O micro-ônibus de Gaia
A viagem para Uganda com o pai. E, depois, o desejo de ajudar as crianças de Kampala. Assim nasce a “linha” de camisetas On the road. Vendidas na escola, nos concertos e nas partidas de basqueteGaia é uma jovem italiana que frequenta o terceiro ano do Ensino Médio científico: aos 17 anos, fez uma viagem com o pai, que trabalha no ramo industrial, na cidade de Legnano, e que há tempo apoia projetos da AVSI na África. Ele a levou consigo para Kampala, em Uganda, por três dias, em julho de 2016. “Infelizmente só três!”, exclama Gaia. “Dias incríveis, intensos”.
Juntos visitaram as estruturas da cidade ugandesa que este ano fazem parte de um dos projetos da Campanha Tendas AVSI, sob o título “A casa, onde fica?”. “No primeiro dia visitei a High School Luigi Giussani, a escola de Ensino Médio. É uma estrutura belíssima, limpíssima, enorme, equipada”. Encontrando professores e estudantes, Gaia pergunta aos meninos: “O que você aprendeu nessa escola e o que você levará daqui, após os estudos?” . Uma menina responde: “Eu aprendi que tenho um valor e um desejo tão grande no coração, que podem mudar o mundo”. Gaia fica perplexa: “Parece uma daquelas respostas belas e pré-confeccionadas; mas, na verdade, não dá nem tempo de pensar isso, porque você se depara com aquela menina que tem a sua idade e que só pelo fato de ter pensado aquelas coisas... Ah, você pensa, não pode estar mentindo”. Até porque, estando em Kampala, Gaia descobre que a sociedade africana é muito diferente da sua: “Muitas pessoas vivem em barracas de lata e estão em situação muito difícil.... No País, em geral, falta um olhar que restitua ao homem o valor que ele tem. A pessoa é como um número ou um meio para se chegar a um fim, que é normalmente econômico. Isso acontece também na família. Muitas vezes o pai não trabalha e há uma alta incidência de alcoolismo. Quem trabalha é a mãe, que é frequentemente tratada, junto aos filhos, como um objeto”.
Outros particulares fazem com que Gaia entenda como se vive em Uganda: “Fora das escolas da AVSI, particulares ou não, em Kampala os estudantes são punidos fortemente se não têm boas notas, porque a escola precisa que os estudantes tenham resultados altos para aumentar seu valor. Se alguém tira 60 de 100, leva a diferença de 40 pauladas. Uma violência alucinante... Eles me contaram dos esquemas pendurados nas paredes das escolas, com as ‘consequências’ dos erros cometidos”. Para Gaia, as palavras daquela menina começam a se tornar carne. Quanta necessidade de uma “casa”, de um lugar no qual ser abraçado pelo que se é.
Após a Escola, Gaia e seu pai visitam a Welcoming House, em Kitintale, um bairro na zona leste de Kampala, uma casa de acolhimento para cerca de oitenta crianças e jovens órfãos, de 0 a 20 anos. Alguns foram encontrados em sacos de lixo; outros foram tirados de seus pais por causa de maus tratos. Rose Busingye, que dirige a casa, conta sobre o quotidiano deles, como o ir à escola: depois de acordar às três e meia da manhã, pois para muitos serão horas de caminho; para outros, os menores, um passeio em uma moto, que toda manhã vai e volta, num máximo de 15 vezes, e a cada viagem leva três crianças até a escola. “Seria necessário um micro-ônibus”, diz Rose a Gaia, com um sorriso. No dia seguinte, o último local a conhecer, “visitamos as turma do ensino fundamental e a creche, e depois fomos visitar as ‘mulheres da Rose’, mulheres aidéticas que aceitaram ser ajudadas e cuidadas. Passamos uma manhã lá e elas nos dedicaram um canto. Essas mulheres são belíssimas, em todos os sentidos”, conta a menina.
De volta para casa, Gaia carrega na memória todos aqueles rostos, aquelas vidas cheias de dor e de graça, os olhares das crianças. “Uma noite, nas férias, não conseguia dormir. O cérebro não parava. Às três da manhã, me levanto, pego papel e caneta e começo a escrever as ideias que me martelavam a cabeça, com um único objetivo: juntar dinheiro e comprar um micro-ônibus para as crianças da Rose”. Mas como? Gaia pensa em pequenas lembranças para vender na escola, mas precisa vender muitas para chegar a todo aquele dinheiro. “Volto para casa e falo com meu irmão, Matteo, depois com Stefano, Marta, Gaia, Emma, Chiara, Carlo, Luca...” e graças a mais cabeças pensando juntas nasce On the Road, um projeto e tantas camisas a vender. Em qualquer lugar e a qualquer pessoa.
Em novembro de 2016 as vendas começam com um evento da sua escola, a Tirinnanzi, em Legnano. “Nós começamos, daí a notícia se espalhou e On the Road começou a caminhar por si só: nos chamavam para vender as camisas nos concertos, durante as partidas de basquete, festas de Natal e outros eventos variados”. Aos poucos o dinheiro das vendas foi sendo enviado e um ano depois, em novembro de 2017, chegou a Gaia um vídeo de Rose circundada por “suas” crianças em frente a um Toyota Hiace, o micro-ônibus!
E agora? Outras iniciativas virão: “Precisam de uma geladeira maior na Welcoming House. E de uma mesa nova e de cadeiras. On the Road segue em frente”.
#Uganda