Meeting 2020: «Sem maravilhamento, ficamos surdos ao sublime»

O comunicado de encerramento da edição de 2019. Os números, os temas, os protagonistas. No ano que vem, a feira de Rímini volta entre 18 (terça-feira) e 23 (domingo) de agosto. O título será uma citação do filósofo Abraham Heschel

«O teu nome nasceu daquilo que teus olhos fixavam». O nome, a identidade do Meeting nestes dias nasceram e cresceram de um olhar límpido e desejoso de aprender com a realidade. O primeiro a nos indicar o caminho foi opapa Francisco, com os exemplos de Zaqueu, da Verônica e do Inominado de Manzoni, desejando «que o Meeting seja sempre um lugar hospitaleiro, no qual as pessoas possam “fixar os rostos”, fazendo experiência da sua própria inconfundível identidade», sem nostalgias ou medos. Junto com o Papa, o presidente Mattarella também nos pediu que “comecemos pela pessoa” e «enfrentemos o novo com coragem, sem nostalgias paralisantes, conservando sempre um espírito crítico e uma abertura a quem nos está próximo».

Do Meeting nasceu principalmente um olhar para o contexto social do nosso país, incluídas as incertezas sobre sua condução. Não apareceram fórmulas de governo ou sugestões para quem está na frente dele, mas exemplos de administração da coisa pública que tem no centro o bem de todos. Dos prefeitos aos presidentes das regiões, passando pelos políticos do Intergruppo da Subsidiariedade – que dialogaram de maneira construtiva –, pelo presidente da Confindustria (Confederação Geral da Indústria Italiana) – que debateu com o número um da CISL (Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores), bem como os ministros Bussetti, Moavero e Tria, cada um trazendo sua contribuição junto com os demais, interessados no país real.

Enquanto isso, nas áreas temáticas do Meeting, os protagonistas do mundo social e econômico falaram sobre a extraordinária vitalidade da Itália, na reflexão sobre as cidades com suas enormes potencialidades e nos aprofundamentos sobre a saúde, o trabalho, a inovação e uma economia que só ganha sentido num quadro de sustentabilidade de amplo respiro, que dá protagonismo à pessoa e a seus talentos.
Um fio condutor que atravessou todo o Meeting foi o diálogo entre pessoas de fés e culturas diferentes, no grande quadro da liberdade religiosa. Olhamos para o ecumenismo das relações do papa Francisco e do falecido cardeal Jean-Louis Tauran, mas também para experiências como a da Escola florentina de Alta Formação para o Diálogo Inter-religioso e Intercultural. As vozes mais respeitadas do mundo islâmico ressoaram, de Al-Azhar à Liga Muçulmana Mundial, com seu secretário geral Muhammad Bin Abdul Karim Al-Issa, mas também do mundo judaico. No auditório da Feira [o nome do local é Feira de Rímini] escutamos os relatos dramáticos de homens de religiões diferentes que colaboram para deter os enormes danos da guerra, como no caso da Síria, no testemunho das autoridades religiosas cristãs e muçulmanas de Alepo. Um ícone desse fio condutor foi a grande mostra “Francisco e o Sultão 1219-2019. O encontro na outra margem”, que destacou a relação íntima que se dá entre diálogo e identidade.

O Meeting é como a mostra “NOW NOW”, que nos mostrou sete jovens artistas enquanto produziam suas obras ao vivo: ua manifestação que cresce olhando para experiências em seu nascer, florescer e desenvolver-se. O público do Meeting é atento, curioso e desejoso de aprender, lotou os encontros dedicados à inteligência artificial, e também os testemunhos da cooperação internacional que ajuda a sério as pessoas em suas casas. Jovens e adultos torceram pelos grandes campeões do esporte, como Javier Zanetti ou Valentina Vezzali, e em duas noites encheram todas as fileiras do Teatro Galli para a releitura em chave contemporânea de um clássico dos anos cinquenta: Barrabás, de Lagerkvist, extraindo estímulos e inspirações que depois – foi um testemunho comum de muitos visitantes – vão acompanhar a cada um ao longo do ano todo.

O Meeting do olhar também foi um Meeting dos números em crescimento. Os 179 encontros com 625 palestrantes, os 20 espetáculos, as 20 mostras, os 35 eventos esportivos reunidos numa área de 130 mil m² atraíram um número de presenças superior ao já bom desempenho de 2018, como foi perceptível por quem quer que nestes dias tenha atravessado os corredores da Feira, isso sem contar o impacto na economia local, calculada pelo Osservatorio sobre o turismo regional em 23 milhões de euros.

Concluindo, a Feira de Rímina não foi esta semana o lugar de quem adora teses predefinidas, mas de quem deseja ampliar os horizontes, usando plenamente a razão para conhecer a realidade. O melhor exemplo é uma mostra de estranho título, que pode ter lembrado a alguns os títulos dos Meetings de antigamente. “Bolhas, pioneiros e a menina de Hong Kong” nos falou das aspirações, das hesitações e dos temores de uma geração de jovens americanos com respeito e curiosidade diante de suas perguntas, sem o afã de colar uma resposta postiça, mas com o desejo de acompanhar o percurso, num encontro entre pessoas que pode ajudar todo mundo a sair do casulo.

Um itinerário vivido juntamente e cheio de descobertas, o meeting deste ano, que já olha para a quadragésima primeira edição: será de 18 a 23 de agosto de 2020 e terá como título “Sem maravilhamento, ficamos surdos ao sublime”.