Jovens a “risco de Isis”

Pesquisas informam esforços de países europeus para frear o recrutamento de jovens para o terrorismo
Roberto Fontolan

Como se faz para transformar um terrorista islâmico em uma pessoa inócua e tolerante? E como impedir que jovens propensos ao radicalismo ideológico alimentado por certas leituras do Alcorão cruzem o limiar da violência? A Arábia Saudita tenta desativar as bombas humanas com dinheiro, empregos, automóveis e até mulheres. Mas isso não basta para superar a contradição de um Estado fundamentalista que pretende erradicar o ultra-fundamentalismo. Com efeito, nos últimos dois anos a monarquia teve que registrar a intensificação de homicídios e atentados executados por sauditas convertidos ao Isis contra outros sauditas. E na Europa?

O jornal Economist formulou esta pergunta. Comecemos pela Bélgica. A cidade de Vilvoorde, com uma população de 43 mil habitantes, dos quais metade são estrangeiros, dos quais metade estão desempregados, detém o recorde de vinte e oito combatentes que partiram para a Séria antes de 2014. Depois daquela data, iniciou-se o programa gerido por operadores sociais provenientes em grande parte do mesmo ambiente dos milicianos. A verdade, diz um deles, é que os que querem juntar-se ao Isis vêm de histórias de famílias quebradas, com o pai ausente e a mãe enfraquecida. Por isto cria-se um time que se encarrega de toda pessoa em situação de risco: um operador, um professor, um membro ou um conhecido da família, muitas vezes também um Imã. Escuta, ajuda para procura de trabalho e apoio familiar são os ingredientes do programa.

Mas como se identifica o sujeito antes que ele se torne um problema de polícia e quem o faz? É um tema muito debatido na França, onde a região dos Alpes Marítimos sofre muitíssimo o radicalismo islâmico (junto com Paris obviamente). Aqui uma organização independente envolve operadores sociais, psicólogos, famílias e escolas, polícia e guardas penitenciárias. O programa é baseado num protocolo voltado para identificar jovens “a risco de Isis”. O psicólogo deve “criar confiança”, o professor “romper as certezas ideológicas deles”, e assim por diante. Existem dúvidas se o programa seja eficaz e até agora os resultados melhores foram obtidos com as mulheres jovens. Mas o problema é que os operadores sociais não querem ser confundidos com informantes da polícia.

Na Grã-Bretanha o programa de prevenção se chama Channel e conta muito com religiosos muçulmanos “certificados”, ou seja, que fizeram profissão de fé nos valores liberais: democracia, tolerância, liberdade. Eles devem também condenar “incondicionalmente” violências e ataques praticados pelos terroristas. E aí está o problema: os jovens muçulmanos estão dispostos a escutar quem adere aos princípios do Ocidente corrupto? Até porque, segundo o antropólogo americano Scott Adran que conduziu uma pesquisa entre os jovens muçulmanos de Londres, Paris e Barcelona (publicada no Aeon), quem se deixa convencer pelo califa não é uma vítima de niilismo e solidão (como, por exemplo, afirma Olivier Roy), mas pertence ao gênero dos revolucionários que querem “mudar e salvar o mundo”.