Queda do Muro de Berlim.

O que nos ensina a nossa desilusão depois de 25 anos da queda do Muro

Na época foi um evento “histórico”. Hoje, o seu significado parece ter se ofuscado. O que foi feito daquela esperança?
John Waters

É estranho, mas é verdade: vinte e cinco anos depois da euforia que acolheu a queda do Muro de Berlim, hoje parece que o mundo tenha quase esquecido o sentido daquele evento, ou pior, parece ter caído de novo na mentalidade que era típica dos anos anteriores àquele fato que então foi definido “histórico”.

Parecia poder ser uma daquelas ocasiões inimagináveis, um daqueles momentos de euforia que ocorrem como que para fazer vir à tona tudo que parece provir do mais profundo do nosso desejo. Da marcha em saltos da história às vezes pula fora alguma coisa que parecia impossível. Naquelas circunstâncias parece que nos movemos com um salto improviso em direção a qualquer ideal imaginado de liberdade - experimentando uma insólita e dramática harmonia entre o que sentimos como uma força interior que nos guia e o que está acontecendo diante de nossos olhos. O mundo, é evidente, não será mais o mesmo.

Porém, depois o tempo passa, e tudo parece se acalmar para um novo gênero de espera. Por um certo tempo, também o que é velho aparece jovem e sem freios - todos vivemos uma tensão adrenalínica, como se tivéssemos medo de dormir para não perder algo de maravilhoso. Mas gradualmente as coisas encontram um novo equilíbrio. O poder toma a supremacia e reproduz um novo sistema, novos procedimentos. Afinal de contas, não se podem governar grandes nações só com o idealismo! Lenta mas inexoravelmente a superfície da água gela de novo, e o mundo retoma aquele enfraquecimento que todos achavam ter desaparecido para sempre.

Certamente, houve muitas mudanças no mundo como resultado daqueles “inesquecíveis” momentos de 1989: grandes deslocamentos de pessoas para o Ocidente em busca de esperança e trabalho; discussões intermináveis sobre novos horizontes na política, novas alianças e confrontos de culturas. Contudo, permanece o sentido inequívoco de que tudo se acalmou. A ex-União Soviética pareceu degenerar em uma mistura de medo, corrupção e ingovernabilidade. No interior do antigo bloco soviético o comunismo despertou de novo e recomeçou a aquecer os músculos. Na Ucrânia, é como se tivéssemos voltado ao ano de 1989, mas hoje o nosso olhar é onerado pelo peso do “já visto” que enfraquece a nossa esperança.

Pode o homem cansar de ter necessidade de um novo início? Olhamos os rostos daqueles que desfilam corajosamente nas praças e vemos prevalecer caras jovens. Perguntamo-nos: o elemento principal que sustenta o permanecer da esperança do homem no ideal é o esquecimento da realidade?
Quando uma nova geração comparece em uma nova cena, a luz deslumbrante da esperança que se desprende de cada rosto é a expressão da natureza original do homem, ou o não-apercebimento de como tudo irá acabar? O que se vê nos olhos dos manifestantes é simplesmente a outra face da indiferença e da ignorância de muitos jovens ocidentais que veem a queda do Muro como algo pré-histórico, algo que tem um significado obscuro, que de qualquer forma aparece sem vinculação com o seu sentido da realidade?

Mas não: o ponto é o modo em que nós continuamos a equivocar a natureza da liberdade. Pensamos que ela se manifesta de uma certa forma e, imaginando sabê-la reconhecer, logo a damos por óbvia. Uma pessoa, errando, poderia acusar os homens de não seguir o caule da liberdade até suas raízes, mas isto seria um moralismo fraco e inútil. Com efeito, a liberdade, sendo um absoluto, não pode ser sondada pela mente do homem em toda a sua profundidade. Ela se põe como algo esquivo e, contudo, estranhamente concreto, algo que foge à nossa investigação sobre ela. Não se solidifica em alguma forma na qual pensamos podê-la enquadrar. Toda vez que acreditamos tê-la alcançada, uma nova indicação emerge da névoa que atravessamos para chegar até aquele ponto, e esta indicação nos diz que ainda há uma certa distância a percorrer. Todo novo horizonte, depois de alcançado, imediatamente se revela como um fogo-fátuo, que remete a uma luz mais além, mas não é o ponto de chegada que buscamos. Na posse de todo bem terreno, intuímos a presença de algo maior, ao qual somos reencaminhados através do desgaste da desilusão e de um novo impulso de regeneração.

É este o significado do cansaço que parece vir depois de todo impulso de esperança. A imaginação post-religiosa reescreveu os termos de nossa compreensão do desejo do homem, mas sem mudar uma vírgula de nossa natureza. A um certo ponto é necessário que aconteça alguma outra coisa: a consciência de que aquelas coisas que se propõem como cumprimento do desejo humano são apenas degraus de uma escada que leva a algo outro. Em sua viagem terrena, os homens são ultimamente insaciáveis e não poderão ser satisfeitos até quando não reconhecerão este paradoxo.