O passeio em Madonna di Campiglio

Universitários. A possibilidade de uma “vida mais vida”

Em Madonna di Campiglio, os responsáveis do CLU se reuniram para a equipe com Julián Carrón. As falas, os diálogos, o testemunho do padre Sergio da Cascinazza. Para descobrirem o que pode magnetizar tudo da pessoa
Riccardo Sturaro

«A coisa mais importante que eu já disse na minha vida é que Deus, o Mistério, se revelou, se comunicou aos homens de modo a tornar-se objeto da experiência deles». Na síntese, concluindo a equipe – os três dias em Madonna di Campiglio com os responsáveis das comunidades universitárias do mundo todo –, padre Julián Carrón relembrou essa frase, destacada por Dom Giussani há mais de vinte anos. Essa indicação foi o centro de atração, o ponto em torno do qual gravitaram esses dias de convivência, de encontros, diálogos e testemunhos.

O fio central da conclusão foi sendo desfiado desde a primeira fala da assembleia do início. «Durante as férias do CLU (as férias de verão da comunidade universitária, ndr)», contou Matteo, «fiquei surpreso com o momento dos jogos. No rosto de quem estava jogando transparecia uma alegria evidente: até um amigo que tinha longamente vivido na objeção tinha uma cara que ainda agora me parece inexplicável». Há algo de irredutível nessa excepcionalidade, tanto que uma vez identificada a originalidade, a plenitude desses rostos, qualquer tentativa de explicação parece insuficiente. O que é que produz a alegria? Qual é o motivo daqueles rostos? «Não é suficiente a perfeição de uma organização ou o entusiasmo do momento para dar razão da experiência de correspondência total que experimento aqui», concluiu Matteo.



A partir daqui, desse deparar com amigos envolvidos nos jogos, começa o caminho para a verdade. Com efeito – insistiu Carrón –, sem a experiência de um encontro que transforme o rosto, que torne a vida verdadeiramente vida, a fé fica como uma abstração, um fenômeno totalmente impossível. O que torna atual, crível e atraente o cristianismo é encontrar um homem tão implicado com o significado que anuncia, a ponto de carregar os sinais disso no rosto e no olhar. Desde a época de Zaqueu, a verdade se manifestou aos homens a partir de dentro de uma experiência de plenitude sem comparações: e é o mesmo acontecimento que ocorre ainda hoje. Juán testemunhou isso ao contar um episódio das férias do CLU da Espanha. Uma menina marroquina, convidada pela primeira vez, logo depois da introdução lhe confessou: «Estou triste, porque estando com vocês florescem muitas coisas dolorosas da minha vida que eu preferia esconder. Mas desde que encontrei o Movimento posso levá-las em consideração, porque aqui me olham como nunca me olharam antes». A novidade da vida passa por um olhar. «O cristianismo», comentou Carrón, «ou é esse acontecimento ou é um fato do passado. E quem percebe com mais urgência a própria fragilidade e o próprio limite é quem revela mais imediatamente o sinal de uma excepcionalidade: pois não há outro requisito para reconhecer a verdade além de uma consciência autêntica da própria humanidade, um sentido profundo da própria necessidade afetiva. De fato, só uma presença que esteja à altura desse drama poderá ser interessante para o homem. Diante dos amigos do CLU, a menina marroquina identificou algo que é capaz de satisfazer o “buraco afetivo” que cada um percebe dentro de si mesmo. De repente, toda a sua afetividade foi magnetizada por aquelas pessoas. Esse é o método com que o Mistério escolheu revelar-se: desde o início, e ainda hoje, faz-se presente numa experiência de exaltação e de realização da vida. «Sabemos que é Ele», disse Carrón, «porque a afeição encontra uma resposta. Sem essa experiência de sermos atraídos não é possível ser cristão, e é essa a experiência que dá razão da nossa fé».

E a possibilidade de uma “vida mais vida” foi se concretizando nos testemunhos. Durante uma noite, Francesco contou do semestre que passou em Tubinga, na Alemanha: da viagem de ônibus à convivência com os amigos da república distantes em cultura e sensibilidade, passando pelo encontro com pessoas da comunidade na Alemanha e pela possibilidade de um olhar diferente para si mesmo e para o próprio limite, os meses que passou fora foram cheios de eventos excepcionais, de dons. A solidão aparente era rompida continuamente pela lembrança, discreta e ao mesmo tempo densa, de uma Presença que sempre surpreende.

Giacomo também relatou alguns episódios de um verão que passou em Munique, para aprender alemão. Depois dos primeiros dias na defensiva, sem disponibilizar nenhum espaço ao imprevisto, achou-se aberto, envolvido na relação com colegas até então desconhecidos. No momento de voltar para a Itália, sua professora se despediu assim: «Sinto muito que você tenha que ir. Precisamos de pessoas como você na sala. Só a presença já é suficiente». O que aconteceu para produzir nos outros um movimento assim? O que se introduziu para fazer com que desconhecidos passassem a notá-lo de repente? A amizade que nasceu não era o resultado de uma estratégia ou de uma capacidade, só «a presença já era suficiente». E Giacomo intuiu logo um nexo entre essa possibilidade de relação com os estudantes do curso e o encontro com os rapazes do CLU de Monique. «Com eles eu também não entendia o que diziam, mas eu nunca ia embora: o rosto deles me falava. Percebi que em relação a eles eu tinha a mesma pergunta que os estudantes do curto tinham em relação a mim». O encontro com pessoas mudadas tinha alterado seu fechamento inicial e dado um traço novo também ao seu rosto. Por isso, sem que precisasse acrescentar ou explicitar nada, sua presença por si só já anunciava uma particularidade interessante para quem quer que lhe estivesse ao redor.



A última fala da assembleia conclusiva relembrou o relato de Matteo. Luigi descreveu o contraste entre um verão trabalhoso e os dias da equipe: apesar de todo o incômodo e do sentimento de decepção que o acompanhava, nada tinha podido impedir que a certa altura renascesse nesse uma esperança. No momento em que ouviu sobre os amigos jogando, sobre os rostos mudados, surgiu-lhe um desejo: a vontade de ser como eles, a vontade de ter aquele rosto. O contragolpe foi tão grande, que desencadeou o pedido para que a mesma excepcionalidade que tinha penetrado a vida daquelas pessoas pudesse conquistar tudo dele. Carrón respondeu: «O cristianismo é isto: estar diante de alguém que toma toda a sua vida. É um evento tão sintético, que você chega a desejar ter aquele rosto».

No fundo, é a mesma intuição a que padre Sergio, prior do mosteiro beneditino da Cascinazza, mencionou em seu testemunho. A verdade mostra-se numa experiência de plenitude que, por sua atração, atrai tudo a si, e quanto mais o homem adere à proposta, mais a proposta mesma transfigura e conquista a pessoa que adere. O abade dizia isso com uma expressão de Dom Giussani: «Esta é a regra que define para os “chamados” a tarefa diária: [...] tornarmo-nos “você”, assim como Ele se fez nosso, [...] se tornou “você”, porque chamando-te se tornou “você”».