Notas de alguns diálogos de Dom Giussani com estudantes do ensino médio, universitários e jovens trabalhadores, nos anos 60 e 70 (de Passos nov-dez 1998)

O tempo da liberdade
Não é questão de ter de fazer, mas de ter de ser. As férias são o tempo da liberdade, não como libertação do estudo, mas porque obrigam ao esforço e à responsabilidade da liberdade e da sinceridade. É o tempo no qual vem à tona o que você quer de verdade.
Há em mim a presença de algo tão real quanto o mar e as montanhas. Eu sou sempre eu.
O tempo das férias é o tempo da personalidade. Deve-se garantir a permanência de um critério (momento de fidelidade e de continuidade).
Após algum tempo, até mesmo a novidade cessa e provoca o tédio. A novidade é a verdadeira busca do nosso destino. Deve-se dar atenção aos outros.
Adaptar-se a um ambiente não quer dizer ceder a ele.
Males:

  • considerar o descanso como um momento de esquecer o que aconteceu antes;
  • ausência de um programa;
  • aceitar representar um papel que me torne mais simpático aos que me cercam;
  • medo de ficar sozinhos, que muitas vezes esconde o medo da responsabilidade pelo tempo.

Deve-se fixar alguns momentos de coisas sérias, de oração, ao longo do dia (saber ao encontro de que se vai).
É preciso saber retomar sempre. Escrever; encontrar-se nas férias; dispor-se a viver com bondade. Discrição com o ambiente.
Evitar certas experiências.
Notas de uma Assembleia, 9 de junho de 1962

Trabalho e repouso
O trabalho exprime a vida como vida, preenche toda a vida. O trabalho em sentido estrito – ir a um determinado lugar, ou pôr-se a realizar determinadas ações pelas quais se deve responder, às quais está ligada uma remuneração que permite viver – ocupa a vida mais que o descanso, mais que dormir. O trabalho disputa com o descanso o espaço da vida, e é bem impressionante este binômio (impressionante no sentido correto da palavra), pois é o próprio homem que se divide entre uma quantidade de inércia e uma quantidade de energia. Seja como for, o trabalho disputa com o sono o primado da ocupação de todas as horas da nossa vida.
Nós usamos a palavra “trabalho” também em sentido mais amplo, como sinônimo mesmo de “vida”, ou seja, como expressão de nós mesmos. E, com efeito, quando saímos em férias, qual é a impressão que fica – para quem consegue ser fiel, para quem consegue seguir-nos fielmente mesmo nas férias – em relação às férias que fazia antes? Antes eram vazias e agora, ao contrário, são sentidas como “cheias”, plenas. Ou quando damos um passeio juntos, fazendo-o conforme o nosso espírito, onde está a diferença? Quando a pessoa volta para casa à noite, aquilo não acaba, a pessoa não fica diante de uma coisa finita. Por que as férias e os passeios são diferentes? Porque constituem um trabalho. Tanto é verdade, que muitos se impressionam, muitos param e não nos seguem mais por causa disto, pois, se continuassem, se seguissem, no fim do dia (do passeio) ou no fim de quinze dias (das férias), da maneira como nós os vivemos, o tempo seria pleno, qualquer um o sentiria pleno, sentiria que não perdeu tempo, ou seja, que trabalhou.
Exercícios dos Jovens Trabalhadores, Varigotti (Itália), 2 de maio de 1964

Consciência e companhia
Não há férias da vida e do crescimento. Por isso, sublinhamos dois pontos para o período particular das férias de verão.
A nossa experiência é eminentemente uma vida, portanto não se trata de momentos isolados, que podem até nos tocar e impressionar fortemente, mas que não chamam a nossa atenção para a vida, não nos introduzem, não desembocam em uma vida.
A vida das férias de verão tem duas características particulares:
  1. A consciência. As férias são o momento em que mais livre e tranqüilamente se pode tomar consciência. Com efeito, nós nos daremos conta de viver a nossa liberdade se tivermos consciência. É no momento de liberdade que mais facilmente podemos entrar em nós mesmos.
  2. A companhia. Ser intransigentes na maneira de viver a nossa companhia. Observemos a expressão clara e exata para julgar a nossa companhia. É para manter isto que continuamos a referência à comunidade.
Encontro dos Colegiais, 6 de junho de 1965

Em caminho
O seguimento é apostar no sentido de si mesmos. Então seguir se torna um trabalho, pois aquele que você segue não coloca na sua frente o significado que você tem, pois isto será feito por Cristo quando vier no fim do mundo. Mas aquele que você segue, apostando, arriscando a si mesmo, coloca-o diante do sentido que você tem dentro de um determinado gesto. Pois só veremos com evidência o sentido de nós mesmos no fim; mas antes do fim há toda a trama de gestos que se chama vida. Por exemplo, umas férias – não como todos as concebem (todos!) – que se tornem um caminho, um passo no caminho rumo a uma maturidade maior: uma consciência maior do instante como relação com o destino, uma consciência maior da relação entre o próprio eu e os outros (comunhão), uma consciência maior da relação entre o gesto efêmero, o gesto meu e a presença das coisas (ordem). Assim, a pessoa descobre, naquele momento, uma melhora de si, descobre um sentido maior de si mesma.
Encontro de Responsáveis dos Universitários, 2 de setembro de 1978