Fabrice Hadjadj.

“O único caminho é a espera”

Por ocasião do Ano da Fé, o Centro Pastoral da Universidade Católica de Milão organizou uma convenção. “Ainda é tempo de crer?”. Convidados como Mario Melazzini e Fabrice Hadjadj testemunharam o “fascínio por uma Pessoa que nos ‘acompanha’ sempre”
Davide Ori

“Ainda é tempo de crer?”. Esta foi a pergunta desenvolvida no congresso organizado pelo Centro Pastoral da Universidade Católica de Milão, no dia 10 de abril, por ocasião do Ano da Fé.
Um dia que se desenvolveu sobre “dois elementos: aprofundamentos teológicos e experienciais”, como observou Dom Claudio Giuliodori, novo assistente eclesiástico geral da universidade.
Depois de ter introduzido o tema do congresso, Agnese Varsalona, professor de Questões de Teologia Moral e Prática, fez ecoar no Salão Nobre as palavras de Hans Urs Von Balthasar: “A primeira coisa que precisa saltar aos olhos de quem não é cristão é o fato de que a fé cristã, evidentemente, é ousada demais. É muito bonito para ser verdade: o mistério do ser revelado como amor absoluto, que se abaixa para lavar os pés”.
Assim, os trabalhos foram abertos. E já na saudação do reitor Franco Anelli e do bispo Giuliodori, ficou evidente a necessidade de responder à pergunta inicial e, em particular, a importância da Universidade Católica na “conservação e transmissão da fé”, como lembrou Giuliodori. “A fé não é um evento do passado, uma vaga esperança, mas a pessoa de Jesus Cristo presente no seu corpo que é a Igreja”.
A palavra foi passada aos estudantes, entrevistados em um vídeo intitulado “A fé, hoje, na universidade”. O incômodo diante das perguntas impressionou todos os presentes, tanto quanto a sucessiva tentativa de responder, partindo de episódios da vida cotidiana.

A primeira colocação do congresso foi confiada a Luciano Manicardi, da Comunidade de Bose, que insistiu muito sobre o tema da confiança. “Crer para viver”, começa assim sua palestra, indicando como elemento de base do relacionamento entre o homem e Deus a confiança, imagem da união entre homem e mulher. Tanto que “toda prática humana precisa de um relacionamento de confiança”.
Em seguida, o primeiro testemunho por vídeo, de Mario Melazzini, médico que sofre de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), hoje confinado a uma cadeira de rodas. “Quando foi diagnosticada a doença, senti uma angústia existencial. Só olhava para trás, e não para frente”, conta Melazzini. “Fiquei com raiva de Deus, não entendia porque tinha acontecido exatamente comigo, que tenho uma profissão que me coloca à disposição dos outros”. Depois, sua consciência começou a mudar quando confiou aquilo que estava acontecendo: “Entendi que a minha dor era parte da minha vida e a fé me deu a força para meu percurso pessoal, me sustentou, me sustenta sempre”.
Fechando a sessão da manhã, Mario Antonelli, da Faculdade Teológica da Itália Setentrional, falou sobre a fé em Jesus, a partir da carta de São Paulo aos Hebreus: “Aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve” (Heb 5, 8b). E é exatamente a obediência, segundo Antonelli, aquilo que mais caracterizou a fé de Cristo: “Nós devemos olhar para Jesus como o primeiro entre os que creram no Pai. O primeiro a obedecer a Sua vontade”.

O Salão Nobre se encheu novamente depois do almoço, enquanto no palco subia o filósofo e escritor francês Fabrice Hadjadj, único relator estrangeiro. Iniciou sua palestra com a frase de Dostoiévski: “Um homem culto, um europeu dos nossos dias pode crer, crer realmente na divindade do Filho do Homem, Jesus Cristo?”. O filósofo começou observando a “excessiva credulidade” da pergunta, “talvez demoníaca”, feita por um personagem mau e que só consta dos rascunhos de Os Demônios, que não figura na obra definitiva. “É uma pergunta ruim, não porque coloque a fé em discussão, mas porque supõe uma fé precedente, a fé no positivismo, na Europa, na civilização: uma fé mundana”. É um ídolo, observou: uma coisa se torna o princípio da vida. “Hoje, é difícil ser um ateu perfeito. Na pior das hipóteses, diviniza-se a si mesmo. O ateísmo perfeito tem apenas duas saídas: o suicídio ou a revelação”. O primeiro caminho, porém, é ter a última palavra. Mas o verdadeiro ateu não pode querer isso, não pode querer a “si mesmo” como último gesto, “sabe que não pode ser assim: seria colocar a si mesmo como novo valor. Portanto, a única posição possível é a de esperar que o transcendente se revele a ele”. O ateu também, por outro lado, se define com base em Deus, com base em um relacionamento: “sem Deus”. O ateu, por outro lado, fala de Deus como um conceito claro, definido 100%. “Maciço”. Fala dele como fala o fundamentalista, como algo sem mistério. “Deus torna-se um Deus tão claro quanto opressivo, que vai contra a liberdade e a razão”. A visão ateia mostra uma concorrência entre Deus e as criaturas: o criador está distante.
Depois de Hadjadj, quem toma a palavra é Carlo Castagna, através de um vídeo. Sua “maior dor” foi ter perdido a mulher, a filha e o sobrinho, na chacina de Erba (pequena cidade próxima a Milão). Sua narração mostra aonde a fé pode chegar, até o perdão dos assassinos. “Não acreditei quando me disseram que tinham encontrado os corpos dos meus queridos”, conta: “Depois, aconteceu o milagre, embora vivendo uma grande solidão, pedi a Deus força para aceitar o Seu desígnio”.

No fim do dia, ficou claro como a pergunta de abertura foi observada e respondida sob diversos aspectos. E ficou evidente como cada um deles é cheio de espera e de fascínio por uma Pessoa que aconteceu para “acompanhar” cada um de nós. Como disse o Papa Francisco: “Quantas vezes em nossa vida, perdemos a esperança, quantas vezes aquilo que nosso coração espera não se realiza! A esperança de nós, cristãos, é forte, segura, sólida nesta terra onde Deus nos chamou para caminhar, e é aberta à eternidade, porque é fundada em Deus, que sempre é fiel”.