Passos N.119, Setembro 2010

Paixão pela liberdade e pelo bem comum

“As circunstâncias pelas quais Deus nos faz passar são fator essencial e não secundário da nossa vocação, da missão a que Ele nos chama. Se o cristianismo é anúncio do fato de que o Mistério se encarnou num homem, a circunstância pela qual alguém toma posição a esse respeito, frente a todo o mundo, é importante para a própria definição do testemunho.” (Luigi Giussani, L’uomo e il suo destino. Gênova, Marietti, 2002, p. 63

Cada circunstância é uma provocação que nos solicita a considerar o que temos de mais caro na nossa vida.
Por causa disso, tudo nos interessa!Também a política, que é o instrumento que os homens têm para juntos alcançarem o bem comum, o bem para todos.
Busquemos nestas eleições reacender esse desejo de bem primeiro em nós, cada vez mais tomados pelo individualismo. E depois trabalhemos para construir relacionamentos com pessoas (políticos e não) que procurem esse mesmo horizonte, que sejam pessoas desejosas de servir a um povo e não aos próprios interesses.
A primeira vitória nestas eleições é que comece em nós uma inquietação – um não ficar tranquilos – não causada pela raiva ou pelo mal-estar decorrente da falta de uma classe política adequada, mas pelo desejo de que os homens possam encontrar uma experiência de bem. Que esse desejo nos coloque ao trabalho pessoalmente, não delegando-o a outros, mas construindo onde quer que estejamos um pedaço de mundo novo.

1) Não pedimos a salvação à política, não é aí que buscamos a esperança para nós e para os outros. A tradição da Igreja sempre indicou dois critérios ideais para julgar qualquer autoridade civil e qualquer proposta política:
a. A libertas Ecclesiae. Um poder que respeita a liberdade de um fenômeno tão sui generis como a Igreja é também tolerante com qualquer outra autêntica agregação humana. O reconhecimento do papel público da fé e da contribuição que ela pode dar no caminho dos homens é, portanto, garantia de liberdade para todos, não só para os cristãos.
b. O “bem comum”. O poder, como serviço ao povo, defende as experiências nas quais o desejo do homem e a sua responsabilidade podem crescer em função do bem comum, através da construção de obras sociais e econômicas, segundo o princípio da subsidiariedade, sabendo que nenhum programa poderá garantir a realização do bem comum em termos definitivos, por causa do limite intrínseco a toda tentativa humana.
2) Por essa razão, damos nossa preferência a quem promove uma política e modo de ser do Estado que favorece a “liberdade” e o “bem comum”,e que por isso pode sustentar a esperança do futuro, defendendo a vida, a família, a liberdade de educar e de realizar obras que encarnem o desejo do homem. Fazemos isso num momento histórico que exige não desperdiçar o voto, para não acrescentar mais confusão ao que já está confuso.
De maneira especial, convidamos a olhar para alguns amigos que, a partir do empenho pessoal com a experiência cristã que temos em comum, já demonstraram lutar por uma política a serviço do bem comum, da subsidiariedade e da libertas Ecclesiae. Esperamos que eles possam continuar a documentar a novidade que entrou em suas vidas, como nas nossas, a fim de que sua ação possa tornar cada vez mais explícito o fruto da educação que recebemos: uma paixão pela liberdade e pelo bem vivida como caridade.