta perspectiva, nossas convicções religiosas oferecem uma compreensão mais profunda da doença, do sofrimento e da morte, vendo-os como parte do mistério da providência divina e, para a tradição cristã, um meio de santificação. Ao mesmo tempo, as ações compassivas e o respeito demonstrado pelos dedicados profissionais de saúde e cuidadores frequentemente criam a possibilidade para quem está no fim da vida de encontrar conforto espiritual, esperança e reconciliação com Deus, familiares e amigos. De fato, seu serviço é importante – eu diria até essencial – para ajudar os doentes e moribundos a perceberem que não estão isolados ou sozinhos, que suas vidas não são um peso, mas que sempre permanecem inerentemente valiosas aos olhos de Deus (cf. Sl 116,15) e unidas a nós pelos laços de comunhão.

Queridos amigos, encorajo-vos a todos em vossos esforços para avançar nos cuidados paliativos com os mais vulneráveis de nossos irmãos e irmãs. Que vossas discussões e deliberações nestes dias vos ajudem a perseverar no amor, dar esperança aos que estão no fim da vida e promover a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Sobre vós e vossos entes queridos, invoco as bênçãos divinas de sabedoria, força e paz.


Traduzido de vatican.va