Referendum na Catalunha. O documento da Comunidade de CL
O clima é tenso. As posições são inconciliáveis. A consulta pela independência da região está abrindo uma ferida profunda no tecido social. Os amigos catalães escreveram um documento, com o título: “O que permite uma construção comum?”Nos últimos dias na Catalunha chegou-se a uma situação desagradável, que não deveria nunca ter chegado, fruto de um clima de divisão e de conflito que foi crescendo nos últimos anos.
As chaves de leitura com as quais se analisa a situação atual são inconciliáveis. As leituras com as quais se interpreta o passado são opostas. Os projetos para o futuro, incompatíveis. Uma ferida dolorosa que divide famílias, que extingue o diálogo entre colegas de estudo ou de trabalho, que favorece a desconfiança entre aqueles que pensam de modo diferente. Nesse contexto, o que permite uma construção comum?
Não somos alheios a essa crise. Reconhecemos a nossa pobreza quando se trata de oferecer uma solução à questão que está em jogo, mas, ao mesmo tempo, descobrimos na nossa vida cotidiana um tesouro que pode ser útil no momento de conflitos e tensões que estão se aproximando. Na nossa comunidade cristã nos surpreendemos vivendo uma unidade que vai além da diferença de opiniões e sensibilidade. A presença de Cristo, que supera os discursos e projetos, não garante a solução das divergências. Entretanto, torna possível um caminho juntos, no qual o outro, o que quer que faça ou pense, é um bem porque me ajuda a ser eu mesmo. E sobre isso baseia-se qualquer possibilidade de diálogo.
A Conferência Episcopal de Tarragona, em uma nota sobre a situação na Catalunha, afirma: “A Igreja quer fomentar justiça, fraternidade e comunhão, e oferece a sua ajuda nesse serviço para o bem do nosso povo”. De fato, “o destino e a intenção profunda da comunidade cristã – diz Dom Giussani – é o mundo: um compromisso profundo e apaixonado pelos homens e por seu destino, uma tensão que torna presente o fato de Cristo dentro da história da convivência habitual, na qual os homens sofrem, desejam, tentam, negam, esperam o sentido último das coisas”.
A gravíssima circunstância que atravessamos é, portanto, uma oportunidade. Podemos permanecer presos à nossa imagem, àquilo que já sabemos. Ou então, podemos nos descobrir necessitados do outro, disponíveis à mudança, dispostos a considerar com simplicidade e seriedade a necessidade de caminhar e construir juntos. Assim como nos convida o Papa Francisco: “A melhor forma de diálogo é fazer as coisas juntos, construir juntos”.
Comunidade de Comunhão e Libertação na Catalunha
Setembro de 2017