Passos N. 226, Julho 2020

Novos caminhos

Na era da pandemia, os hábitos foram pelos ares, um após o outro. E mesmo estes meses experimentarão um estranho entrelaçamento de compromissos a serem recuperados e pausas forçadas, encontros via “zoom”, férias (para quem as possui) ou trabalho (para quem não o perdeu), à sombra de uma situação que continua muito difícil. Em todos, no entanto, é fácil apostar que a tensão positiva que já vemos terá força ainda maior, e que no final é resumida em uma palavra declinada de várias maneiras: “Recomeçar”. Todo mundo interpreta isso à sua maneira, e há também quem, com razão, veja certos limites (se você recomeça sem saber para onde ir ou apenas volta ao “antes”, para que terá servido esse tempo?), mas no fim é o que melhor expressa a urgência de um caminho.

Não é absolutamente seguro que se possa seguir facilmente seus próprios planos. No entanto, paradoxalmente, a liberdade é ainda mais chamada em causa. Ao recomeçar, nesse contexto, não há nada automático ou voluntarista. Não basta esperar a ajuda e as medidas de outra pessoa (ainda que necessárias), mesmo que seja sua a responsabilidade por isso. Mas multiplicar seus esforços e iludir-se de que você pode fazer isso sozinho não é suficiente. Pelo contrário, o reinício será uma oportunidade para ver se o nosso humano foi realmente despertado nos últimos meses. Para ver se a liberdade, de fato, aceita plenamente o desafio de responder ao chamado de uma realidade que nunca foi tão pró-vocativa. Se ela se move para procurar novos caminhos, para tecer relacionamentos inéditos, para se fazer perguntas não óbvias.

O Meeting de Rímini, a tradicional manifestação cultural de agosto, no verão europeu, está tentando do seu jeito. Para muitos dos nossos leitores este é um evento conhecido, pois já são mais de quarenta anos, e sempre relatamos os principais eventos daquela semana de encontros e de vida, na qual muitas vezes se sai mudados. Porém, neste ano, devido à pandemia, somos convidados a assistir o que irá ocorrer de um modo totalmente novo também ali: transmissões ao vivo, os voluntários, as exposições. Tudo diferente, “exceto o coração”, como nos diz, numa entrevista, Bernhard Scholz. O (novo) presidente do Meeting fala dos desafios desta edição que tem como título: “Sem maravilhamento, ficamos surdos ao sublime”.
Nas próximas páginas também contamos outras histórias de “recomeço”, e também compartilhamos o juízo e a avaliação do Dr. Alexandre Ferraro, da Faculdade de Medicina da USP, realizada numa live em meados de junho sobre a pandemia no Brasil.
Boa leitura!