Victoria Martinengo em Dabaab

Os riscos aumentam mas, em Dadaab, a vida continua

Desde outubro, os fundamentalistas somalis de Shabaab se infiltram nos campos de refugiados
Victoria Martinengo

A grande emergência que atingiu o chifre da África, assistindo dezenas de milhares somalis escapar e chegar ao campo de refugiados de Dadaab, parece não mais estar em primeiro plano; o número de refugiados que chegam ao campo diminuiu drasticamente mas outro fator se insinuou, sobretudo desde outubro de 2011: Al Shabab, as milícias integralistas islâmicas.
A partir de outubro, com o rapto de duas trabalhadoras espanholas de MSF e quatro quenianos locais, estourou nova emergência. Desde então, o trabalho em Dadaab tomou uma forma diferente em que o objetivo não é mais o de socorrer os desesperados chegados da Somália mas adotar todas as medidas para evitar que o pessoal humanitário, a população local e os próprios refugiados sejam vítimas dos ataques terroristas.
As atividades nos campos prosseguem mas é preciso estar muito atento e seguir um protocolo de segurança drasticamente blindado. Todavia, estão garantidas todas as atividades estritamente ligadas à sobrevivência das pessoas, como a distribuição de alimentos, água e remédios. Todas as agências e ONGs tem limitado o número do pessoal em Dadaab e estão adotando ainda novas medidas de segurança. No drama, procura-se não piorar a situação já delicadíssima mas às vezes trabalhar assim parece quase frustrante. Entretanto, não se pode correr riscos, isto é claro.
Os ataques são contínuos tanto em Dadaab quanto na fronteira com a Somália, onde os alvos primordiais são os policiais e os civis inocentes. O pessoal humanitário está sempre sob risco de rapto; a Embaixada Italiana baixou uma proibição para os italianos de ir e residir em Dadaab. Outras medidas foram tomadas por outras embaixadas. A situação não é fácil: do combate à fome passou-se para um problema bem diferente e muito menos controlável.
Com isto tudo, também as atividades da AVSI tiveram que seguir um novo rumo, diminuindo de intensidade. Os muitos projetos de construção de escolas, asilos e bibliotecas e a formação de professores, financiados por vários doadores como UNHCR, UNICEF Cooperação Italiana e BPRM, que esperávamos concluir até dezembro, estão inevitavelmente sofrendo atrasos. Enquanto vigorar a proibição para técnicos e engenheiros de avaliar e monitorar o trabalho diretamente nos campos, é impossível prosseguir. Se antes se podia andar pelos campos de refugiados todos os dias e quase que sem problemas, agora cada visita tem que ser escoltada e não pode ocorrer mais do que duas vezes por semana. Se os episódios de violência se agravarem ainda mais, pode acontecer que nos peçam para nem mesmo sair do escritório.
No momento em que a AVSI se empenhava, por exemplo, a formação de um novo grupo de 210 professores, em colaboração com o Centro Educativo de Kampala e a Mount Kenya University, quase todo o trabalho foi suspenso por causa dos problemas de segurança. Também adiado para fevereiro, outro grupo de 60 professores que deveriam ter começado um curso sobre capacity building, ou seja, sobre sua própria capacidade. Há muito medo.
Enquanto uma parte do pessoal aguarda, para evitar criar problemas posteriores, há uma vida que continua em Dadaab. Isto é inevitável. As crianças vão à escola mas a tensão é palpável. Apesar do grande medo pelo futuro incerto, todo o nosso pessoal aqui em Dadaab é sempre positivo e cheio de boa vontade. Todos estão orgulhosos pelo grande trabalho feito até agora, todos juntos, e todos sabem bem que nada deve se perder.

(Victoria Martinengo, AVSI, Dadaab, Quênia)