Em Bérgamo, para descobrir o que preenche o vazio
"Quid animo satis? O que satisfaz o coração do homem?”. Tentaram responder a isso os organizadores da décima edição do evento BergamoIncontra, com palestras, mostras e espetáculos“Exatamente onde o coração parece estar tranquilo – uma mulher, um marido, os filhos, uma família serena – percebe-se um espaço vazio. É como a surpresa de descobrir, em uma casa animada e cheia de vida, um cômodo vazio. É o sinal de que cada homem espera por Deus e só Deus o deixa tranquilo. O homem é uma fornalha de desejos que acabamos deixando esfriar”.
Dom Francesco Beschi, Bispo de Bergamo, participou do encontro com o título de BergamoIncontra 2017 e sintetizou com essa imagem a provocação colocada nesse ano pelos organizadores para toda a cidade: "Quid animo satis? O que satisfaz o coração do homem?”.
Mais de 5 mil participantes animaram o coração de Bergamo de sexta-feira, 30 de junho, a domingo, 2 de julho: 8 encontros no programa, 3 espetáculos, 2 exposições, uma livraria muito bem abastecida, uma tentadora proposta gastronômica e muitas atividades para as crianças.
O tema tocou o coração de quem foi ao Sentierone, o caminho que leva até a cidade “alta”: desde pessoas que passavam curiosas aos palestrantes, que se envolveram profundamente, até os membros das obras associativas cidadãs, com as quais durante o ano traçaram relações que revelaram uma riqueza humana e todo o desejo de comparação, que sempre caracterizou aquela região. De BergamoScienza a Caritas, do Movimento Giovani Imprenditori di Confartigianato Imprese aos de Ascom Bergamo Confcommercio e Confindustria. E, ainda, Companhia das Obras.
Na exposição sobre o título do evento, a tarefa de documentar a universalidade daquela pergunta: Piradello, Pavese, Jovanotti, Ron, Evanescence… Até chegar a Dom Giussani… Uma viagem entre poesia e música que permitiram encontrar as pessoas no nível mais verdadeiro, o nível do “eu”.
Como conta Cristina Locatelli, membro da organização: “Eu vi tanta comoção perante as pessoas que falavam do coração – olhos que se iluminavam, lágrimas, expressões de gratidão diziam aquilo que, como disse Rilke, ‘tudo conspira em silêncio’. Fiquei impressionada porque muitos voltaram no dia seguinte, para participar de um encontro. Ou mesmo só para visitar novamente a exposição e nos cumprimentar. Um jovem, por volta de uns 30 anos, no final da visita me contou o seu percurso dramático de busca até que cedeu a Deus e reencontrou a fé. Também ele voltou no dia seguinte, participou de mais de um encontro e continuou o diálogo conosco, agradecido, e disse que havia encontrado ‘alguém com o qual possa falar daquilo que tenho no coração’”.
Também um sem-teto, no sábado de manhã, deu a sua declaração: “Vocês foram fantásticos. Essas coisas ninguém nunca disse aqui, no meio da cidade”. E se reconheceram em um ponto, em uma frase ou em uma canção, mesmo os idosos de uma casa de repouso que vieram para fazer uma visita. Também as crianças paravam para olhar. Uma pessoa, que passando por ali leu entre os painéis, parou para registrar em um caderno uma frase... Mas talvez o fato mais emblemático foi o ocorrido com os palestrantes do encontro dedicado para se falar da relação entre o Islã e o Ocidente. Como conta Andrea Pesenti: “No final da jornada, um deles, muçulmano, me perguntou se poderia expor aqueles painéis perto da sua comunidade, porque ‘a mostra foi uma viagem dentro do homem: é como se tivéssemos colocado óculos com visão de raio-x e isso nos permitisse ver dentro das pessoas’”.
O mesmo fio condutor foi para os encontros. Diante de temas como trabalho, formação, economia, islamismo, imigração, educação, arte e música (no palco, o coração inquieto de Edith Piaf com o seu Hymne à l’amour e o concerto do grupo Clerq) nos perguntamos: “Onde está a satisfação? O que acontece com o homem quando encontra algo que o satisfaça?”.
“Haverá algo que responda à pergunta”: essa foi a provocação com a qual, graças ao encontro com Maria Teresa Landi, pesquisadora no National Instituto of Health em Maryland (Estados Unidos), concluímos o primeiro dia do BergamoIncontra; mas foi só o início: “Deve haver alguém”, nos testemunha Silvio Cattarina, responsável pela Cooperativa social “L’imprevisto” de Pesaro. Mas foi o encontro com o padre Ibrahim Alsabagh, pároco em Alepo, na sofrida Síria, que permiriu concluir que há Alguém. Quid animo satis? Essa é a pergunta inesgotável do coração do homem e do coração de Deus que o espera. Protagonista da história é quem mendiga.
Também foi muito visitada a exposição “Imigrantes, o desafio do encontro”. Tiziana conta: “Um grupo de rapazes nigerianos, há alguns meses na Itália, viu o vídeo que apresentava as dramáticas cenas dos resgates. Eu vi rostos que pareciam petrificados, semblantes que tantavam diminuir o drama com risos, alguns choravam. Quem sabe o que gerou neles aquelas imagens... Mas depois, vendo-os apresentarem no palco as suas canções com entusiasmo, foi impossível não me comover ainda mais com o desejo deles de viver, algo que foi percebido por alguns de nós nos últimos meses com a proposta de nos reunir juntos para cantar”.
Houve também quem, no final desses dias, nos dissesse: “Seria possível ensinar italiano a esses rapazes? Tenho pouco tempo, mas posso assegurar uma continuidade”. Alguns professores, por outro lado, nos perguntaram se não poderiam levá-los às escolas e “uma moça negra muito bonita, que por um acaso estava ali, me agradeceu porque não esperava que fosse uma exposição tão bonita assim”, disse Anna: “Mais de dois senhores, depois da visita à exposição, estavam com lágrimas nos olhos. Para mim foi um ganho prepará-la, explicá-la e nos ver em ação”. Também Marta, na segunda-feira mandou uma mensagem à sua professora: “Pode me mandar o link da exposição?”.
É claro que não podia faltar o espaço para as crianças, Bimbincontra, com atividades dedicadas à descoberta da arte e da música com Ambarabart e Music Together. E, ainda, uma das novidades dessa edição, os laboratórios dedicados aos profissionais: pintor, pedreiro, padeiro, dirigidos pelo Movimento Giovani Artigiani Confartigianato. Havia também alguns estudantes do instituto "Lorenzo Lotto" de Trescore, que desenvolveram algumas horas alternando trabalho e estudo: "Tendo trazido quatro alunos da minha escola fui obrigada a me perguntar ainda mais que valor tem eu dar o meu tempo para o evento e a não dar nada por óbvio, mesmo depois de dez anos que eu participo ", disse Donata, a professora deles.