Pipiripau: A potência do caminho do simples e do belo!

Reaberto o Presépio do Pipiripau no Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que há cinco anos passava por um processo de restauro.
Graciela Frucchi

O poeta Drumond escreveu: "Como é o caminho se ninguém passa por ele?”. Aquele que percorreu a estrada é o único que sabe como ela é. Quando a pessoa fez uma bela experiência, desejosamente quer anunciá-la ao outro. Reconheci a beleza anunciada no meu reencontro com o Presépio do Pipiripau, no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, que há cinco anos passava por um processo de restauro.

O Pipiripau é um encantamento mineiro, é um maravilhamento único vindo das mãos do Seu Raimundo! Ele que na infância acompanhava a mãe nas novenas de Natal diante do presépio da Paróquia, olhava atento ao gesto dela, talvez, desde lá tenha se inspirado a construir o seu próprio presépio. E, nisso dedicou a vida toda. Começou aos doze anos de idade comprando ‘A’ primeira peça: o Menino Jesus. Depois construiu as demais com papel marche, argila, gesso. Que simbologia fantástica ser o Menino-Deus a única peça de material diferente dos outros componentes: o Cristo é de outra natureza na nossa natureza.

Hoje são mais de 3000 itens que compõe toda a obra. O presépio todo está dividido em 45 cenas, nelas, o profano e o sagrado coexistem, paisagens bíblicas em meio a parque de diversões, palácios, igrejas, moinhos, atividades de caça, pesca, pecuária e agricultura ajudam a compor o cenário mágico do presépio: uma expressão cênica do Deus conosco. As 586 figuras móveis e essa articulação fazem os personagens se comunicarem com o público através dos gestos, como em libras. É um ‘dizer-gestual’ que comunica o essencial! Por exemplo, o quadrante encenando a negação de Pedro, a única coisa que se move na cena é o dedo indicador da mão direita de Pedro fazendo o gesto universal de negativo. E nós? Quantas vezes somos prolixos, falamos muito sem dizer nada! E mesmo assim somos perdoados.

Seu Raimundo sabiamente instala no presépio a repetição contínua dos gestos dos personagens, como na cena do pescador que pesca sempre o mesmo peixe com o mesmo anzol. Me parece que seu Raimundo reconhecia a nossa necessidade de ver mil vezes, de sermos educados mil vezes, pois é essa insistência de Deus conosco que nos recupera.

Relembrando de toda essa beleza nasceu em mim o desejo de convidar alguns amigos e parentes para visitarmos juntos o recém reinaugurado Presépio do Pipiripau. Esse convite foi uma forma de vivermos juntos o caminho do seu Raimundo. Esse convite era a ocasião para essa Beleza entrar! Era mais uma chance de exercitarmos o olhar e tangenciar o patrimônio material e, por ele, transpormo-nos ao imaterial: deixar-se impactar pela potência do caminho do simples e do belo.

O Presépio representa uma maneira singular de percepção e interpretação do mundo pelo artista Raimundo e, para mim, um testemunho de Belezas no e para o mundo, uma síntese cenográfica dos meus valores de fé.
Bartolomeu Campos Queiróz, escritor mineiro, que um dia em entrevista disse:

“Uma beleza que não é compartilhada é uma beleza triste”. E como isso é verdade! Visitar o Pipiripau é fazer um caminho do olhar! Drumond, ao vê-lo em 1927, escreveu: ‘Meus olhos mineiros se enchem de encantamento. ”, os meus paulistas, também. Que todos possam ver o testemunho do seu Raimundo!

SERVIÇO:
Endereço: Avenida Gustavo da Silveira, 1035 - Horto
(Dentro do Museu de História Natural da UFMG )
Telefone: 31 3409-7650
Site: http://www.ufmg.br/museu