Papa na Praça São Pedro, dia 6 de novembro.

Feridas e carinho

Texto publicado no site Il Sussidiario no dia 8 de novembro de 2013
Giuseppe Frangi

A foto do Papa Francisco segurando e beijando a cabeça de um doente com neurofibromatose na Praça de São Pedro, vai ser difícil de esquecer. A neurofibromatose é uma doença que provoca o aparecimento de tumores em todo o corpo, os seus efeitos são muito dramáticos para quem sofre. E o Papa, ao se colocar entre aquele fiel e os fotógrafos, parece querer protegê-lo de olhares indiscretos. Assim, a imagem consiste principalmente o gesto de Francisco, que, sem hesitar, atrai para si o doente com um grande abraço cheio de ternura.
"É um gesto que às vezes nem mesmo um pai é capaz de fazer", disse Andrea Rasola, pai de uma menina de oito anos afetada pela mesma doença, em uma entrevista com a revista italiana Vita. Rasola preside uma associação dedicada a esta doença rara: “o Papa Francisco fez o que cada um de nós gostaria de fazer de coração, mas na realidade nem sempre chegamos a fazer. É um gesto maravilhoso."

Podemos fazer muitas reflexões a partir desta imagem. A primeira tem a ver com essa simpatia extraordinária para o ser humano, qualquer que seja a forma que se manifesta, o Papa expressa essa simpatia em todas as suas aparições e comunica ao mundo inteiro. É um Papa que, antes de apontar o caminho, ele mesmo percorre, acolhendo todos que vão ao seu encontro. O segundo ponto diz respeito ao fato de que para o Papa não há distância entre palavras e gestos. Em certo sentido, ele é chamado de Francisco e de fato: como Francisco desmontou do cavalo para dar esmola ao leproso e beijou-lhe a mão, ele também parou para beijar o doente com neurofibromatose. E então, como Francisco, ele "seguiu o seu caminho." O que o Papa diz coincide com o que ele faz, não por um princípio de coerência, mas por um afeto que dá origem sejam seus discursos como suas ações.

A terceira reflexão é a que, pessoalmente, eu levo gravada no coração. Poucas semanas, em sua viagem a Assis, o Papa começou sua visita no Instituto Seráfico para encontras as crianças com deficiência e doentes. Na ocasião, uma mulher, em seu discurso de boas-vindas, disse, "aqui estamos entre as feridas de Jesus, e aquelas feridas que precisam ser ouvidas." Esta observação comoveu o Papa Francisco profundamente, deixando de lado seu discurso preparado e fazendo uma breve reflexão do que tinha ouvido. "Jesus, ao ressuscitar era belíssimo", disse ele. "Ele não tinha marcas em seu corpo dos golpes, feridas... nada. Era mais bonito! Só queria manter as feridas e as levou para o céu. As feridas de Jesus estão aqui e estão no céu com o Pai ".

Para Francisco, as feridas dos homens que sofrem são as feridas que Jesus não desejava remover do seu corpo, mesmo depois da ressurreição. Esta certeza é que faz totalmente humano o gesto do Papa. Não há pietismo nele. Nem sequer é a compaixão que o faz agir assim: é a certeza, mesmo física, de que beijar a cabeça desse doente coincide beijar as feridas de Cristo. "Que Jesus nos diz que essas feridas são suas", disse ele após seu breve discurso, "e nos ajude a expressar, que nós, cristãos, ouvimos."
Com o Papa, o cristianismo é despojado de qualquer abstração e intelectualismo possível. E torna-se um fato real que comove e atinge qualquer um. Como aquele pai disse, depois deste gesto não tinha vontade de fazer discursos, mas ser como ele. De saber dar carinho e, em seguida, "seguir o nosso caminho".