Czestochowa. Um “sim” como o de Maria
A peregrinação ao Santuário da Nossa Senhora Negra como experiência de conversão e unidade. Dentro da descoberta de que a meta da vida é a santidade, um dom para pedir com um coração simples«Faz cinco anos que estávamos esperando por vocês, sentíamos falta da sua presença, estamos felizes que vocês estejam aqui hoje.» Com essas palavras, Stanislaw Dziwisz, cardeal emérito de Cracóvia e secretário de Papa João Paulo II durante todo o seu papado, acolheu quase setecentos jovens de CL que chegaram à cidade polonesa para iniciar uma semana de peregrinação a pé em direção ao Santuário de Nossa Senhora de Czestochowa. Mas por que uma acolhida assim, tão inesperada para mim? Ele explica uma primeira razão: durante sua estadia em Roma, o Cardeal teve a oportunidade de conhecer e admirar a experiência de Comunhão e Libertação, devido ao carinho que João Paulo II nutria por Dom Luigi Giussani. Mas há mais. Ele continua: «Eu os acolho como amigos, e essa não é uma palavra vazia, tratamo-nos como amigos, porque somos amigos», e a acolhida do arcebispo de Cracóvia, Marek Jedraszewski, no dia seguinte, se uniu à dele: «Estamos caminhando juntos rumo a um destino. Somos amigos. Chamamo-nos de irmão e irmã, sem distinções, porque nós somos a Igreja e pertencemos a um único Pai». Há, então, uma terceira razão para essa inesperada expectativa do cardeal em relação a nós. «Rezamos e agradecemos pelo dom que vocês também são para a Igreja de Cracóvia.» Esta última razão, a princípio, me pareceu incompreensível. De que maneira eu deveria ser um dom para a Igreja polonesa?
Quando começamos a caminhar, compreendi com surpresa o que ele queria dizer. Durante toda a peregrinação, crianças, idosos e trabalhadores saíam de suas casas para nos cumprimentar ou simplesmente nos observar com olhos surpresos, como se um presente muito pessoal tivesse chegado à porta deles. Quando uma enfermeira trouxe para fora de uma pequena casa de repouso todos os idosos em cadeiras de rodas para que nos pudessem ver, devo dizer que vi em seus sorrisos uma antecipação do Paraíso. Senti-me grandiosa, grandiosa por de alguma forma ser capaz de proporcionar aquele sorriso. Grandiosa, grandiosa pela pertença a uma amizade que me torna um presente para o mundo. Ainda antes de partirmos de Cracóvia, Pe. Francesco Ferrari, que guiou a peregrinação, indicou a todos o objetivo dos dias que passaríamos juntos: «O objetivo da nossa vida é um objetivo grandioso. “O Poderoso fez em mim maravilhas”. O objetivo da nossa vida é a santidade. O santo é o homem feliz, realizado».
Agora que estamos voltando, pergunto-me: o que fez a mim e às pessoas ao meu redor realmente felizes nesses dias? Em primeiro lugar, vi pessoas realizadas nos gestos de caridade cheios de alegria que realizavam. Certa manhã, ao sair da minha barraca às cinco e meia, vi de longe uma garota se abaixando em vários pontos do acampamento para recolher o lixo da noite anterior, sem reclamar das pessoas que o haviam deixado. Pensei: ela deve ser feliz, feliz de verdade. Uma noite, uma garota formada em Medicina ajudava a cuidar de quem precisava e encontrou o jantar preparado por um grupo de jovens que perceberam que ela sempre comia muito tarde porque tinha de cozinhar depois de ajudar na enfermaria.
A caridade também foi evidente em quem contribuiu para a realização da peregrinação, realizando tarefas muito cansativas com gratuidade. Giovanni, do CLU da Bovisa, comenta: «Servi a peregrinação ajudando meus amigos a carregar e descarregar as mochilas dos caminhões. Conheço bem a maioria deles, suas qualidades e seus defeitos. Nestes dias, algo diferente os superou: trabalhar ao amanhecer com alegria, sacrificar-se sem buscar recompensas, ser dócil às orientações de quem guiava. Esses fatos contrastavam com a índole das pessoas que eu conhecia. Aconteceu algo que mudou o coração delas. Diante dessa conversão, nasceu a oração de uma disponibilidade para doar minha vida, vendo como quem fez isso nesses dias já experimentava o cêntuplo, a alegria, a paz».
O momento em que o mistério da caridade e da alegria se revelaram com maior clareza foi durante o momento mais difícil da peregrinação. Perto do final da terceira etapa, uma tempestade tão forte estourou e tornou impossível montar as barracas quando todos chegaram ao acampamento, encharcados da cabeça aos pés. Ninguém sabia ainda o que faríamos para passar a noite secos. Um amigo dos Colegiais me contou: «Buscamos abrigo sob as árvores quando ouvi um canto alpino subindo da floresta. Me aproximei. Fiquei impressionado com o que vi: alguns jovens estavam entoando cantos de uma maneira tão séria, simples e cheia de alegria que era impossível me afastar. Se naquele momento houvesse a possibilidade de ir a um lugar quente onde eu pudesse finalmente me trocar e me secar, eu não teria ido. E disso estou absolutamente certo. Porque o que moveu aqueles jovens a cantar sob o dilúvio, com as pernas e as costas exaustas, a levar as meninas para um abrigo ou a rezar as vésperas sob a chuva, vale para mim muito mais do que a comodidade e a solução dos problemas».
Com que frequência, no entanto, penso que é mais importante resolver os problemas quando eles surgem, ou que o propósito da vida seja sempre fazer tudo o mais próximo possível da perfeição, de modo a reduzir a possibilidade de problemas surgirem. E, no entanto, vi rostos cheios de paz e capazes de perdoar as limitações, os problemas, na certeza de um abraço convincente. Foram então as famílias polonesas que acolheram quase trezentas pessoas, principalmente meninas, fazendo até longas viagens para buscá-las. Uma igreja unida até nas necessidades mais concretas. Emma, dos Colegiais da Brianza, contou: «Num determinado momento, percebi que não tinha saco de dormir, que todas as minhas roupas estavam encharcadas e que precisava de ajuda, então, com humildade, apresentei a questão ao pessoal do politécnico e eles prontamente me disseram que havia uma jovem e uma família vindo de Cracóvia especialmente para nos ajudar».
Uma maneira de estar juntos que já traz dentro de si a meta, aquela realização de que falávamos, e nos faz continuar desejando, caminhando, porque essa meta é o relacionamento com Alguém que não para de nos chamar para Si. A certeza de estar num bom caminho e a adequação do presente às perguntas últimas da vida foram testemunhadas durante a assembleia por Martina, do CLU de Arquitetura: «Eu estava na barraca com uma amiga que voltou para casa no quarto dia de caminhada, depois de receber a notícia da morte de seu pai. Na manhã em que a mãe ligou para ela, eu a abracei e depois começamos a nos preparar, fechar a barraca. Fizemos as mesmas coisas que fazíamos todos os dias, sem viver o escândalo de estar fazendo algo que não tinha nada a ver. Eu não desejava outra coisa senão fazer o que estávamos fazendo, e vi também nela como fazer aquelas coisas era adequado. Tive a nítida sensação de que tudo estava incluído: sua dor, a notícia recebida, nosso estar juntas naqueles dias, nas coisas a fazer, nas orações, nos cantos. Ela queria até ficar até a chegada ao Santuário, mas depois achou melhor voltar».
Pilar, do CLU da Argentina, também testemunhou a descoberta de um Paraíso que já começa aqui e, ao mesmo tempo, motiva o desejo de continuar caminhando: «Estávamos andando. Estávamos no meio de uma floresta, em silêncio. Naquele momento, eu me disse: esta é a vida. Caminhar acompanhada em direção àquele que sempre me espera. Um caminho no qual o sabor do Paraíso já está presente, pois começa aqui». A nos acompanhar na caminhada e a nos esperar havia um rosto claro: «Durante o caminho, o olhar começou a se fixar no estandarte que representava a Nossa Senhora de Czestochowa, sempre erguido diante de nós, peregrinos, quase como um lembrete persistente da meta. Assim, o desejo que havia em mim na partida – que a minha vida não seja medíocre ou anônima, mas grande e única – tornou-se uma súplica a Ela: “Maria, que a minha vida não seja um centímetro menor que a tua”».
Chegando a Czestochowa, nos ajoelhamos, setecentos em silêncio, diante do Santuário. Depois, cantamos: «Non nobis Domine, sed nomini tuo da gloriam». Ali, entendi com o coração, com os olhos e com o corpo qual foi a grandeza de Maria, a sua santidade: o seu sim. Não a abolição do medo ou da limitação, mas o reconhecimento de um amor tão grande sobre a própria vida, a ponto de dizer a Ele sempre com coragem um sim, de viver para a Sua glória, mesmo sem entender. E a amizade entre nós nesses dias foi um apoio para pronunciar o nosso sim. Sobretudo porque essa companhia nos faz uma proposta contínua, clara, ordenada e orientada ao ideal. Stefano, um jovem dos Colegiais da Brianza, disse: «É impressionante pensar na densidade de propostas e oportunidades que nos foram sugeridas por Fra, e me impressionou ainda mais a forma como esses momentos foram vividos. Em cada momento em que o cansaço e a fadiga poderiam prevalecer, houve, em vez disso, uma adesão espontânea às propostas».
Durante o caminho, nos foram propostos momentos de silêncio – em que eu podia retomar a consciência de mim mesma, me confrontar com a minha humanidade, até pedir ajuda, abrindo-me ao relacionamento com o grande interlocutor da história de amor que é a minha vida –, momentos de oração – em que o relacionamento com esse interlocutor é vivido na unidade com a Igreja, que escolhe para mim as palavras mais adequadas para isso – e momentos de apoio ao cansaço, de maneira mais simples entre nós. Os cantos nos acompanharam todos os dias porque, como me disse Marta, que serviu a caminhada com sua voz, «o canto tem a capacidade de revelar a unidade da vida e a unidade entre nós, podendo expressar cada nuance da existência na beleza e na não solidão, da oração à festa, do grito de dor ao agradecimento».
LEIA TAMBÉM - Czestochowa. Um ímpeto de liberdade
Na última noite, jantei com algumas meninas dos Colegiais. Sofia compartilhava com as amigas o medo de que a beleza que viu na escola, que ela definia como um “tudo” encontrado aqui na terra, acabasse uma vez terminado o ensino médio, uma vez que certos rostos, mediadores desse “tudo”, se afastassem. Uma de suas amigas, Carlotta, respondeu: «Eu também tinha medo de deixar a escola, mas nesses dias percebi que o que vi lá não acaba, está presente não só no rosto dos meus amigos, mas em todos aqueles que vi ao meu redor, é uma Presença entre nós». Quando eu cheguei diante de Nossa Senhora, pensei, no fundo, a mesma coisa: entre nós há uma Presença objetiva, que escolheu estar entre nós, não foi gerada por nós nem depende do nosso entusiasmo em reconhecê-la, mas depende – doçura das doçuras – do «Sim» de cada um de nós. A Presença de Deus entre nós dependeu, há dois mil anos, do «Sim» de Maria. Eu preciso de Deus, mas Deus, ao me amar, pede algo de mim, precisa de mim, quer o meu «Sim». Pedi a Maria que sustentasse o meu «Sim» por toda a vida, com a mesma simplicidade dela.