Aqueles olhares sobre Jesus

Todos os anos o Movimento Comunhão e Libertação propõe, como ajuda para viver a Santa Páscoa, uma imagem artística e um texto
Giuseppe Frangi

O texto do Cartaz de Páscoa deste ano é constituído de um trecho de Charles Péguy que se encontra em: Ch. Péguy, "Il portico del mistero della seconda virtù", in Id., Lui è qui. Páginas selecionadas, Bur, Milão 2009, p. 314-315.

Milagre dos milagres, minha menina,
mistério dos mistérios.
Porque Jesus Cristo
tornou-se nosso irmão carnal
Porque pronunciou temporal
e carnalmente as palavras eternas,
In monte, sobre a montanha,
É a nós, enfermos, que foi dada,
É de nós que depende, enfermos e carnais,
Fazer viver e nutrir
E manter vivas no tempo
Aquelas palavras pronunciadas
vivas no tempo.
(Charles Péguy)

A imagem é O sermão da montanha, de Fra Angelico e auxiliares. Entre 1439 e 1446, Beato Angelico trabalhou em um dos mais extraordinários ciclos do Renascimento italiano: as pinturas no convento de São Marcos em Florença, onde os dominicanos foram instalados pela vontade da família Médici. Angelico (cujo verdadeiro nome é Giovanni da Fiesole) realizou um projeto estudado nos mínimos detalhes, enriquecendo as celas com imagens a fim de fazer companhia aos frades nas meditações.

Cada área do convento foi estudada imaginando-se quem iria habitá-la. Por exemplo, esta cena com o Sermão da Montanha se encontra em uma área do convento destinada aos "religiosos conversos": irmãos que ficaram na condição de leigos, excluídos do sacerdócio, que proviam as necessidades materiais da comunidade. A eles foram destinadas sete celas. No geral, tratava-se de pessoas provenientes das classes pobres, e então com poucos estudos. Por isso, Angelico imaginou um programa de ilustrações simples, para facilitar a compreensão das mensagens, recorrendo ao Evangelho de Mateus.

Na segunda cela dos "religiosos conversos", a número 32 do convento, pintou este Sermão da Montanha (de Mateus 5, 1-48). A imagem é muito essencial, com o espírito daquela solidez da construção que Angelico tinha aprendido com Masaccio. Sob uma plataforma rochosa que quer exprimir a confiabilidade da mensagem de Jesus, se vê os apóstolos de costas, colocados em círculo para escutar ao Senhor. Esta disposição deles, ao redor de Jesus, representa a Igreja no seu estado germinal.

Angelico interrompe a sobriedade quase concisa do contexto só com as variações das cores, quase rítmica, das roupas dos apóstolos: aparece esverdeado, cor vinho, tom amarelo-rosa, como se quisesse fazer ressaltar a especificidade de cada um, na conversão para a figura central de Jesus que está sentado sobre uma rocha mais alta. Tem em uma mão o rolo do Evangelho, enquanto com a outra indica o Pai como fonte das bem-aventuranças que está anunciando.

Nesta grande obra, Angelico fazia trabalhar a sua equipe (da qual fazia parte, por exemplo, Benozzo Gozzoli). Mas duas coisas são com certeza da sua mão: a extraordinária invenção, quase cinematográfica, do conjunto e a figura de Jesus, que atrai aqueles pobres olhares, com o seu modo de falar paterno.