Henrique Capriles

A tarefa de Capriles

Findo o ciclo eleitoral na Venezuela ficam algumas reflexões sobre os próximos passos da oposição que luta contra o avanço totalitário no país
Juan Guerra, de Caracas

Cumprido o ciclo eleitoral presidencial na Venezuela restam algumas reflexões. Funcionou a máquina patrocinada pelo governo e sua capacidade de mobilização, permitindo garantir os votos para ganhar as eleições. Vimos um verdadeiro festival de dinheiro, chantagem e ameaças que conseguiram ganhar o voto de muitos venezuelanos que com temor sentiram que Capriles poderia questionar o que eles percebem como conquistas.

Foi incessante a propaganda do governo que repetia incansavelmente e de forma abusiva o suposto risco que corria os setores populares. O governo empregou três canhões financeiros para garantir o sucesso. O governo central empenhou todo o seu poder de compra, seguido pela PDVSA endividada e o Banco Central da Venezuela como financiador do Executivo.

Nunca na história da Venezuela, em um ano eleitoral foi gasto tanto dinheiro quanto o desembolsado em 2012. Vamos ver as consequências. Um resumo comparativo dos resultados da última eleição dão conta que ao invés de crescer o fluxo eleitoral de Hugo Chavez diminuiu.

Entre 2006 e 2012 o número de eleitores aumentou em 3,3 milhões. Se compararmos os votos obtidos nas eleições de 2006 com a de 2012, Hugo Chávez aumentou sua votação em cerca de 700 mil eleitores. Enquanto isso, Henrique Capriles, obteve 6,5 milhões de votos nesta eleição o que representou um aumento de 2,1 milhões de eleitores em relação à Manuel Rosales, em 2006. Isto sugere que com relação ao número total de novos votantes, Capriles capturou 80% dos eleitores enquanto Hugo Chavez apenas 20%. Isso reforça claramente a liderança de Capriles como condutor das forças democráticas da Venezuela.

Aproximadamente 14,5 milhões de pessoas que votaram, 45% não cativado pelas propostas de Hugo Chávez e também não foram influenciados pelo furacão monetário que circulou na Venezuela. Isto confere às forças democráticas uma base fundamental para iniciar uma cruzada política na Venezuela que propõe dois objetivos.

Em primeiro lugar conter o avanço de um projeto com clara conotação totalitária e autocrática e em segundo lugar, de forma paciente mas sustentada, derrubar Chávez do poder na próxima eleição, independentemente da data. A tarefa de imediata, no entanto, é utilizar os votos obtidos nas regiões onde a oposição obteve vitórias para ganhar os governos dos estados. Dados estatísticos sugerem que há uma transferência de votos presidenciais para governadores e prefeitos. Parte disso é explicado pela identificação com o presidente Chávez, mas muitos votam nele para presidente mas não necessariamente apoiam seus candidatos regionais como governador ou prefeito.

Isso abre uma oportunidade de ganhar províncias eleitorais onde a diferença não é significativa. No entanto a tarefa mais imediata e não menos importante é neutralizar pequenos focos de fraude eleitoral que nunca são comprovadas mas existem. Esse fato tem um efeito político devastador no nosso eleitorado inibindo o voto. Para os aventureiros da política, para aqueles que nunca fizeram o esforço de construir uma organização ou trazer propostas para o país, isso não importa. Não se percebem que ao perder a confiança no voto as pessoas optam pelo caminho mais difícil: a insurreição. Não podemos cair nessa armadilha pois iria legitimar o poder de Chaves até o fim de sua existência.

Esse foi o erro de 2004 que ainda estamos pagando. A grande maioria dos propagandistas das fraudes desapareceu de cena, mas continuam seus efeitos prejudiciais. Capriles deve recuperar a força, a vontade, e começar gradualmente a viajar pelo país levando uma mensagem de encorajamento para os seus milhões de eleitores, expondo ainda mais a sua política, mantendo a visibilidade para ajudar os candidatos a governador. Isso preservará sua liderança e aumentará suas chances no futuro.

(Páginas Digital)