Mil anos de afastamento

O abraço entre Papa Francisco e o Patriarca Kirill, ocorrido em Cuba no dia 12 de fevereiro de 2016, marca um novo capítulo na História
Luca Fiore

988 A Rússia de Kiev, reino medieval, se converte ao cristianismo, através da Igreja de Bizâncio, e entra na sua esfera de influência, embora fazendo parte da Igreja ainda indivisa. Foi influenciada pelos humores antilatinos de Constantinopla, mas a distância geográfica não oferece motivos de conflito direto por pelo menos cinco séculos.

1054 Cisma do Oriente: Roma e Constantinopla rompem a comunhão eclesial; o Papa e o Patriarca aplicam excomunhões mútuas. Os motivos do contraste são principalmente o Filioque, a doutrina sobre o Purgatório, as Sagradas Espécies e, sobretudo, o Primado papal.

1204 A Quarta Cruzada, convocada por Inocêncio III, ao invés de se dirigir a Jerusalém conquista e saqueia Constantinopla, capital do Império cristão do Oriente. O saque é brutal, não poupa igrejas nem mosteiros. Deixará uma lembrança sangrenta entre as duas Igrejas. A Igreja russa ressente-se disso só indiretamente.

1439 Concílio de Ferrara-Florença: nova tentativa de reunião, depois de aprofundadas reflexões teológicas que levam à unidade dogmática e à autonomia litúrgica. O Acordo de união é assinado, mas quando voltam para a Pátria, dois terços dos delegados bizantinos se retratam, e o delegado russo é preso pelo czar.

1453 Queda de Constantinopla, evento que interrompe a ligação física e política entre o Oriente e o Ocidente cristãos.

1589 A sede metropolitana de Moscou é elevada a Patriarcado, separando-se de Constantinopla. O Patriarcado russo será abolido por Pedro o Grande, em 1721, e substituído pelo Santo Sínodo, órgão presidido por um leigo. O Patriarcado será restaurado só em 1918, depois de iniciada a revolução.

1596-1859 Nascem as "Igrejas unidas". Em seguida, devido a crises internas em sua Igreja e por força de pressões políticas, alguns Bispos ortodoxos passam, com suas dioceses, para a jurisdição de Roma, mantendo o rito bizantino. A separação provocou uma ferida, aberta até hoje.

1946 Sob pressão de Stalin, em Vov (Ucrânia) acontece um falso Concílio que dissolve a Igreja greco-católica e a faz confluir para a Igreja ortodoxa. Seguem-se fortes perseguições aos greco-católicos. A Igreja de Moscou aceita a expropriação de seus bens. Aprofunda-se a hostilidade entre as duas Igrejas.

1964-1965 Reaproximação entre Roma e Constantinopla: Atenágoras e Paulo VI se encontram pela primeira vez desde o Cisma, e revogam as recíprocas excomunhões. No decreto Unitatis Redintegratio é introduzido o termo "Igrejas irmãs".

1988 Liberalização religiosa na URSS de Gorbachov, no milésimo aniversário do início do cristianismo na Rússia. A Igreja greco-católica na Ucrânia pede a legalização.

1991 Na Ucrânia, os greco-católicos retomam as igrejas sequestradas em 1946. João Paulo II institui nove dioceses católicas na Rússia. Tudo isso produz um esfriamento das relações com o ortodoxos.

2000 Por ocasião do Jubileu da Redenção, João Paulo II cunha a expressão "coliseus do século XX" e lembra o martírio das Igrejas. Pela primeira vez se fala em "ecumenismo do sangue".