Guido Piccarolo, Chris e alguns jovens do LAHH

Chris, o trabalho e os talentos enterrados no deserto iraquiano

Em Los Angeles, um dirigente da Disney se demite e começa uma obra para ajudar os ex-combatentes
Giorgio Vittadini

A história da Los Angeles Habilitation House, contada no último Meeting de Rimini, é um exemplo iluminado de que o significado do protagonismo social está mais fundamentado sobre o desejo irredutível do homem do que sobre suas habilidades e que habilidade e protagonismo nascem da certeza de sentir-se desejado e amado.

Em maio de 2004, Guido Piccarolo trabalhava como analista financeiro na produção de desenhos animados na Walt Disney Company e estava terminando um mestrado em Finanças e Negócios internacionais. Durante um dos últimos cursos, fica fascinado pelo modelo americano sem fins lucrativos que prevê a possibilidade de desenvolvimento de negócios para fins filantrópicos. Vai a Portland, no estado de Oregon, onde visita uma empresa na qual trabalham jovens com graves deficiências.

Enquanto passa pela linha de produção, alguns desses jovens se levantam e vão ao seu encontro, agradecidos e contentes. Decide que aquela é a atividade à qual deseja dedicar-se e, na primavera de 2008, junto com Nancy, colega da Walt Disney, dá início a Los Angeles Habilitation House (LAHH) com o objetivo de ajudar pessoas com deficiência a descobrir, desenvolver e fazer render os próprios talentos. Em seguida, surge a ideia de fazer algo pelos ex-combatentes das guerras do Iraque e Afeganistão. De fato, dos dois milhões de militares mobilizados, quase quinhentos mil apresentam sintomas de “post-traumatic stress disorder”, entre os quais está depressão aguda que os impede de levar uma vida aceitável.

No início de 2009, em plena recessão econômica, os primeiros três rapazes com deficiência mental, autismo, retardo mental, incapacidade de ler e escrever estão formados e fazem serviços de limpeza em escritórios comerciais. A conversa de trabalho na LAHH começa com apenas uma pergunta: “O que você deseja?”. A resposta de Brandon, Steve e Paul é clara e simples: “Quero trabalhar” e está estampada em seus olhos, olhos de quem espera algo de grande para a própria vida da qual o desejo de trabalhar é um sinal.

Hoje, desses rapazes, ex-combatentes, quinze trabalham; alguns aguardam serem admitidos como assistentes legais em entidades públicas e privadas e quarenta estão em treinamento. Um dia, enquanto comem juntos e falam do trabalho, Mike pergunta a Guido: “Por que nos ajuda?”. Guido, surpreendido pela pergunta, volta-se para eles e, olhando-os, comovido, responde, com um fio de voz: “Ajudo pela mesma razão pela qual vale a pena levantar-se a cada manhã, viver e lutar; porque na minha vida existe Alguém que me diz: você tem valor”. Chris, dez anos no exército e dois no Iraque, diz, certo dia: “Através do trabalho redescobri os talentos que pensei ter perdido completamente durante os anos de combate no Iraque”.

Guido acrescenta: “ensinar um ofício significa, primeiramente, levar a sério as exigências do coração, aquele desejo de infinito que nos constitui. Na América, existe muita gente competente no campo social, que sabe desenvolver projetos belíssimos mas ninguém quer admitir que chega um ponto, diante da exigência humana, que o programa não funciona”.

Há um rapaz que sempre termina o trabalho atrasado. A psicóloga que deveria ajudá-lo pensa que não consegue fazer mais do que isso. Guido leva-o consigo e se põe a trabalhar com ele. Agora, aquele rapaz termina sua tarefa em tempo, como os demais, com um sorriso de quem tem certeza de que nada está contra ele.