Francesco Patton (Foto: Wikimedia Commons)

«Na Terra Santa? A herança que recebemos é Cristo»

O curador Francesco Patton e a exposição “A terra mais amada por Deus”. Em Rímini serão celebrados os oitocentos anos de presença franciscana nos lugares em que Jesus viveu, nos quais se enraíza o nosso futuro

«Por isso eu os envio ao mundo inteiro, para que vocês possam dar testemunho da Sua voz com palavras e obras, e para que deem a conhecer a todos que não há nenhum outro Onipotente além Dele». Não se pode dizer que São Francisco não tivesse as ideias claras. Foi em 1217, dois anos antes de seu famoso encontro com o sultão Malik al Kamil em Damieta, que o pobrezinho de Assis convoca o Capitolo delle Stuoie (Capítulo das Esteiras, ou seja, a primeira reunião que Francisco realizou com seus frades, para ouvi-los. Como eram muitos, não havendo acomodação suficiente, estes tiveram que dormir em esteiras). E foi nessa ocasião que, pela primeira vez, a ordem fundada por ele abriu-se à dimensão missionária. Naquele ano, Francisco enviou os frades a todos os cantos do mundo, incluindo a Província Além-Mar ou da Síria. Hoje, esta é conhecida como Terra Santa, local da Encarnação que o santo tanto amou, a ponto de desafiar o sobrinho do sultão Saladino para poder entrar no território. Não sabemos o que foi dito entre aqueles dois personagens importantes, de cujo encontro a história nos deu tão poucas fontes, mas não há dúvidas sobre a contínua presença dos frades que, desde aquela época, nunca mais abandonaram o local (e foi a única ordem religiosa a permanecer, desde então, ininterruptamente).

Jerusalém, o Santo Sepulcro

Neste ano, os discípulos de São Francisco comemoram um aniversário que poucos podem ter o privilégio de celebrar: oitocentos anos de presença. Oito séculos naquelas terras tão importantes e tão atingidas por guerras e violência: Israel e Palestina, com certeza, mas também o Líbano, Jordânia, Rodes, Cipro, Egito, além da pobre Síria, segundo berço da Cristandade e lugar onde, pela primeira vez, os discípulos de Jesus começaram a chamar a si próprios de cristãos. Todos esses lugares são, na verdade, “Terra Santa”, pois foram santificados pela passagem de Cristo e de São Paulo, o apóstolo das gentes. É uma história ferida que se articula através dos séculos, na qual, porém, exemplos extraordinários de diálogo e encontro também estão presentes. Partirá exatamente daqui a exposição que poderá ser visitada no próximo Meeting de Rímini. Um vídeo proveniente do Terra Sancta Museum (exposição permanente de grande porte, em instalação) levará os visitantes de volta no tempo, à Jerusalém de dois mil anos atrás; as fotos – únicas e preciosas – do arquivo da Custódia da Terra Santa documentarão a herança deixada por São Francisco hoje: uma obra preciosa para o mundo todo e que continua presente no incansável acolhimento dos milhões de peregrinos que seguem os rastros de Cristos, ou no cuidado com a conservação dos Lugares Santos “em nome e por conta da Igreja Universal”.

Mas a obra dos frades, hoje, vai além. Não podemos nos esquecer das emergências humanitárias e, em particular, “da nossa presença na Síria, que pagou seu preço com o sangue de muitos dos seus filhos, mortos como mártires”, disse Francesco Patton, Guardião da Terra Santa. Hoje são quase 300 os discípulos de São Francisco no Oriente Médio. Frade Patton, à frente deles como guia há pouco mais de um ano, estará em Rímini para inaugurar a exposição “A terra mais amada por Deus”, no domingo à tarde. Entre os curadores da exposição, padre Stephan Milovitch, guardião do Convento de São Salvador, Marie Armelle, fotógrafa oficial, e Sara Cibin, colaboradora do Pro Terra Sancta (Ong a serviço da Custódia e partner do Meeting no projeto).

Nazaré, a Basílica da Anunciação

Saiba mais:

O Meeting para a Amizade entre os Povos pode ser descrito como uma grande feira cultural. Estruturalmente, trata-se de um conjunto de mesas-redondas, palestras e mostras culturais que, durante a última semana das férias de verão italianas, ocupa um enorme recinto de exposições na cidade de Rimini, um dos grandes balneários do país. Entre estandes de mostras culturais e empresas, praças de alimentação e auditórios capazes de abrigar milhares de pessoas, circulam famílias, jovens, crianças, empresários e políticos...

Em 2017 será realizado de 20 a 26 de agosto e terá como título: “O que herdaste de teus pais, reconquista-o, para possuí-lo”. Abordará temas como pós-verdade, direitos, colapso dos valores, imigração, terrorismo. Para falar, grande personalidades do mundo da cultura, das religiões, da economia e da política. Algumas apresentações têm transmissão ao vivo e o programa completo encontra-se no site, em inglês e italiano. Confira: www.meetingrimini.org/