Gill, o advogado dos cristãos

No Paquistão, testemunho de como se vive em meio às perseguições aos cristãos no Oriente Médio
Luca Fiore

Em fevereiro, três homens armados o pararam. “Pare com isso ou haverá consequências...”. Em novembro, tinha escapado de um atentado. Meses antes, a sua casa tinha sido assaltada e o irmão, ferido por um tiro. Agora decidiu mudar com a família de Bhai Pehru para a vizinha Lahore, e pedir oficialmente proteção às autoridades. Sardar Mushtag Mesih Gill, 34 anos, é diretor do grupo de advogados Legal Evangelical Association Development (Lead) e um dos homens mais expostos nas batalhas legais de cristãos acusados de blasfêmia. “Até agora acompanhei quatro casos de blasfêmia e, com ajuda de Deus, consegui todas as vezes a liberdade deles, sob fiança. Outras três vezes, evitamos a prisão”. Gill se define “um advogado ativista” e isso, na sua opinião, lhe permite seguir os casos mais delicados. “Para muitos dos meus colegas, os honorários não valem o risco da vida”.
Sua vocação começou há muito tempo, quando, no curso fundamental, tomou consciência de que era um cidadão de segunda classe. “Havia uma distribuição de água fresca e nos disseram que era só para os muçulmanos. Um colega cristão bebeu e o professor nos convocou: `Eu os respeito e, para mim, vocês são iguais aos outros, mas entre os seus colegas há os que vêm de famílias que pensam de modo diferente’”.
Já estava formado em Engenharia eletrônica quando, por três vezes, foi-lhe negado emprego porque tinha um nome cristão: “Mesih”, em urdu, significa “Cristo”. Voltou a estudar para se tornar advogado. “A nossa Constituição, no artigo 19, diz que há liberdade de expressão para todos os cidadãos. Mas é um direito sujeito a ‘restrições razoáveis impostas pela lei para a glória do Islã“.
Foi aos funerais das catorze vítimas do atentado de 15 de março às duas igrejas de Lahore. Conta que, logo após as explosões, a polícia havia prendido dois suspeitos do atentado e os havia fechado dentro de uma caminhonete. Mas a multidão arrombou o veículo e acabou matando os dois muçulmanos, queimando seus cadáveres. “No Parlamento se disse que a reação dos cristãos foi um ato de terrorismo mais grave do que o ato que a provocou. Uma coisa doida. Se os responsáveis são cristãos, é algo realmente atroz; mas trata-se de represália, não de terrorismo. É por isso que devem ser processados, não por outra coisa”. Gill não justifica o ato. “Sinto vergonha do que aconteceu, porque nós, cristãos, devemos ser a favor da paz, não da violência. Somos pelo amor. Só Jesus foi capaz de amar os outros e nós, por isso, procuramos segui-Lo. É a fé que me dá confiança e me dá a coragem de continuar a viver neste país. É Jesus mesmo que nos avisou: seremos odiados por causa do Seu nome e pela nossa fé n’Ele”.
Gill é protestante, mas quando leu as palavras pronunciadas na Páscoa pelo Papa ficou consolado: “É belo ver que ele está do nosso lado: nos faz sentir que há alguém que se interessa por nós. E nos encoraja”.