Bento XVI e Dom Luigi Negri, Bispo de San Marino.

Aquela inquietude que nada consegue preencher

Bento XVI visitou a diocese de San Marino-Montefeltro e encontrou os jovens: as ilusões de quem se contenta e a insatisfação de quem busca a beleza e a verdade. Um jornalista nos conta o que viu
Massimo Pandolfi*

“Mas o que devo fazer para ter a vida eterna?” Esta pergunta que um jovem fez a Jesus, no Evangelho, foi dirigida por Bento XVI aos quatro mil jovens que o esperavam alegres e festivos na praça de Pennabilli, ao término de uma longa e intensa visita pastoral à diocese de San Marino-Montefeltro, na Itália. O Papa não se limitou a perguntar, mas também deu uma resposta a esses jovens, aos quais o bispo Luigi Negri havia pedido uma verificação da fé. E foi uma resposta paterna, que é fruto de uma experiência e não de um discurso ou de uma ideologia.
Gostaria de partir daqui, do final da viagem, pois acredito que esta foi a parte mais intensa de uma jornada especial para os milhares de fiéis, para o Estado, San Marino, e duas regiões italianas (Emilia Romagna e Marche), que por doze horas foram envolvidos em um abraço intenso e comovente ao redor de Ratzinger, que ficou surpreso por este banho de amor.
Certamente Bento XVI também tratou de temas importantes, mais atraente, talvez, para os noticiários dos jornais: a defesa da família em crise e da vida, até mesmo por meio de novas leis que de alguma forma o Papa reivindicou. E depois, a preocupação por uma crescente insegurança,, também no mundo do trabalho. E uma mentalidade dominante que tende “a substituir a fé e os valores cristãos com supostas riquezas, que, no fim, revelam-se inconsistentes”.
Mas não foi só isso. O Papa falou com jovens de 20 anos que têm uma vontade louca de encontrar a felicidade, e que talvez vivam angustiados por diversas confusões e por milhares de tormentos do mundo de hoje. E que pedem algo mais, de mais verdadeiro, maior. Com o coração que deseja apenas escancarar-se à vida.
“As grandes interrogações que carregamos dentro de nós, ‘quem somos?’, ‘de onde viemos?’, ‘para quem vivemos?’, são o sinal maior da transcendência do ser humano e da capacidade que temos de não parar na superfície das coisas”, disse Bento XVI. “E é exatamente olhando para nós mesmos com verdade, com sinceridade e com coragem que intuímos a beleza, mas também a precariedade da vida e sentimos uma insatisfação, uma inquietude que nada de concreto consegue preencher. Caros amigos, convido-vos a tomar consciência desta saudável e positiva inquietude, a não ter medo de vos colocar perguntas fundamentais sobre o sentido e sobre o valor da vida. Não parai nas respostas parciais, imediatas, certamente mais fáceis no momento e mais cômodas, que podem dar algum momento de felicidade, de exaltação, de embriaguez, mas que não vos levam à verdadeira alegria de viver, aquela que nasce de quem constrói – como disse Jesus – não sobre a areia, mas sobre a rocha sólida. Aprendei, então, a refletir, a ler de modo não superficial, mas em profundidade, a vossa experiência humana: descobrireis, com maravilhamento e com alegria, que o vosso coração é uma janela aberta para o infinito! Esta é a grandeza do homem e também a sua dificuldade. Uma das ilusões produzidas no curso da história foi a de pensar que o progresso técnico-científico, de modo absoluto, poderia dar respostas e soluções a todos os problemas da humanidade.”
E o Papa também acrescentou que certas perguntas não podem ser canceladas, pois estão escritas na alma humana e vão além da esfera das necessidades, em qualquer época e em qualquer condição: “Tudo isto vós experimentais continuamente, cada vez que vos perguntais “mas, por quê?”. Quando contemplais um pôr do sol, ou uma música, movem-se em vós o coração e a mente; quando experimentais o que quer dizer amar verdadeiramente; quando sentis com força o sentido da justiça e da verdade”.
A verdadeira questão, para Bento XVI, é a liberdade: “A experiência humana é uma realidade que diz respeito a todos, mas a ela se podem dar diversos níveis de significado. E é aqui que se decide a forma como orientar a própria vida e se escolhe a quem confiá-la, a quem se confiar. O risco é sempre o de permanecer aprisionado ao mundo das coisas, do imediato, do relativo, do útil, perdendo a sensibilidade por aquilo que se refere à nossa dimensão espiritual. Não se trata, de fato, de desprezar o uso da razão ou de rejeitar o progresso científico, mas exatamente o contrário; trata-se muito mais de entender que cada um de nós não é feito somente de uma dimensão “horizontal”, mas compreende também aquela dimensão “vertical”. Os dados científicos e os instrumentos tecnológicos não podem substituir-se ao mundo da vida, aos horizontes de significado e de liberdade, à riqueza das relações de amizade e de amor”.
E somente na “abertura para a verdade inteira de nós e do mundo” é que se pode ver como Deus vem ao nosso encontro: “No Senhor Jesus, que morreu e ressuscitou por nós e nos deu o Espírito Santo, somos mesmos tornados partícipes da vida de Deus, pertencemos à família de Deus. N’Ele, em Cristo, podeis encontrar a resposta para as perguntas que acompanham o vosso caminho, não de modo superficial, fácil, mas caminhando com Jesus, vivendo com Jesus. O encontro com Cristo não se resolve na adesão a uma doutrina, a uma filosofia, mas aquilo que Ele vos propõe é compartilhar a Sua mesma vida e, assim, aprender a viver, aprender o que é o homem, o que sou eu. Para aquele jovem, que Lhe havia perguntado o que fazer para entrar na vida eterna, ou seja, para viver verdadeiramente, Jesus responde, convidando-o a largar os seus bens e acrescenta: “Vem! Segue-me!” (Mc 10, 21). A palavra de Cristo mostra que a vossa vida encontra significado no mistério de Deus, que é Amor: um Amor exigente, profundo, que vai além da superficialidade! O que seria da vossa vida sem este amor? Deus cuida do homem desde a criação até ao final dos tempos, quando levará à realização o seu projeto de salvação. No Senhor Ressuscitado a certeza da nossa esperança! Cristo mesmo é a Palavra definitiva pronunciada sobre a nossa história”.
Ecoa, nos votos que o Santo Padre dirige aos jovens ao término do encontro, aquele “Não tenhais medo” do seu predecessor: “Não temeis enfrentar as situações difíceis, os momentos de crise, as provações da vida, porque o Senhor vos acompanha, está convosco! Encorajo-vos a crescer na amizade com Ele, através da leitura frequente do Evangelho e de toda a Sagrada Escritura, da participação fiel à Eucaristia como encontro pessoal com Cristo, do compromisso no interior da comunidade eclesial, do caminho com uma orientação espiritual válida. Transformados pelo Espírito Santo, podereis experimentar a autêntica liberdade, que é tal quando é orientada para o bem. Deste modo, a vossa vida, animada por uma contínua busca do rosto do Senhor e da vontade sincera de doar-se, será, para tantos de vossos coetâneos, um sinal, um chamado de atenção eloquente a viver de forma tal que o desejo de plenitude que está em todos nós se realize finalmente no encontro com o Senhor Jesus. Deixai que o mistério de Cristo ilumine toda a vossa pessoa! Então, podereis levar aos diversos ambientes aquela novidade que pode mudar as relações, as instituições, as estruturas, para construir um mundo mais justo e solidário, animado pela busca do bem comum. Não cedei à lógica individualista e egoísta! Conforte-vos o testemunho de tantos jovens que atingiram a meta da santidade: pensai em Santa Teresinha do Menino Jesus, em São Domingos Sávio, em Santa Maria Gorete, no Beato Pier Giorgio Frassati, no Beato Alberto Marvelli – que é desta terra! – e em tantos outros, desconhecidos de nós, mas que viveram o seu tempo na luz e na força do Evangelho, e encontraram a resposta: como viver, o que fazer para viver.
Como conclusão deste encontro, quero confiar cada um de vós à Virgem Maria, Mãe da Igreja. Como Ela, possais pronunciar e renovar o vosso “sim” e glorificar sempre o Senhor com a vossa vida, porque Ele vos dá palavras de vida eterna! Coragem, então, caros jovens e caras jovens, no vosso caminho de fé e de vida cristã também eu estarei próximo de vós e vos acompanharei com minha Bênção. Obrigado!”.
Mas vocês acham que aqueles quatro mil jovens que estavam ali na praça de Pennabilli, viverão melhor a partir daquela noite? Eu digo que sim.

* Chefe de redação do jornal italiano "Resto del Carlino"