Bérgamo. Na escola de “senso religioso”
Um ciclo de encontros organizados pela associação Bergamo Incontra sobre o primeiro livro do PerCurso de Dom Giussani. Para aprender a encarar a vida a partir desse textoQuinhentos inscritos, mais de quatrocentas presenças no primeiro e no segundo encontro. Não esperavam mesmo todo esse público. Deve ser porque, como dizia o sociólogo Ulrich Beck, «a maioria das pessoas concorda com uma frase, além de todos os antagonismos e em todos os continentes: “Eu não entendo mais o mundo”». Sendo assim, a pergunta “Como se faz para viver”?, que a Associação Bergamo Incontra escolheu como tema, foi ao encontro de um ponto doloroso da nossa época. Em Bérgamo deram a um dos ciclos de encontros o nome do primeiro livro do PerCurso de Dom Giussani, O senso religioso, considerado o “coração” do pensamento do fundador do movimento CL e ao qual Pe. Carrón se refere com frequência. Aliás, «numa das Escolas de Comunidade do ano passado, ele disse que não conhecemos O senso religioso, e dá para ver isso pelo fato de não partirmos desse texto para encarar a realidade». Para Davide Settoni, formado em Engenharia, «foi o enésimo sinal de que eu de fato conhecia pouco esse livro. Pensamos sobre isso, ao redor de uma mesa, jantando um dia, junto com outros amigos da comunidade de Bérgamo». É preciso alguém que o explique. Melhor: alguém que o torne visível, vivo.
«A ideia inicial era uma série de encontros, um para cada uma das três premissas do livro: “Realismo”, “Razoabilidade e “Moralidade”», contou Michele Campiotti, responsável da comunidade bergamasca. Mas pensando bem, «não era possível não abordar também o quinto e o décimo capítulo: o que realmente satisfaz as perguntas mais profundas do homem? E depois, se a tarefa da realidade é despertar as perguntas últimas, para onde levam? E como se reacende a esperança?». Michele continua: «Queríamos organizar uma iniciativa pública, aberta à cidade toda. “Vamos fazer um curso, e além disso cobrando. Poucos, mas bons”, dissemos». Em pouco tempo, conseguimos os patrocinadores, uma página de propaganda no jornal da cidade, o contato com a pastoral universitária. Há quem ache que seja um título presunçoso demais, mas foram obrigados a rever isso quando o curso começou em 21 de dezembro, na sede do Centro de Congressos João XXIII, com 500 inscritos, «dos quais ao menos 30% não são do Movimento, e muitíssimos estudantes», disse Michela Milesi.
O primeiro encontro foi conduzido por Carmine Di Martino, docente de Filosofia Teórica na Universidade Estatal de Milão. O segundo, por Pe. Stefano Alberto, que há mais de vinte anos assume a cátedra de Teologia na Universidade Católica de Milão, que antes pertencia a Dom Giussani: o tema foi justamente O senso religioso. Em ambos os casos, a primeira parte foi uma palestra e a segunda uma assembleia aberta para as perguntas do público.
«O itinerário das três premissas vale para compreender tudo, é um itinerário de conhecimento», disse Davide: «É o que mais está fascinando as pessoas que não são do Movimento que vieram aos encontros. Di Martino, por exemplo, explicou muito bem o que é o coração: falou de “caixa preta”, algo que todos temos e ninguém pode manipular. E assim é possível começar a olhar para os outros, para todos, como para pessoas que têm em comum conosco esse coração. Uma amiga nossa convidou duas amigas suas. Uma veio, enquanto a outra disse: “Não, não vou porque vai ser o mesmo de sempre, o enésimo encontro sobre a fé, sobre o cristianismo, que não me interessa”. A que veio ficou fascinada: entendeu que estavam falando de algo que não diz respeito só à fé, mas à vida inteira. Ela comprou uma cópia d’O senso religioso e a levou para a outra, dizendo: “Você deveria vir mesmo, esses encontros ajudam em tudo”».
Entre um encontro e o outro, um grupinho de 30 pessoas se encontrou para saber “como foi”, e para formular perguntas que podem ser úteis para o palestrante seguinte», contou ainda Michela. «É um momento aberto a todos os participantes. Mesmo para quem nunca ouviu falar de “senso religioso”» mas talvez, graças a esses encontros, sente a urgência de se perguntar o sentido da vida e de ver algo de certo neste momento de profundas incertezas e “flutuações” existenciais.
O próximo evento está marcado para o dia 14 de março, com Marco Bersanelli, professor de Astronomia e Astrofísica na Universidade dos Estudos de Milão. Na conclusão dos cinco encontros, no dia 8 de maio, vai falar Pe. Carrón.