O encontro que sacudiu o Palácio de Vidro
A apresentação do Meeting de Rímini em Nova York. Um jurista judeu, um docente egípcio e uma professora italiana contaram como se tornaram amigos. E qual é o caminho do verdadeiro diálogoNo último dia 19 de maio o Meeting de Rímini chegou à sede das Nações Unidas, na Sala de Conferências n. 6. Três pessoas, muito diferentes entre si, provocaram a curiosidade dos presentes, também em um lugar onde povos e culturas se encontram continuamente: um jurista judeu, Joseph Weiler, um docente egípcio de tradição muçulmana, Wael Farouq, e uma professora de línguas, Emilia Guarnieri, falaram sobre a amizade deles diante de uma centena de pessoas entre delegados, observadores e funcionários da ONU (Organização das Nações Unidas) e personalidades do mundo americano. Uma amizade que não se baseia sobre uma teoria de diálogo ou sobre o compromisso com a própria identidade, mas sobre a mesma experiência.
No site IlSussidiario.net, o jornalista Roberto Fontolan se perguntava: “Quem tem a força para abalar a estrutura inerte do Palácio de Vidro?”. Resposta: os fatos. “É a história dos canteiros de Danzica, da praça Tahrir no Cairo. E do Meeting di Rímini que se apresenta no Palácio da ONU”. E “experiência” foi a palavra mais repetida durante o encontro, que começou com a exibição de um vídeo em que os voluntários falam sobre a alegria de construir o Meeting e os convidados testemunham que ali “se vive essa amizade”. O Meeting é algo verdadeiro, algo que pode ser interessante também para a ONU, como disse Weiler, que usava um broche sobre a quipá com as cores verde-branco-vermelho em homenagem ao evento italiano: “O Meeting é um fenômeno que foge da experiência comum das Nações Unidas ou de política internacional. Não é uma organização política, não é uma organização para atividade de lobbying. É uma experiência humana, é a realização, em nível privado, dos mais profundos ideais das Nações Unidas: é a ONU da cultura”.
Abriu-se uma janela para o Egito com Wael Farouq, vice-presidente do "Meeting Cairo", experiência que, meses depois, ainda dá no que falar. É ele quem conta sobre o caminho de verdadeiro diálogo empreendido: “O grupo do "Meeting Cairo" comprometeu-se com a realidade egípcia... depois dos ataques à igreja de Alexandria, pegamos nas mãos as armas da beleza e da arte para enfrentar a violência. Quando a revolução começou, o grupo do "Meeting Cairo" foi para a frente de batalha e participou de todas as manifestações. Em seguida, a maior iniciativa talvez tenha sido a conferência que, no dia 7 de maio, envolveu 5 mil participantes na construção de uma frente liberal que assegurasse a civilização do Egito e uma coordenação entre os partidos liberais e os poderes políticos, para eleições presidenciais que estavam para acontecer”.
Algo que nasce do espírito do Meeting: “Aquilo que este grupo fez – e a sua existência mesma – nada mais é do que resultado da experiência que vivemos em Rímini”, continuou Farouq. “Uma experiência de libertação dos estereótipos e preconceitos. Redescobrimos e recuperamos a fé na nossa capacidade de fazer e de mudar. O verdadeiro diálogo é apenas uma experiência comum que não pode ser vivida sem os outros. É uma constante para a construção de si e do mundo... A diferença é a base do conhecimento e o diálogo é um dos instrumentos para consegui-lo, porque a eliminação da diferença para dialogar com o outro não é menos aberrante do que a eliminação do outro por causa da diferença”. Encerrando a sua fala, Farouq olhou para os amigos do Meeting, comovido, e disse: “Bless you, peacemaker”.
Dessa forma, Weiler tem razão: na ONU não estava presente uma organização, uma ONG, mas homens que disseram para si que é possível ter confiança nos homens. “Frequentemente, para definir o Meeting, dizemos que investimos no coração do homem”, contou Emilia Guarnieri: “‘Não devemos ter medo do homem’, disse João Paulo II, na ONU, em 1995. E, pouco antes, naquele discurso, ele havia convidado a ‘um esforço comum no sentido de construir a civilização do amor’, sublinhando que ‘a alma da civilização do amor é a cultura da liberdade’. E foi o próprio João Paulo II que, em 1982, usou, no Meeting de Rímini, as mesmas palavras: ‘Construir a civilização da verdade e do amor’. Não acredito que estas consonâncias, estes chamados de atenção sejam casuais”. O Meeting é indubitavelmente uma pequena realidade, mas como explicou Emilia Guarnieri: “Também nós nos sentimos descritos por esta tarefa de construção da civilização do amor, exatamente na medida em que nos sentimos definidos por aquela confiança no homem, que não se identifica com o otimismo irracional de quem não se dá conta da violência, da guerra, do mal que existe em torno de nós e dentro de nós. Mas, na vida cotidiana, e mesmo nestes trinta anos de Meeting, vimos tantos exemplos de beleza, de solidariedade, de grandeza, de esperança, de construção, de trabalho”.
Gerados por homens. O Meeting nasceu assim e continua a ser assim. Também na ONU, apostando no homem, no seu coração e na sua experiência da vida. Em Rímini, há um lugar de liberdade, no qual é possível se confrontar, olhar com seriedade para o próximo, aprendendo mais sobre nós mesmos e sobre os outros.