O trabalho do Pré-Meeting (Foto: Meeting Rimini)

Meeting 2024. A mensagem do Papa

«Hoje é imprescindível parar e perguntar: há algo por que vale a pena viver e esperar?» As palavras do Santo Padre Francisco por ocasião do XLV Meeting para a Amizade entre os Povos (Rímini, 20-25 de agosto de 2024)

Do Vaticano, 19 de julho de 2024
A Sua Excelência Reverendíssima
Dom Nicolò Anselmi, bispo de Rímini


Excelência Reverendíssima,

Por ocasião do 45º Meeting para Amizade entre os Povos, o Santo Padre deseja enviar uma mensagem de felicitações aos participantes, saudando os organizadores, voluntários e todos os que tomarão parte no evento, cujo título representa um apelo veemente à responsabilidade: «Se não estamos em busca do essencial, então o que buscamos?»

Justamente enquanto atravessamos tempos complexos, a busca pelo que constitui o centro do mistério da vida e da realidade é de crucial importância. Nossa época, de fato, é marcada por problemáticas várias e desafios notáveis, diante dos quais encontramos às vezes uma sensação de impotência, uma atitude renunciatória e passivo que podem levar-nos a “arrastar a vida” e a deixar-nos dominar peoa atordoamento do efêmero, até perdermos o significado da existência. Neste cenário, portanto, é mais pertinente do que nunca a escolha de pôr-se no rastro do que é essencial.

O Papa Francisco incentiva, portanto, a tentativa de procurar, com paixão e entusiasmo, aquilo que faz emergir a beleza da vida, enfrentando a questão levantada pelo padre Luigi Giussani, quando corajosamente afirmava: «O coração é roído pela esclerose, quer dizer, pela perda da paixão e do gosto de viver. […] Velhice aos vinte anos, e até antes; velhice aos quinze anos: esta é a característica do mundo de hoje » (O senso religioso, São Paulo: Cia. Ilimitada, 2023, p. 133).

Enquanto sopram os gélidos ventos da guerra, somando-se a fenômenos recorrentes de injustiça, violência e desigualdade, bem como à grave emergência climática e a uma mutação antropológica sem precedentes, é imprescindível parar e perguntar: há algo por que vale a pena viver e esperar?

Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco tem-nos exortado a ler também as resistências, as dificuldades e as quedas dos homens e das mulheres de hoje como um apelo a refletirmos, para que o coração se abra ao encontro com Deus e cada um de nós tome consciência de si mesmo, do próximo e da realidade.

Seu convite constante é para nos fazermos mendicantes do essencial, daquilo que dá sentido à nossa vida, primeiramente despojando-nos do que sobrecarrega o cotidiano, a exemplo de um alpinista que, chegando ao pé da parede rochosa, precisa livrar-se do supérfluo a fim de poder subir mais agilmente. Fazendo assim, descobrimos que o valor da existência humana não consiste nas coisas, nos sucessos obtidos, na corrida da competição, mas sobretudo na relação amorosa que nos sustenta, enraizando nosso caminho na confiança e na esperança: é a amizade com Deus, que se reflete então em todas as relações humanas, o que fundamenta a alegria que jamais acabará. Somos amados, esta é a verdade essencial, que o próprio padre Giussani anunciava aos jovens universitários: «Vocês são amados. Esta é a mensagem que chega à vida de vocês […]. Este é Jesus Cristo na história do homem, o início contínuo desta mensagem: “São amados!”. O que é a vida? Ser amados. E o ser que temos em nós? Ser amados. E o destino? Ser amados» (Litterae Communionis-CL, n. 49, jan. 1996, p. XXVIII).

No mesmo comprimento de onda, o Papa Francisco recorda que, «para nós, o essencial, o mais belo, o mais atraente e, ao mesmo tempo, o mais necessário é a fé em Cristo Jesus» (Discurso na assembleia plenária do Dicastério para a Doutrina da Fé, 26 de janeiro de 2024). Com efeito, somente o Senhor salva nossa frágil humanidade e, no meio das adversidades, faz-nos experimentar uma letícia que seria impossível. Sem este ponto de ancoragem, a barca da nossa vida estaria à mercê das ondas e perigaria afundar. Como escreveu o então Arcebispo Montini: «Vós sois necessário, ó Cristo, ó Senhor, ó Deus-conosco, para aprendermos o amor verdadeiro e caminharmos na alegria e na força da vossa caridade, ao longo do caminho de nossa vida árdua» (Omnia nobis est Christus. Carta pastoral à arquidiocese de Milão para a Quaresma de 1955).

Neste espírito, portanto, o Santo Padre aprecia e partilha a finalidade do próximo Meeting, pois mirar o essencial ajuda-nos a tomar nas mãos a nossa vida e a fazer dela um instrumento de amor, de misericórdia e de compaixão, tornando-a sinal de bênção para o próximo. Perante a tentação do desânimo, a complexidade da crise atual e, em particular, o desafio de uma paz que parece impossível, o Santo Padre exorta todos a tornarem-se protagonistas responsáveis da transformação, colaborando ativamente para a missão da Igreja, a fim de juntos darem vida a lugares em que a presença de Cristo possa ser vista e tocada. Esse compromisso conjunto pode gerar um mundo novo, onde finalmente triunfe o Amor que em Cristo se manifestou a nós, e o planeta inteiro se torne templo de fraternidade.

O Papa Francisco faz votos de que o rico programa do Meeting, na multiplicidade das propostas e das linguagens, possa suscitar em muitos o desejo de sair em busca do essencial e fazer florescer nos corações a paixão pelo anúncio do Evangelho, fonte de libertação para toda escravidão e força que cura e transforma a humanidade. A todos, organizadores, voluntários e participantes, ele envia de coração sua bênção, pedindo por favor que rezem por ele.

Unindo também meus votos pessoais, valho-me do ensejo para confirmar-me com sentimentos de distinto obséquio

de Vossa Excelência Reverendíssima
Pietro Cardinale Parolin, Secretário de Estado