Os jovens do CLU dos Estados Unidos nas férias no Colorado

Férias do CLU (EUA). A vida é uma promessa

Passeios, palestras, cantos. E muitos momentos de assembleia e diálogo em que cada um pôde falar de si mesmo, da sua vida, dos seus problemas. Veja como foram as férias dos universitários de CL americanos, nas montanhas de Estes Park, no Colorado
Julia Bolzon

«A espera é a estrutura mesma da nossa natureza, a essência da nossa alma. Ela não é um cálculo: é dada. A promessa está na origem, desde a própria origem da nossa criação. Quem fez o homem o fez “promessa”. Estruturalmente o homem espera; estruturalmente é mendicante: estruturalmente a vida é promessa» (Luigi Giussani, O senso religioso, p. 85-86).

O tema das férias do CLU deste ano, “A vida é promessa” foi tirado do trecho do Senso religioso apenas citado, que é o texto sobre o qual trabalhamos nas nossas Escolas de Comunidade no ano letivo que acabamos de encerrar. Para quem está no CLU há muitos anos, foi um grande presente voltar a esse texto, o primeiro de uma trilogia em que foram reunidos os conteúdos das aulas de Dom Giussani durante os cursos de Introdução à Teologia que ele dava na Universidade Católica de Milão. Para os novos do CLU, a oportunidade de “começar do início” com O senso religioso se demonstrou muito frutuosa: de fato, durante as assembleias destas férias muitos estudantes testemunharam ter aprendido muito com esse texto durante o último ano.



Padre Pietro deu início às férias lendo um impressionante artigo do New Yorker, The case for not being born, que apresenta a opinião do filósofo “antinatalista” David Benatar. À luz de sua tese: “Melhor nunca ter sido: o dano de vir à existência”, que não é o único do gênero aqui, pe. Pietro nos convidou à proposta das férias: «Uma tentativa de afirmar que a vida é boa, que nascer é um bem». Estes dias querem ser uma oportunidade de «educar a nossa razão à totalidade da nossa vida». A nossa amizade é um “lugar” onde podemos fazer isso, ou seja, onde podemos estar abertos e acolher a realidade em qualquer forma que ela se ofereça a nós. Em particular, destacou dois pontos: «Prestem atenção ao que os interessa» e «não partam da dúvida: é como se vocês já tivessem formado uma opinião».



Procuramos escutar esse convite inicial à abertura pelos seis dias das férias, que foi cheia de passeios (um dos quais particularmente longo e difícil!), jogos, testemunhas, apresentações, cantos e oração, tudo no meio das montanhas de Estes Park, Colorado. Um testemunho do padre Rich Veras, de Nova York, nos ilustrou uma parte da história dos primeiros anos de CL nos Estados Unidos. Contou-nos como encontrou o Movimento (o lugar e a hora!) e como ficou “tocado pela normalidade das pessoas”, mas também pelo sentido de liberdade de alegria delas, e por como não ficavam simplesmente fazendo “encontros”, mas estavam vivendo de verdade a vida juntos. Pe. Pietro também convidou dois amigos que são Memores Dominipara nos falar da relação entre O senso religioso e as suas experiências. O aspecto mais marcante no testemunho deles foi a forma com que ambos começaram a aprender a responder ao sofrimento: para Lorenzo, o sofrimento de seus pacientes não foi um motivo para abandoná-los ou deixá-los morrer, porque tinha encontrado uma razão para pensar diferente; para Francesca, Alguém desceu à terra para compartilhar o nosso sofrimento, e isto começou a dar um sentido misterioso ao próprio sofrimento.



Um aspecto que se destacou nestas férias foi o desejo de cada um de comunicar a própria experiência durante as assembleias (a ponto de que um dos fritz(paródias encenadas) durante a festa da última noite a cena de todos pulando das cadeiras para entrar na fila e falar). Entre as várias assembleias – uma sobre o livro Stoner, de John Williams, uma para os formandos, uma sobre “Razão e Universidade” – foi justamente a assembleia final, que nos pegou de surpresa, alongando-se por mais de duas horas no fim do nosso último dia de férias. Foi um dos meus momentos preferidos, antes de tudo porque eu estava tocado com o desejo dos estudantes de compartilhar tudo deles com os outros (e a coragem e a fragilidade de falar na frente de toda a assembleia), e em segundo lugar porque nenhuma uma das falas era genérica ou abstrata, mas pessoal e genuína. Muitos estudantes falaram da sua experiência familiar, em casa, ou das dificuldades que estavam enfrentando, ou ainda das perguntas suscitadas pelas férias; outros falaram da beleza e da intensidade da experiência desta semana. Uma garota disse: «Ninguém nunca tinha me mostrado tantos jeitos diferentes de ver a presença de Deus». Gostei da forma como souberam identificar a unidade entre nós, como pe. Pietro nos tinha convidado a observar, que era tangível quando rezávamos juntos as Laudes, participávamos juntos da missa, ou quando assistimos a uma apresentação ou a um concerto de jazz, ou ainda a um amigo que tocou a Sonata em si bemol maior de Schubert. Pe. Pietro deu voz ao que muitos de nós estávamos experimentando: a consciência de que Deus nos prepara um lugar, de que Ele já está aqui, de que nos espera sempre.



Expressamos a alegria por termos compartilhado esta semana com a festa e os cantos da última noite, durante a qual os “velhos” do CLU e os recém chegados (os nossos novos amigos de Pensacola, Flórida) dançaram todos juntos. No encerramento das férias, pe. Pietro destacou como estes últimos sete dias tinham sido um acontecimento; o que experimentamos não podia ser expresso em palavras. Parecia que todos – até os que não tinham falado na assembleia – queriam dizer alguma coisa. Espero que cada um de nós possa lembrar o que nos aconteceu como um ponto de referência (como o chamou pe. Pietro), para podermos continuar a seguir a forma com que Cristo veio ao nosso encontro (mesmo agora que já não estamos desidratados e queimados pelo sol).