Com o Patriarca ortodoxo Daniel

O Papa na Romênia. «Já ninguém me é estranho»

«Nós pertencemos uns aos outros, e a felicidade pessoal provém de fazer os outros felizes. Tudo o mais não passa de fábulas...». O relato da visita de Francisco entre Bucareste, Iași e Blaj. «Olhando para ele, comecei a amar a nossa diversidade»
Mihai Simu

A viagem do Papa à Romênia foi um momento histórico muito intenso. Em três dias, de 31 de maio a 2 de junho, ele quis visitar as três grandes províncias do país para poder se encontrar com a maior quantidade de pessoas possível. A partir do lema da visita – "Caminhemos juntos" – todo o percurso foi marcado pela palavra «unidade». Como disse o meu amigo Iulian, depois destes dias, «graças a Francisco experimentei não só o fato de aceitar as diferenças entre nós, na comunidade, entre ortodoxos, católicos romanos, greco-católicos, romenos ou húngaros... mas, pela primeira vez, comecei a amar esta diversidade, porque a reconheço como um bem maior para mim».
O contexto romeno é muito complexo, com muitas situações que, precisamente, facilitam a divisão. Mas a presença de Francisco foi tão impressionante que mudou o olhar de uns para com os outros. «Olho ao meu redor, e ninguém me parece estranho, mas unido a mim pela grande presença de Jesus», dizia outra amiga.

Quando o Papa chegou a Bucareste, foi cordialmente recebido pelo Presidente da República, Klaus Werner Iohannis, que o acompanhou nas diversas etapas de sua visita. Entre os principais encontros, destacam-se o Sínodo da Igreja ortodoxa romena e a oração ecumênica do Pai Nosso, em italiano e em romeno, com o Patriarca Daniel. Francisco saudou os fiéis reunidos na nova Catedral nacional ortodoxa dizendo: «Cristos a Înviat!», Cristo ressuscitou!, a saudação do período pascal. E depois utilizou uma imagem muito bonita para descrever a unidade de fato entre ortodoxos e católicos: o apóstolo André é o santo padroeiro dos romenos, porque levou a fé para estas terras, e o Papa é o sucessor de Pedro, irmão de André, por isso na oração, ou seja, na presença do Pai, «Pai meu e Pai vosso se transformam em Pai nosso».
Na praça e pelas ruas da capital mais de 150.000 pessoas se reuniram, felizes de vê-lo pessoalmente em sua casa. Como dizia meu amigo Adrian, «fazer fila, debaixo de sol, para entrar na praça ou escutar o Angelus debaixo de uma tempestade com os últimos que ficaram... para mim significou deixar-me abraçar pelo seu olhar paternal».



No segundo dia, Francisco, visitou Moldávia, o coração católico do país, onde já em 1227 foi fundada a primeira diocese. Aqui celebrou missa no Santuário mariano de Șumuleu-Ciuc, destino de uma das maiores peregrinações da Europa, com mais de cem mil pessoas. «Esta peregrinação anual pertence à herança da Transilvânia, mas honra conjuntamente as tradições religiosas romena e húngara; e participam nela também fiéis de outras confissões, sendo um símbolo de diálogo, unidade e fraternidade; um apelo a recuperar os testemunhos de fé tornada vida e de vida feita esperança». Consciente de que nesta região há muitos elementos de divisão, por causa das diferenças culturais e sociais, chamou-nos a atenção para a única coisa que de verdade nos une, que é a fé no Senhor, sem eliminar as diferenças, mas olhando para o que nos une. «Peregrinar significa sentir-se chamados e impelidos a caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças, antigos e atuais, em novas oportunidades de comunhão; significa desligar-se das nossas seguranças e comodidades e partir à procura de uma nova terra que o Senhor nos quer dar... E isto, irmãos e irmãs, requer o trabalho artesanal de tecer juntos o futuro. Eis o motivo por que estamos aqui! Para dizer juntos: Mãe, ensinai-nos a esboçar o futuro».

Na parte da tarde, ele visitou Iaşi, a cidade mais importante da Moldávia, onde o esperavam 150.000 pessoas e onde ele se encontrou com jovens e famílias. Recordou a todos que muitos se foram desta terra para a Europa em busca de trabalho, porque as condições não garantiam uma vida digna, mas ressaltou a importância de manter as raízes e não se afastarem uns dos outros... «Existe uma rede espiritual muito forte que nos une, "conecta" e apoia, sendo mais forte do que qualquer outro tipo de conexão. E esta rede são as raízes: saber que pertencemos uns aos outros, que a vida de cada um está ancorada à vida dos outros... Nós pertencemos uns aos outros, e a felicidade pessoal provém de fazer os outros felizes. Tudo o mais não passa de fábulas». No final, ele citou a história de um eremita romeno que dizia que o fim do mundo chegará «quando não houver sendas de vizinho a vizinho!».



O último dia foi o ápice da visita, em Blaj, no coração da Transilvânia, onde durante a missa celebrada segundo o rito greco-católico, à qual compareceram quase cem mil pessoas no Campo da Liberdade, declarou beatos sete bispos greco-católicos (Vasile Aftenie, Valeriu Traian Frenţiu, Ioan Suciu, Tit Liviu Chinezu, Ioan Bălan, Alexandru Rusu e o cardeal Iuliu Hossu), falecidos mártires durante o comunismo por não terem renunciado à fé católica. Por tudo o que a Igreja greco-católica sofreu durante o regime, a presença do Papa foi percebida como uma carícia, que não elimina o mal, mas abre um caminho de cura como um abraço. «Estes pastores, mártires da fé, recuperaram e deixaram ao povo romeno uma preciosa herança que podemos resumir em duas palavras: liberdade e misericórdia». E concluiu a homilia dizendo: «Possais vós ser testemunhas de liberdade e misericórdia, fazendo prevalecer a fraternidade e o diálogo sobre as divisões, incrementando a fraternidade do sangue que tem a sua origem no período de sofrimento em que os cristãos, divididos ao longo da história, se descobriram mais próximos e solidários». Um pedido para cada um de nós não desanimarmos frente às situações difíceis da vida, mas a estamos certos olhando o exemplo de homens como nós que, confiando só em Cristo, encontraram forças para caminhar para o cumprimento, para o encontro eterno com Cristo.



Cada discurso do Papa era acolhido como se estivéssemos esperando-o toda a vida. Impactou-me a numerosa participação de muitíssimas famílias jovens com crianças, e de idosos, todos unidos na espera de um homem que é o sinal mais real e concreto da presença de Cristo na história. Comoveu-me o testemunho da senhora Doina, a esposa de um dos padres greco-católicos que foram presos (Tertulian Langa), que aos seus 94 anos, com toda a fragilidade própria de sua situação, quis estar presente durante o encontro com Francisco, porque lá estava tudo aquilo pelo qual o seu marido deu a vida.

A última etapa da viagem foi a comunidade cigana de Blaj, onde de maneira totalmente surpreendente o Papa pediu perdão. «Em nome da Igreja, peço perdão, ao Senhor e a vós, por todas as vezes que, ao longo da história, vos discriminamos, maltratamos ou consideramos de forma errada, com o olhar de Caim em vez do de Abel, e não fomos capazes de vos reconhecer, apreciar e defender na vossa peculiaridade». Os jornalistas que relataram a visita não ocultaram sua surpresa ao ver tantas pessoas, em todas as partes, comovidas por uma presença que traz esperança.