(Foto: pellegrinaggio.org)

O início da unidade de outra forma impossível

A mensagem de Davide Prosperi, presidente da Fraternidade de CL, por ocasião da Peregrinação Macerata-Loreto do dia 11 de junho
Davide Prosperi

Caros amigos, não tenho outro título para me dirigir a vocês além da vida que compartilho com cada um.
A peregrinação lembra-nos que estamos em caminho. Neste momento da nossa história e na história do mundo, o que nos é pedido? Antes de tudo, que cada passo, pessoal e comunitário, recorra a Nossa Senhora para que nos torne disponíveis ao Mistério que nos chega através da companhia em que Ele está presente. Esta é a grande responsabilidade a que a Igreja nos chama. Não nos deixemos distrair por outras preocupações, que não respeitam o método escolhido por Deus para nos conduzir ao nosso destino.

A figura de Marta indica-nos o caminho: somente o encontro com Jesus realmente a mudou, valorizando a sua humanidade como nenhum outro. Desde o dia em que Ele entrou na sua casa, tudo o que Marta fez foi uma resposta à preferência d’Aquele que lhe havia lembrado que só uma coisa é necessária para viver: reconhecer e seguir a Presença que bate à porta da sua, e da nossa, humanidade.
E agora, neste momento sombrio da história, diante daquilo que parece impossível alcançar, ou seja, a paz, do que precisamos acima de tudo?

Sozinhos, mesmo com todas as nossas boas intenções, não somos capazes de fazer justiça. Somos pobrezinhos e nunca devemos esquecer isso: «Quem não tem bem no no fundo esta consciência de que é pecador, falta-lhe um ponto de verdade na relação com seja o que for» (L. Giussani, Um acontecimento na vida do homem, Paulus, Lisboa, 2020, p. 10). Como Marta, que se agitava por mil coisas, também a nós falta a única coisa necessária, a única coisa que o Papa Francisco nunca se cansa de pedir como resposta a tudo o que está acontecendo: Cristo vivo, «fonte da verdadeira paz».
Que este também se torne o nosso pedido durante a peregrinação. Para que estas palavras de Dom Giussani entrem na carne dos nossos dias: «A paz impossível entre homem e mulher, a paz impossível entre vizinhos, a fraternidade impossível, o serviço impossível, a acolhida impossível, a aceitação impossível da dor, do sacrifício, da morte… A palavra “impossível” tornou-se para nós uma alegria e até mesmo uma promessa: o que é impossível para os homens não é impossível para Deus» (Litterae Communionis CL, 1991, n. 10). Só Ele pode livrar-nos do mal.

Mas quantas vezes isso nos parece muito pouco! Em palavras, declaramos que para Deus todas as coisas são possíveis, mas na prática vivemos como se isso fosse uma ilusão. Ao menos desejemos isso! E que este seja o conteúdo do nosso diálogo com o Mistério ao longo do caminho ou em nossas casas: «Que a oração se torne, no limite do nosso horizonte, o posto avançado, o posto avançado da nossa humanidade, da nossa humanidade que batalha, pois a condição da batalha é inevitável e inexorável, tanto que para o Senhor foi a cruz. […] Que nenhum erro, que nenhuma reincidência em nossos erros nos detenha. Que não nos detenha, pois Deus é misericórdia. […] Nossa Senhora, ajuda-nos, tu que foste feita mãe de teu filho! […] Ajuda-nos, Mãe nossa, a termos certeza diante da evidência do dia que temos de viver: dor ou alegria; ou dor e alegria» (Litterae Communionis Passos, n. 33, out/2002).

Como o padre Mauro˗Giuseppe Lepori nos lembrou nos recentes Exercícios Espirituais da Fraternidade, «a novidade que Cristo trouxe ao mundo […] é uma novidade de relacionamentos, uma fraternidade, uma irmandade nova, uma amizade que é inconcebível para o mundo, e sobretudo impossível sem Cristo».
Começar a olhar com admiração o próprio companheiro de caminho como um irmão porque existe Cristo, este é o começo da unidade, de outra forma impossível, entre os homens, para nós e para o mundo inteiro.
No centenário do seu nascimento, que a grata memória de Dom Giussani – que nos testemunhou «Cristo, vida da vida» – nos torne cada vez mais colaboradores ativos na missão da Igreja guiada pelo Papa Francisco, disponíveis a dar nossas vidas pela obra de Outro.

Com amizade
Davide Prosperi