Cláudio Pastro diante da Porta Santa de Aparecida.

A Porta Santa de Aparecida do Norte

No Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a Porta Santa para o Jubileu da Misericórdia contém representações da Anunciação, do Bom Pastor e da parábola do Filho Pródigo. Um convite a renovar a nossa fé, testemunhando a nossa conversão
Cláudio Pastro

A Porta Santa da Basílica Nacional de Nossa Senhora de Aparecida foi inaugurada e aberta a 13 de dezembro de 2015, por ocasião do Ano Santo da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco, e será fechada a 20 de novembro de 2016, na festa do Cristo Rei.
A abertura da Porta Santa, ocorrida em uma cerimônia presidida pelo Cardeal Arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, marcou o início do Ano Santo Extraordinário do Jubileu da Misericórdia. Em princípio, no calendário judaico e cristão, o Ano Santo ou Sabático era celebrado de 7 em 7 anos. Repetindo-se a cada 7 anos, permitia os campos descansarem a terra, os pobres trabalhadores repousarem e os escravos se libertarem (Ex 23/10; Dt 5,4-8; Lv 25,8 e 27-44). Quando os cristãos celebram o Dia do repouso do Senhor e de toda a criação, de 7 em 7 dias, dão a devida dignidade a tudo e a todos. “E Deus viu que tudo o que tinha feito era muito bom” (Gn 1,31). Surgiu o Sábado, o Domingo, o Ano Santo como tempo de volta às fontes da vida, tempo de reflexão, de perdão e de conversão. O Domingo passou a ser a Pequena Páscoa, Dia Santo.

O que é a Porta Santa? A porta de uma capela, igreja, catedral ou basílica é, simbolicamente, Jesus Cristo. Como o Altar, o Ambão, a Sédia, a Fonte Batismal... a Porta é um “sacramento”, isto é, lugar de passagem = Páscoa. Por ela passamos para uma vida nova. Por essa porta passamos da “Babilônia externa”, lugar de confabulações, de tramas humanas para a “Nova Jerusalém”, espaço do Eterno. Aqui saboreamos por antecipação a Casa do Pai (Seu Reino), pois nos encontramos com Jesus Cristo.
O próprio Senhor Jesus é quem nos diz: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo, entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Igualmente, o Senhor nos diz: “Eis que pus uma porta aberta diante de ti, a qual ninguém pode fechar” (Ap 3,8). Ainda, Ele nos diz: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20).
Cristo, qual Novo Adão, abriu-nos a Porta do Paraíso.
A Porta Santa vem de uma antiga tradição na Igreja. Ela é aberta de 50 em 50 anos ou de 25 em 25 anos e, ainda poderá ser aberta, extraordinariamente, como neste Ano Santo da Misericórdia (2015-2016) por proposta do Papa Francisco.
Segundo a carta do Papa Francisco a Dom Rino Fisichella, presidente do pontifício conselho para a promoção da nova evangelização, se concede a indulgência para o Ano Santo “aos fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, aberta em cada Catedral ou nas igrejas estabelecidas pelo Bispo diocesano, e nas quatro Basílicas Papais em Roma, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão”.
As condições habituais para a concessão de tais indulgências são a profissão de fé e a oração pelo Papa e pelas suas intenções, além de realizar também a confissão e a comunhão sacramental.
Nestas páginas, os detalhes da Porta Santa da Basílica de Nossa Senhora de Aparecida, que é toda feita em bronze e pesa 4,5 toneladas.

A face interna é composta dos seguintes elementos:
No lado esquerdo, representação da Lua, do Filho Pródigo e do Salmo 122
A Lua é o reflexo de Deus em nós. Quando desesperamos, sem saída, O buscamos, desejamos voltar para Ele, nosso princípio e fim.
O Filho Esbanjador ou o Pai Misericordioso (Lc 15,11-32)
O filho depois de esbanjar os bens paternos e levar uma vida depravada, arrependido, deixa esta vida (os porcos) e volta à Casa Paterna. O Pai o acolhe e o abraça com amor e alegria; está sempre pronto a recebê-lo e a devolver-lhe a dignidade de Filho.
A misericórdia de Deus-Pai é incomensurável.
O Pai tem numa mão o anel da Reconciliação, da Nova Aliança, com o símbolo-letra hebraica (Sinal) do Senhor e Pai. O Filho receberá esse anel, roupa e sandálias novas como participante dos bens paternos.
O Salmo 122 expressa nossa alegria e felicidade em sermos peregrinos cada vez que voltamos ao centro da nossa fé, o Santuário, imagem da Cidade Santa,Jerusalém, nossa verdadeira morada.
“Alegrei-me quando me disseram: vamos para a casa do Senhor. Nossos pés se detêm às suas portas, Jerusalém.”

No lado direito aparece o Sol, o Bom Pastor e o Salmo 99
- O Sol é uma imagem do Divino. O Senhor é o princípio de tudo. É sempre Deus que toma a iniciativa.
- Jesus é o Bom Pastor, o Belo e Eterno Pastor. Logo depois da desobediência, do pecado, é o Senhor quem se volta e busca o homem. “Adão, Adão onde estás?” (Gn 3,9). Jesus (Deus e homem) é o Pastor que busca a ovelha perdida, é o Pastor quem se volta e nos procura lá onde os espinhos nos prendem e sufocam e nos traz para os seus cuidados. “Senhor, volta-te para mim e tende piedade de mim” (Sl 25,16)
- O Salmo 99 expressa que somos propriedade do Senhor. Ele cuida de nós e, portanto, nada tememos. “Sabei que o Senhor é Deus, Ele nos fez, a Ele pertencemos, somos o seu povo, ovelhas do seu rebanho.”

A face externa da porta representa a Anunciação do Senhor à Virgem Maria (Lc 1,26-38)
No lado esquerdo o Arcanjo Gabriel, o enviado por Deus à Virgem Maria, oferece-lhe o coração (a Misericórdia do Pai à humanidade = Jesus Cristo) anunciando-lhe que será Mãe do Salvador.
No lado direito aparece Maria que responde: Fiat (Faça-se) . Maria é a mulher vazia de si mesma que é chamada pelo Arcanjo Gabriel “cheia de graça”. Na realidade, Maria se deixou preencher só pela Palavra de Deus. Céu e Terra geraram Jesus, o Salvador. Assim também nós passamos a ser chamados Filhos de Deus, cristãos, “outros cristos”.

(texto publicado na edição 180 de Passos, maio/2016)