Barcelona

CL Catalunha: «Começar de novo a partir do que temos aprendido»

No dia 21 de dezembro a região de Barcelona votará novamente para eleger o seu Parlamento. Entre a confusão política e social e uma economia abalada, emerge a necessidade de que o bem comum volte a ser protagonista. O panfleto da comunidade catalã de CL

Encontramo-nos perante as quartas eleições ao Parlamento da Catalunha nos últimos 7 anos: um dado significativo que pode nos ajudar a renovar a nossa forma de fazer política. Estamos em uma das situações mais agudas de crise política e social desde a restauração da Generalitat (1977): instituições que sofreram intervenção, representantes eleitos destituídos e em prisão, mais de 2000 empresas que transladaram a sua sede social para fora da Catalunha e indicadores econômicos pouco animadores.

1. O bem comum requer acolher a diversidade e a complexidade

A situação atual não satisfaz ninguém. A deriva política destes meses tem deteriorado a convivência em todos os âmbitos: feridas foram geradas no seio de algumas famílias, além de rancores e incompreensões entre amigos e colegas de trabalho. Um certo mal-estar se instalou na sociedade nos últimos tempos. Partindo de distintas posições, muitos vivem angustiados, com ressentimento pela injustiça e com temor ante o futuro. Tendemos a pensar que o causador do nosso mal-estar sempre é o “outro”, que impede que se realize o que cada um quer. Buscamos os culpados pelo mal-estar que se aloja no fundo de nossos corações.

Convocar de novo às urnas esperando um resultado que permita um cenário mais sereno era necessário, mas não resolverá os problemas de um modo automático. Necessitamos reconstruir a concórdia, a paz e a confiança que permitem realizar uma obra comum. Se os agentes políticos se limitam meramente a converter o seu relato em vencedor e a buscar a sua legitimação hegemônica, sem atender às necessidades reais das pessoas, é muito provável que o conflito social e a desconfiança em relação à classe política se tornem crônicos.

No passado 1º de outubro o Papa Francisco assinalava que “a harmonização dos próprios desejos com os da comunidade realiza o bem comum. [...] Se não perseguirmos com constância, empenho e inteligência o bem comum, nem sequer os indivíduos singularmente poderão usufruir dos seus direitos e realizar as suas nobres aspirações, porque viria a faltar o espaço ordenado e civil onde viver e trabalhar”. O bem comum, a que deveria tender a ação política, requer olhar e acolher a diversidade e complexidade da sociedade catalã e identificar as necessidades presentes e as urgências comuns a todos. Nestes momentos estamos mais necessitados que nunca da “boa política; não daquela subjugada às ambições individuais ou à prepotência de facções ou centros de interesses. Uma política que não seja serva nem patroa, mas amiga e colaboradora; não medrosa ou precipitada, mas responsável e, portanto, corajosa e prudente ao mesmo tempo” (discurso em Cesena).

2. Partir do que temos aprendido neste tempo

a) A importância de ler os anseios humanos

Na reivindicação política de grande parte da sociedade catalã subjaz o desejo que todos nós temos de cumprimento, de uma vida boa, da pertença a um povo, da construção de uma nova sociedade mais justa. Quando nos perguntamos e interessamos pelo “outro”, sempre se descobrem nele pontos de verdade que nos abrem a novos processos e se estabelece a possibilidade do diálogo que permite a verdadeira política.

b) O outro é mais que o seu perfil e as suas declarações nas redes sociais

Os meios de comunicação e as redes sociais parecem mostrar fraturas insuperáveis. No entanto, na nossa convivência cotidiana, na família, no estudo ou no trabalho, nos surpreendemos querendo compartilhar a vida, também com quem pensa de modo distinto. Mais que nos slogans políticos, é nos gestos simples da vida comum onde podemos descobrir um caminho a seguir. Quem é diferente não é um inimigo a eliminar; também trabalha para levar a sua família adiante, se apaixona, sofre, educa os seus filhos como pode, quer uma convivência estável e duradoura, e deseja a paz.

c) A necessidade de diálogo

O diálogo, não como contraposição a raciocínios ou argumentações e pareceres imutáveis, não como a busca de equilíbrios, mas como a possibilidade de deixar que as próprias razões se enriqueçam, se misturem, e inclusive mudem, ao se encontrar com as razões do outro.

d) O perdão e a misericórdia como fator de construção

Nenhum âmbito de convivência – família, amigos, trabalho – se sustenta no tempo sem o perdão. É urgente recuperar a experiência humana que permite o perdão também no âmbito das relações sociais e políticas.

e) O valor da tradição recebida

Qualquer proposta de novidade política deve partir do legado recebido, inclusive para modificá-lo. A tradição e as instituições vigentes contêm a riqueza da convivência daqueles que nos precederam e das conquistas que surgiram de seus consensos. É próprio de uma sociedade vital trabalhar para a melhora da vida comum. Por isso se devem promover diálogo e a construção comum, partindo da própria história.

3. A possibilidade de mudança começa na pessoa

No último 1º de outubro, Francisco dizia: “É necessário reafirmar os direitos da boa política, a sua independência, a sua idoneidade específica para servir o bem público, para agir a fim de diminuir as desigualdades, para promover com medidas concretas o bem das famílias, para fornecer um quadro sólido de direitos e deveres — equilibrar os dois — e torná-los efetivos para todos” (Discurso em Cesena).

O bem comum se reconhece no trabalho conjunto, no colocar-se as mãos à obra uns com os outros. Por isso, nestas eleições, o voto deveria ter especialmente em conta as propostas com maior capacidade para o diálogo e o encontro, com uma tensão maior para compreender a situação das pessoas, os seus problemas e necessidades reais. Propostas que, se afastando da confrontação, estimulem a criação de espaços de convivência, de trabalho comum e de construção social.

Em 21 de dezembro votaremos às portas do Natal, no qual celebramos uma novidade sempre presente: o Mistério que vem ao encontro do homem, se faz companheiro de caminho, serve a todos, introduzindo com a sua presença o perdão, a atenção à necessidade de cada pessoa e a confiança na humanidade para afrontar os seus próprios problemas. Fazendo-se pobre como nós, Deus possibilita que os homens de toda condição e crença possam imitar o seu proceder: sem obrigar ninguém e sem destruir o seu mundo, inicia um processo que o muda e o renova. Trata-se de uma revolução que se inicia na própria pessoa.

Dezembro 2017

Comunión y Liberación Catalunya


barcelona@clonline.es

O cartaz no site espanhol