Em sala comunicamos aquilo que transborda em nós

Relato do encontro com os educadores de Cl, em junho, e as notas do diálogo entre os educadores e o responsável nacional do Movimento
Maria Inês Damasceno

O encontro nacional dos educadores de CL de 2015, realizado de 5 a 7 de junho, em Teresópolis/RJ, começou com um pedido de ajuda a olharmos às necessidades que temos e às exigências que todos, educandos e educadores, carregamos.
Já na sexta à noite, no primeiro bate-papo proposto, saíram colocações e experiências que retratavam a educação em todo Brasil, visto que éramos 35 educadores de todo território nacional. Medos, inquietações, ânsias, alegrias, frustrações, maravilhas... Apareceu de tudo no início deste encontro, que trazia consigo a grande experiência vivida por nós no ano passado. E em meio a tantas questões era evidente que valia muito a pena estar ali, para juntos tratarmos daquilo que acreditamos que poderá mudar o mundo: a educação.
No segundo dia, Marco, conhecido como Bracco, o responsável nacional pelo movimento Comunhão e Libertação, veio ao encontro para ouvir-nos e falar de sua experiência. Primeiramente, nos provocou a falar de uma experiência positiva ou negativa e o que se tinha aprendido destas. Todos queriam falar, pois uma das maiores queixas é se sentir sozinhos, sem ter com quem falar nos ambientes em que lecionam. E ele continua a provocação: “Quando um professor dá uma boa aula? Quando explica toda a matéria? Não! O professor só pode tocar os educandos quando tem em si algo que o faça vibrar, que o faça transbordar de tanto que pulsa em si a vida. Eis o grande desafio: como estou fazendo experiência deste coração que bate dentro do meu coração? Pois se não estou atento ao meu coração, às minhas necessidades, como poderei olhar às necessidades dos educandos? É um trabalho dentro do trabalho”.
Foi comovente ver como os educadores se identificaram com essa provocação: se olhar em ação e ver que muitas vezes não levamos a sério este coração que temos e sendo assim não percebemos o que temos ao nosso redor e ao invés do anúncio da beleza e de que vale a pena viver a vida, o que ficam são as lamúrias, e queixas. Nossos educandos procuram uma razão para viver e querem ver em nós essa fome de vida, esta vida que vibra.
Continua Bracco: “No trabalho, muitas vezes ‘vale mais quem faz mais’, e eu posso ficar preso a isso. Mas eu aprendo cada dia mais que o que me move são as pessoas fascinantes, são aquelas que comunicam alguma novidade sobre a vida, são aquelas que me levam para outro lugar. Que me comunicam uma novidade. Amigos, o bom professor é aquele que sabe introduzir, sabe levar ao mistério e não aquele que sabe tudo. Fiquem atentos a isso em suas salas. Sejam livres. Quando queremos ser o centro de tudo escravizamos o outro com aquilo que queremos. Como nos disse o Papa Francisco no dia 7 de março na Praça São Pedro, nos descentralizemos, pois o centro não somos nós, quando isso acontece perdemos o melhor. (...) O centro, quando é um Outro, é libertador. É importante ter um olhar dentro do olhar e entender que a pessoa não acaba em si mesma. Se perguntem: vocês param as pessoas em vocês ou as levam em outros lugares? O educador deve levar o educando para mais além, para perceber o mistério dentro da realidade. O Carrón disse que devemos nos ajudar a acompanhar a todos e ver que inteligência somos chamados a usar, pois nós não sabemos tudo com antecedência. Cada um está em um ponto e queríamos que estivéssemos todos juntos, mas isso não é possível a todos, é preciso paciência. É preciso constantemente uma presença no olhar. Nós não temos instruções detalhadas para uso, como uma grande máquina, precisamos procurar este olhar novo dentro do nosso olhar. Coragem, vocês não estão sozinhos! A misericórdia não olha para o que fazemos de bom ou ruim, mas olha para cada um de nós!”.

(texto publicado em Passos 171, julho 2015)

A seguir, o documento em PDF com as notas do diálogo entre os educadores e o responsável nacional do Movimento.